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ARTIGO
Só para o FMI ver
LUIZ LEMOS LEITE
A reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, com
53% da preferência dos eleitores,
foi inferior aos 58% da eufórica expectativa criada pelas pesquisas de
opinião e pela própria equipe do
governo. Para muitos, esse resultado significou uma advertência de
que a sociedade não mais tolera
atrasos nas reformas estruturais. A
sua postergação expõe a economia
brasileira aos caprichos e devaneios do capital especulativo internacional.
De qualquer maneira, a vitória
do presidente nas urnas foi expressiva, imputando-lhe responsabilidades redobradas em seu segundo
mandato, no qual ele não pode repetir o erro cometido em sua primeira administração, quando perdeu a oportunidade histórica de
realizar a modernização do arcabouço legal que rege a economia,
imprescindível à sobrevivência do
Real e à consolidação da estabilidade.
Tivesse Fernando Henrique conseguido concluir as reformas há
cerca de dois anos, não teria agora
de baixar mais um pacote fiscal de
emergência, com efeitos recessivos
e que desagradou praticamente a
todos os setores, incluindo empresários e trabalhadores. Os aumentos de CPMF e Cofins, somados à
estratosférica taxa de juros, caem
como uma bomba sobre os setores
produtivos, permitindo, sem grande esforço de raciocínio, vaticinar
um Ano Novo com velhos problemas, agravados pela crise mundial.
O fato de não ter feito a principal
lição de casa, representada pelas
reformas e pela redução drástica
do déficit público, tem levado o governo a adotar medidas duras.
Ajuste fiscal, no Brasil, tem sido sinônimo de aumento de impostos.
O curioso é que se multiplica, a cada pacote, a carga tributária imposta à sociedade, enquanto o governo produz um déficit público
interno de 7% do PIB e um déficit
externo (balança de pagamentos)
de 4,5% do PIB, consumindo as
poupanças que deveriam ser direcionadas a investimentos do setor
privado, para estimular o crescimento econômico e gerar empregos.
As novas medidas fiscais anunciadas pelo governo - é importante frisar - superpõem-se a outros frustrantes ajustes que vêm
sendo realizados periodicamente.
Merece destaque o famoso "pacote
51", decretado pela lei 9.532, de 10
de dezembro de 1997 -arrogante,
inconstitucional e arbitrário, como muitas medidas do democrático governo FHC. Como sempre,
dentre as medidas previstas só vigorou, mesmo, a elevação da carga
tributária.
Porém o que a sociedade deseja é
uma verdadeira e eficiente reforma
fiscal-tributária, para equilibrar as
receitas e despesas do setor público, de preferência cortando gastos
e reduzindo o tamanho do Estado.
Esse é o maior desafio da economia brasileira a ser enfrentado
com determinação e coragem, independentemente de acordos com
o FMI e os governos dos países ricos, o chamado G-7.
Não é justo para os setores produtivos e tampouco saudável para
a economia nacional que a sociedade continue pagando a conta de
um Estado jurássico e deficiente. A
lista de tributos no país já é ampla e
sufocante. A CPMF, agora aumentada pelo novo pacote, é um imposto perverso e altamente regressivo, pois atinge a poupança e o
processo de produção e comercialização de bens e serviços, onerando o custo dos produtos brasileiros
e aumentando suas desvantagens
competitivas em relação aos estrangeiros.
Efetivamente, não são pacotes
equivocados que irão oferecer ao
Brasil o necessário poder de recuperação diante da sistêmica crise
global. O potencial econômico do
país permanece forte: enorme
mercado competitivo para bens de
capital e consumo e a promessa de
uma safra de 85 milhões de toneladas de grãos.
No entanto, para que esse potencial se materializasse em crescimento, geração de empregos e desenvolvimento, o governo teria de,
corajosamente, equilibrar suas
contas sem aumentar impostos,
baixar os juros e reduzir os altos
índices de esterilização dos recursos captados pelo sistema financeiro, compulsoriamente recolhidos
ao Banco Central.
Essas providências, ousadas e
pouco ortodoxas, mas verdadeiramente democráticas, pois afinadas
com os anseios da sociedade, injetariam na economia recursos expressivos, recuperando a confiança dos investidores internos e externos. Contudo o novo pacote
econômico está na contramão dessas medidas. E, justamente por isso, conforme se pode aquilatar na
mídia, parece ter agradado apenas
ao FMI.
Luiz Lemos Leite, 69, advogado, ex-diretor do
Banco Central, é presidente do Sistema Febrafac
(Federação Brasileira de Factoring)/Anfac (Associação Brasileira de Factoring).
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