São Paulo, quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

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BC mantém juros, mas já discute redução

Por unanimidade, Copom decide não alterar Selic, mas diz que maioria dos membros do comitê "discutiu a possibilidade" de redução

Lula cobrava corte ou ao menos indicação de que a taxa possa cair em breve; reunião do BC durou quatro horas, o dobro das anteriores

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pressionado de um lado pelo presidente Lula, empresários e sindicalistas por corte nos juros e, de outro, por sua própria convicção de que a crise global pode levar a inflação a fugir do seu controle em 2009, o Banco Central optou ontem por um meio-termo. Manteve inalterada a taxa Selic por mais seis semanas, mas indicou que pode começar a reduzi-la a partir do mês que vem, na primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) de 2009.
Assim, a última reunião do Copom de 2008 não mexeu nos juros básicos da economia, que continuam em 13,75% ao ano pelo menos até 21 de janeiro. Mas o comunicado divulgado após a reunião ressaltou que um corte na Selic chegou a ser discutido, embora tenha prevalecido a posição mais conservadora, por unanimidade.
"Tendo a maioria dos membros do comitê discutido a possibilidade de reduzir a taxa básica de juros já nesta reunião, em ambiente macroeconômico que continua cercado por grande incerteza, o Copom decidiu, por unanimidade, ainda manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, sem viés, neste momento", diz o texto.
Eram fortes as pressões do governo pelo corte na Selic, como vem fazendo a esmagadora maioria dos países diante da brusca queda na atividade econômica, e a manutenção da taxa foi longamente discutida. A reunião de ontem se estendeu por quatro horas, o dobro da duração média. Lula cobrava do BC uma redução nos juros ou, pelo menos, uma sinalização de que a taxa (a mais alta do mundo descontada a inflação) possa cair em breve. O conteúdo do comunicado foi a maneira de atender à reivindicação.
De imediato, uma redução de 0,25 ponto nos juros básicos teria pouco impacto real no custo dos empréstimos bancários no país, que já ultrapassa 40% ao ano, em média, segundo o próprio BC. A queda serviria para indicar que novos cortes podem ser promovidos, estimulando empresários a retomar seus investimentos e as pessoas a consumir: os dois principais motores do PIB em 2008.
Nas últimas semanas, Lula demonstrou insatisfação com o nível das taxas de juros no Brasil e pressionou o presidente do BC, Henrique Meirelles, a reduzir a Selic. Mesmo no mercado financeiro havia quem defendesse um afrouxamento da política monetária diante dos sinais de desaquecimento da economia, como a queda na produção industrial.
No mercado financeiro, estima-se que a economia deva crescer cerca de 2% no ano que vem, bem abaixo dos 4% perseguidos pelo governo.
Do lado da inflação, os favoráveis ao corte dos juros dizem que não há sinais de alta preocupante no nível de preços. No mês passado, por exemplo, o IPCA subiu 0,36%, uma desaceleração em relação ao 0,45% de outubro.
Apesar desses argumentos, o BC continua mostrando preocupação com o comportamento dos preços. Assim como na reunião anterior do Copom, no final de outubro, a instituição considera que o cenário atual é muito incerto e que ainda é cedo para projetar com segurança como a economia brasileira reagirá, em termos de crescimento e inflação, à crise.
Esse receio se soma ao risco apresentado pela alta do dólar ocorrida nas últimas semanas. Nos últimos 30 dias, a moeda dos EUA teve valorização de mais de 10% em relação ao real, o que, em tese, encarece produtos importados e pressiona a inflação.
Para 2009, cerca de 80 analistas do setor privado ouvidos pelo BC na última sexta-feira projetam uma inflação de 5,2%, distante dos 4,5% estabelecidos pelo centro da meta do governo (com tolerância de dois pontos). Confirmada a previsão, o resultado do ano que vem ficaria um pouco abaixo dos 6,2% esperados para 2008.


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