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agrofolha
Crise freia projetos de expansão de álcool
Ao menos 47 planos de novas usinas foram adiados devido à falta de crédito e pelo temor de recessão econômica global
No ano passado, havia a estimativa no setor de
que 140 usinas seriam implantadas até 2015, mas a previsão caiu para 93
ELVIRA LOBATO
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A crise global impôs um novo
freio nos projetos de expansão
da produção de açúcar e de álcool. Segundo cálculos do setor,
pelo menos 47 projetos de implantação de novas usinas foram adiados. No ano passado,
havia a estimativa de que 140
usinas seriam implantadas até
2015. A previsão caiu para 93.
A maioria dos projetos em fase inicial foi suspensa à espera
de que o cenário econômico fique mais claro. O grupo Rede
Energia (dono de nove distribuidoras de energia elétrica)
planejava construir duas usinas de álcool em Mato Grosso
do Sul, para entrarem em operação em 2011 e em 2012, com
capacidade para moagem de 5
milhões de toneladas de cana e
investimento de R$ 1 bilhão.
Um dos projetos foi adiado,
segundo José Carlos Constanzo, vice-presidente do grupo.
"Fica difícil viabilizar um investimento de tal porte neste
momento de crise."
Segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Açúcar e
de Álcool de Minas Gerais, Luiz
Custódio Cotta Martins, de 12
projetos já aprovados pelo governo do Estado, 6 estão sendo
postergados.
"As empresas que ainda não
encomendaram o maquinário
nem garantiram a fonte de financiamento vão esperar o desenrolar da crise para reavaliar
suas decisões", afirma Martins.
É o caso da Usina Alvorada,
de Araporã (MG). A empresa
estava providenciando as licenças para implantação de nova
unidade -com capacidade inicial de moagem de 1,5 milhão
de toneladas de cana-, no município vizinho de Tupaciguara,
quando explodiu a crise.
O presidente da empresa,
Alexandre Pirillo Franceschi,
conselheiro da Coopersucar,
diz que parte dos recursos para
o projeto depende de investidores estrangeiros, e eles refluíram. "A crise trouxe fatores positivos e negativos que ainda
não estão bem dimensionados.
Com os níveis atuais dos preços
do petróleo, o álcool perde
competitividade na exportação. A restrição ao crédito e o
aumento dos juros também
afetam negativamente, mas a
desvalorização do câmbio torna a exportação de açúcar mais
competitiva. É preciso ver o
que vai pesar mais na balança."
O setor enfrentou preços deprimidos na safra 2007/8, e foi
apanhado pela crise internacional quando estava com margem de lucratividade muito estreita, segundo avaliação do
BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social). A média dos preços
reais do açúcar cristal, do álcool
anidro e do álcool hidratado pagos ao produtor no ano passado
foi a menor desde a safra 1999/
2000, considerada a mais crítica da história recente do setor.
Por conta disso, várias empresas já estavam propensas a
adiar os projetos de expansão
quando começou a crise.
Cooperativas
No Paraná, duas cooperativas adiaram projetos de implantação de usinas de açúcar e
de álcool: a Corol (Cooperativa
Agroindustrial de Rolândia) e a
Coopcana (Cooperativa Agrícola Regional de Cana).
O da Coopcana é uma unidade com capacidade inicial de
moagem de 1,5 milhão de toneladas. Anísio Tormena, diretor
da cooperativa, diz que o projeto começou a ser desenvolvido
em 2007. "Pretendíamos deslanchá-lo em 2009, mas já adiamos para 2010. Falta capital de
giro, a exportação de álcool para a Europa e para os EUA parou. Os custos dos insumos aumentaram muito. O adiamento
é uma decisão óbvia."
O presidente da Corol, Eliseu
de Paula, diz que a construção
da usina é necessária para a diversificação da produção agrícola na região de Londrina.
"Estávamos buscando financiamento com agentes internacionais. Ficamos temerosos de
levar o empreendimento, de R$
250 milhões, adiante neste momento. Os bancos também nos
recomendaram o adiamento.
Vamos empurrá-lo para 2010
ou 2011."
Levantamento
A quantificação dos projetos
adiados foi feita pela publicação especializada "Jornal Cana", de Ribeirão Preto, para o
próximo anuário do setor, a ser
divulgado no final do mês.
Segundo o presidente da publicação, Josias Messias, as empresas prevêem que 28 novas
usinas entrarão em operação
durante o ano que vem, e que
29 entrariam em operação em
2010.
Já a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) diz
que 32 projetos entrariam em
operação nesta safra, mas 10
sofreram atraso. Messias acredita que, dentre as que anunciaram o início das atividades
para 2009, 8 não chegarão a
moer cana durante o ano.
Sobre a viabilidade das projeções para 2010, ele considera
ser uma incógnita.
"Cada safra é uma história. A
de 1999/2000 foi a pior da história recente do setor, e a seguinte, de 2000/1, foi a melhor,
porque muitas usinas quebraram, faltou cana e o mercado
consumidor cresceu. O produtor recebeu R$ 1 pelo litro de álcool naquele ano. Esse preço
nunca mais se repetiu."
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