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Leilão do rio Madeira tem 35% de deságio na tarifa
Consórcio vencedor é liderado por Odebrecht e tem 49% de participação estatal
Ministro admite que não sabia como calcular preço da energia gerada; receita nos 30 anos de concessão é estimada em R$ 30 bilhões
HUMBERTO MEDINA
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em apenas sete minutos de
disputa, o consórcio liderado
pela empreiteira Norberto
Odebrecht, com 49% de participação estatal, arrematou a
construção e a operação da hidrelétrica de Santo Antônio, no
rio Madeira (Rondônia), com
sua proposta de cobrar pela
energia gerada 35,3% menos
que o preço máximo permitido
pelas regras do leilão.
O lance agressivo do consórcio, apontado previamente como favorito, surpreendeu as
apostas mais otimistas e não
deu chance aos demais concorrentes. O resultado, segundo o
governo, aponta para a geração
de energia elétrica mais barata
na principal fronteira energética do país, a região Amazônica.
O próximo teste está previsto
para maio do ano que vem,
quando deverá ir a leilão a usina de Jirau, a segunda hidrelétrica do complexo do Madeira.
O governo planeja explorar 40
mil MW de energia em grandes
empreendimentos amazônicos
a partir da próxima década.
Pelo cronograma oficial, a
usina hidrelétrica de Santo Antônio começa a gerar uma pequena quantidade de energia
em dezembro de 2012. Um conjunto de 44 turbinas deve operar até três anos e meio depois,
em junho de 2016, quando deverão ser gerados 3.150 MW. Os
futuros donos da usina se comprometeram a vender energia
por R$ 78,90 por MWh (megawatt-hora). O valor final caiu
para R$ 78,87 após deságio aplicado de acordo com as regras
do leilão.
O teto de preço do leilão era
R$ 122 por MWh. O valor total
do negócio foi estimado em R$
30 bilhões, ao longo dos 30
anos de concessão da usina.
"Vou estourar vários champanhes, porque o Brasil está
entrando em uma nova fase de
energia competitiva", comemorou o presidente da EPE
(Empresa de Pesquisa Energética, ligada ao Ministério das
Minas e Energia), Maurício
Tolmasquim. "O futuro é muito
promissor, com energia a custos decrescentes, mais barata."
Igualmente surpreso com o
resultado, o ministro interino
de Minas e Energia, Nelson
Hubner, admitiu que o governo
não tinha parâmetros para definir o custo de geração de energia em empreendimentos como a usina de Santo Antônio.
"De fato, eu não sei quanto
custa gerar energia, principalmente na nova fronteira", disse. Os primeiros lances dos dois
outros consórcios que disputaram o negócio também ficaram
abaixo de R$ 100 por MWh.
Tolmasquim atribuiu essa
falta de parâmetro e a surpresa
com o deságio à paralisia do
planejamento do setor elétrico.
"A última grande hidrelétrica
foi a de Xingó, concluída em
1994", lembrou. Para ele, a redução do preço da tarifa foi obtida graças a negociações para o
financiamento da usina.
Quando os jornalistas insistiram para que o consórcio vencedor explicasse a engenharia
que permitiu a redução da tarifa, Hubner disse que aquele era
um assunto privado das empresas, que não precisaria ser divulgado. O ministro negou, no
entanto, que essa engenharia
envolva a possibilidade da estatal Furnas levar prejuízo, conforme especulações ontem no
mercado, já que a redução do
preço da energia implica em
perda de receitas.
Hubner reiterou a confiança
do governo em que a usina sairá
do papel no prazo. "Nenhum
investidor vai botar dinheiro
em um negócio para não construir", disse, referindo-se aos
R$ 650 milhões que o consórcio terá de depositar como garantia de que erguerá a obra.
O consórcio Madeira Energia
entrou no leilão com 49% de
capital estatal (Furnas detém
39% e Cemig, estatal mineira
de energia, 10%). Mas esses
percentuais devem mudar, acenou Irineu Meirelles, diretor da
empreiteira Odebrecht. Ele
confirmou negociação com o
BNDES e a intenção de lançar
ações no mercado.
Envolvido com o projeto há
mais de seis anos, Meirelles negou que o projeto original tenha sido apresentado com preços superestimados. E considerou como "prováveis" adaptações na obra que poderiam reduzir o custo.
Responsável pelos estudos
de viabilidade econômica e ambiental da usina, a Odebrecht
chegou a estimar o custo de
construção em R$ 13,5 bilhões,
R$ 3,5 bilhões a mais do que o
valor acertado ontem.
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