São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 2008

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Déficit comercial com a China deve aumentar no ano que vem

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O déficit comercial do Brasil com a China, de US$ 2 bilhões, deve aumentar no ano que vem, com a queda nos preços internacionais da soja e do ferro. Apesar do pacotão de investimentos anunciado no domingo pelo governo chinês, produtos brasileiros enfrentam barreiras crescentes na potência asiática.
Empresários brasileiros ouvidos pela Folha reclamam que a China mantém uma relação "colonial" com o Brasil. Quase 100% das exportações chinesas ao Brasil são de produtos industrializados, mas a China só importa matérias-primas (2/3 das exportações brasileiras para o país são de soja e minério de ferro).
"Há um paredão tarifário. Se exportamos uma matéria-prima, a alíquota para entrar na China é zerada, mas se o produto é industrializado, o imposto sobe para 30, 40%", afirma o vice-presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp, Carlos Antonio Cavalcanti, que dirige a maior associação de um dos setores "barrados", o de pedras e granitos.
Para piorar, a associação que reúne as maiores siderúrgicas chinesas anunciou um boicote ao minério de ferro da Vale por não aceitar um reajuste de 11%, que faria os chineses pagarem o mesmo preço que os europeus pagam pelo mineral. A Vale exporta US$ 900 milhões em ferro ao país.
O Brasil exporta ferro, mas importa trilhos da China. Mais da metade dos trilhos para ferrovias usados no país são importados da China. Uma tonelada de trilhos custa cerca de US$ 850. Para se fazer essa tonelada na China, os asiáticos importam o equivalente a 1,8 tonelada de ferro do Brasil, que custa US$ 110.
Inicialmente, a China importava óleo de soja do Brasil. Hoje importa o grão e o industrializa. Acontece o mesmo com o café solúvel.

Carne barrada
Os frangos e a carne suína do Brasil são proibidas de entrar na China. As negociações se arrastam desde outubro de 2004. "As exigências mudam a cada visita que fazemos aos chineses. É incompreensível a resistência em dar as licenças de importação para o frango brasileiro: 22 fábricas brasileiras estão habilitadas desde 2006, mas não conseguem exportar", reclama o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango, Christian Lohbauer.
O impasse também acontece com a carne suína. Há cerca de 2 anos ocorreu uma grave epidemia na suinocultura e a China precisou passar a importar carne de porco. No ano passado, o preço dessa carne, base da culinária chinesa, aumentou 60%. Os chineses compram o que falta dos Estados Unidos.
"Sinto que com os chineses ocorre do jeito que eles querem na hora que querem. É devagar, frustrante", diz Pedro Camargo, da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs).
O setor de granito e pedras decorativas, que exportou em 2007 US$ 1,1 bilhão, também enfrenta travas. Cerca 80% das exportações brasileiras de granitos ao resto do mundo são de produtos industrializados no Brasil. A China importa por ano cerca de US$ 100 milhões de blocos de granito do Brasil, com alíquota zerada. Mas se o Brasil quer vender a chapa polida, o imposto de importação chinês salta para 24%. "Vendemos para 120 países material industrializado, menos para a China", reclama Cavalcanti.

2º maior parceiro
A China ultrapassou a Argentina neste ano e já é o segundo maior parceiro comercial do Brasil (exportações + importações) e deve se tornar o primeiro entre 2010 e 2011. O Brasil é o nono maior fornecedor das importações feitas pela China. Entre 2001 e 2006, o Brasil tinha pequenos superávits comerciais com a China.
Em 2007, o país exportou US$ 10,7 bilhões para a potência asiática e importou US$ 12,6 bi. Entre janeiro e setembro deste ano, exportou US$ 13,7 bi e importou US$ 14,85 bi.
O Ministério do Comércio da China não retornou os pedidos da reportagem para comentar as críticas dos empresários brasileiros.


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