São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

G20, G7, gemidos e mistificações


O único "G" que importa é o original, os cinco países mais ricos, que talvez ainda inclua a China; o resto é chororô

O G20 PEDE isso. O G7 recusa aquilo. Os emergentes não querem tomar parte das reuniões do G7 só na hora do café, como se queixa Lula. E daí? E daí, nada. A maior parte da conversa sobre G-isso ou G-aquilo é jogo para a galera.
Trata-se de rótulos de uso na mídia e, na política, para o público externo.
O "G" relevante no que diz respeito a finanças e economia é o de sempre, o dos cinco países do G5 original, que talvez venha a incluir a China -se a China quiser, aliás. Quem fica a gemer e a pedinchar cadeiras em reuniões não apita nada, nem tem poder e dinheiro para tanto.
Em março de 1973, os ministros de Finanças de Reino Unido, Alemanha e França foram convidados pelo secretário do Tesouro dos EUA para uma reunião na biblioteca da Casa Branca. Tratariam dos efeitos da instabilidade monetária em parte resultante do fim do "Sistema de Bretton Woods", ferido de morte por decisão unilateral dos Estados Unidos em 1971 e morto em 1973.
Era o "Grupo da Biblioteca". Na reunião do FMI de setembro de 1973, os ministros de Finanças e os presidentes de BCs desses quatro países formaram com seus colegas japoneses o Grupo dos Cinco, o G5.
A idéia original do G5 era fazer reuniões longe da imprensa para tratar de assuntos de gente grande, sem dar satisfação imediata ao público. Na primeira metade dos anos 80, o G5 se encontrava para cuidar de alta do dólar, câmbio instável, comércio transatlântico, do crescente déficit externo americano e de sua contraparte, o superávit japonês.
A primeira reunião do G5 anunciada com antecedência e a primeira a prever uma entrevista coletiva no final foi a que resultou no chamado "Acordo do Plaza", nome do hotel de Nova York que sediou a reunião onde seriam decididas intervenções coordenadas no câmbio. Em 1986 seria "oficializado" o G7. Em 1987, haveria uma reunião do G7 também famosa, a do "Acordo do Louvre", que pretendia estabilizar as taxas de câmbio de então e coordenar políticas macroeconômicas. Na verdade, tratava-se de uma reunião do G5 seguida de outra do G7, para incluir os primos menores Itália e Canadá. A Itália se sentiu esnobada e não foi.
A breve história é para dizer que tais reuniões importam quando a finança e as autoridades de países de peso tratam de tomar medidas de seu interesse. Não há hipótese de submeterem suas instituições financeiras e acordos ao palpite de quem não tem cacife para influenciar o jogo. Pior: após a liberalização financeira, tornou-se ainda mais relativo o poder de governos ricos diante da brutalidade dos fluxos de capital. Nos anos 90, as reuniões do G7 tornaram-se menos relevantes e mais midiáticas, com a exceção do período das crises asiática e russa.
Sim, o mundo mudou, países "em desenvolvimento" "emergiram" e suas economias têm mais peso no PIB mundial. Mas poucas têm tamanho para causar estragos voluntários ou dinheiro para influenciar decisões -a China, por exemplo, tem.
Os emergentes têm mais peso no debate comercial. Mas, no máximo, como se vê na Rodada Doha, empatam um jogo sem fim. No caso dos "Gs" políticos, importa ainda quem pode cortar o gás da Europa ou dar tiros nucleares, como a Rússia. O resto é coadjuvante menor, muito menor.

vinit@uol.com.br


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