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BC mantém juros, mas já discute redução
Por unanimidade, Copom decide não alterar Selic, mas diz que maioria dos membros do comitê "discutiu a possibilidade" de redução
Lula cobrava corte ou ao menos indicação de que a taxa possa cair em breve; reunião do BC durou quatro
horas, o dobro das anteriores
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pressionado de um lado pelo
presidente Lula, empresários e
sindicalistas por corte nos juros e, de outro, por sua própria
convicção de que a crise global
pode levar a inflação a fugir do
seu controle em 2009, o Banco
Central optou ontem por um
meio-termo. Manteve inalterada a taxa Selic por mais seis semanas, mas indicou que pode
começar a reduzi-la a partir do
mês que vem, na primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) de 2009.
Assim, a última reunião do
Copom de 2008 não mexeu nos
juros básicos da economia, que
continuam em 13,75% ao ano
pelo menos até 21 de janeiro.
Mas o comunicado divulgado
após a reunião ressaltou que
um corte na Selic chegou a ser
discutido, embora tenha prevalecido a posição mais conservadora, por unanimidade.
"Tendo a maioria dos membros do comitê discutido a possibilidade de reduzir a taxa básica de juros já nesta reunião,
em ambiente macroeconômico
que continua cercado por grande incerteza, o Copom decidiu,
por unanimidade, ainda manter a taxa Selic em 13,75% ao
ano, sem viés, neste momento",
diz o texto.
Eram fortes as pressões do
governo pelo corte na Selic, como vem fazendo a esmagadora
maioria dos países diante da
brusca queda na atividade econômica, e a manutenção da taxa foi longamente discutida. A
reunião de ontem se estendeu
por quatro horas, o dobro da
duração média. Lula cobrava
do BC uma redução nos juros
ou, pelo menos, uma sinalização de que a taxa (a mais alta do
mundo descontada a inflação)
possa cair em breve. O conteúdo do comunicado foi a maneira de atender à reivindicação.
De imediato, uma redução de
0,25 ponto nos juros básicos teria pouco impacto real no custo
dos empréstimos bancários no
país, que já ultrapassa 40% ao
ano, em média, segundo o próprio BC. A queda serviria para
indicar que novos cortes podem ser promovidos, estimulando empresários a retomar
seus investimentos e as pessoas
a consumir: os dois principais
motores do PIB em 2008.
Nas últimas semanas, Lula
demonstrou insatisfação com o
nível das taxas de juros no Brasil e pressionou o presidente do
BC, Henrique Meirelles, a reduzir a Selic. Mesmo no mercado financeiro havia quem defendesse um afrouxamento da
política monetária diante dos
sinais de desaquecimento da
economia, como a queda na
produção industrial.
No mercado financeiro, estima-se que a economia deva
crescer cerca de 2% no ano que
vem, bem abaixo dos 4% perseguidos pelo governo.
Do lado da inflação, os favoráveis ao corte dos juros dizem
que não há sinais de alta preocupante no nível de preços. No
mês passado, por exemplo, o
IPCA subiu 0,36%, uma desaceleração em relação ao 0,45%
de outubro.
Apesar desses argumentos, o
BC continua mostrando preocupação com o comportamento dos preços. Assim como na
reunião anterior do Copom, no
final de outubro, a instituição
considera que o cenário atual é
muito incerto e que ainda é cedo para projetar com segurança
como a economia brasileira
reagirá, em termos de crescimento e inflação, à crise.
Esse receio se soma ao risco
apresentado pela alta do dólar
ocorrida nas últimas semanas.
Nos últimos 30 dias, a moeda
dos EUA teve valorização de
mais de 10% em relação ao real,
o que, em tese, encarece produtos importados e pressiona a
inflação.
Para 2009, cerca de 80 analistas do setor privado ouvidos
pelo BC na última sexta-feira
projetam uma inflação de 5,2%,
distante dos 4,5% estabelecidos pelo centro da meta do governo (com tolerância de dois
pontos). Confirmada a previsão, o resultado do ano que vem
ficaria um pouco abaixo dos
6,2% esperados para 2008.
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