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Déficit comercial com a China deve aumentar no ano que vem
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
O déficit comercial do Brasil
com a China, de US$ 2 bilhões,
deve aumentar no ano que
vem, com a queda nos preços
internacionais da soja e do ferro. Apesar do pacotão de investimentos anunciado no domingo pelo governo chinês, produtos brasileiros enfrentam barreiras crescentes na potência
asiática.
Empresários brasileiros ouvidos pela Folha reclamam
que a China mantém uma relação "colonial" com o Brasil.
Quase 100% das exportações
chinesas ao Brasil são de produtos industrializados, mas a
China só importa matérias-primas (2/3 das exportações
brasileiras para o país são de
soja e minério de ferro).
"Há um paredão tarifário. Se
exportamos uma matéria-prima, a alíquota para entrar na
China é zerada, mas se o produto é industrializado, o imposto sobe para 30, 40%", afirma o vice-presidente do Conselho de Comércio Exterior da
Fiesp, Carlos Antonio Cavalcanti, que dirige a maior associação de um dos setores "barrados", o de pedras e granitos.
Para piorar, a associação que
reúne as maiores siderúrgicas
chinesas anunciou um boicote
ao minério de ferro da Vale por
não aceitar um reajuste de 11%,
que faria os chineses pagarem
o mesmo preço que os europeus pagam pelo mineral. A
Vale exporta US$ 900 milhões
em ferro ao país.
O Brasil exporta ferro, mas
importa trilhos da China. Mais
da metade dos trilhos para ferrovias usados no país são importados da China. Uma tonelada de trilhos custa cerca de
US$ 850. Para se fazer essa tonelada na China, os asiáticos
importam o equivalente a 1,8
tonelada de ferro do Brasil, que
custa US$ 110.
Inicialmente, a China importava óleo de soja do Brasil.
Hoje importa o grão e o industrializa. Acontece o mesmo
com o café solúvel.
Carne barrada
Os frangos e a carne suína do
Brasil são proibidas de entrar
na China. As negociações se arrastam desde outubro de 2004.
"As exigências mudam a cada
visita que fazemos aos chineses. É incompreensível a resistência em dar as licenças de
importação para o frango brasileiro: 22 fábricas brasileiras
estão habilitadas desde 2006,
mas não conseguem exportar",
reclama o diretor-executivo da
Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de
Frango, Christian Lohbauer.
O impasse também acontece
com a carne suína. Há cerca de
2 anos ocorreu uma grave epidemia na suinocultura e a China precisou passar a importar
carne de porco. No ano passado, o preço dessa carne, base da
culinária chinesa, aumentou
60%. Os chineses compram o
que falta dos Estados Unidos.
"Sinto que com os chineses
ocorre do jeito que eles querem
na hora que querem. É devagar,
frustrante", diz Pedro Camargo, da Associação Brasileira da
Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs).
O setor de granito e pedras
decorativas, que exportou em
2007 US$ 1,1 bilhão, também
enfrenta travas. Cerca 80% das
exportações brasileiras de granitos ao resto do mundo são de
produtos industrializados no
Brasil. A China importa por ano
cerca de US$ 100 milhões de
blocos de granito do Brasil, com
alíquota zerada. Mas se o Brasil
quer vender a chapa polida, o
imposto de importação chinês
salta para 24%. "Vendemos para 120 países material industrializado, menos para a China", reclama Cavalcanti.
2º maior parceiro
A China ultrapassou a Argentina neste ano e já é o segundo
maior parceiro comercial do
Brasil (exportações + importações) e deve se tornar o primeiro entre 2010 e 2011. O Brasil é
o nono maior fornecedor das
importações feitas pela China.
Entre 2001 e 2006, o Brasil tinha pequenos superávits comerciais com a China.
Em 2007, o país exportou
US$ 10,7 bilhões para a potência asiática e importou US$ 12,6
bi. Entre janeiro e setembro
deste ano, exportou US$ 13,7 bi
e importou US$ 14,85 bi.
O Ministério do Comércio da
China não retornou os pedidos
da reportagem para comentar
as críticas dos empresários brasileiros.
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