São Paulo, quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

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Decisão afetará crescimento, diz indústria

Para CNI e Fiesp, Copom deveria ter reduzido os juros, assim como fizeram EUA e Europa; Força afirma que manutenção é um "desastre"

Para Fecomercio SP, Copom poderia ter cortado taxa em até quatro pontos, mas se faz "de cego" diante do risco de recessão

DA REPORTAGEM LOCAL

Representantes da indústria, do comércio e dos trabalhadores criticaram a decisão do Copom de manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano. A decisão, dizem, vai afetar o crescimento do país em 2009 e trazer prejuízos ao emprego e à renda.
Para Armando Monteiro Neto, presidente da CNI (confederação da indústria), o comitê deveria ter alterado a dinâmica da política monetária do Brasil, assim como fizeram outros países. "A perda de intensidade da atividade econômica, em virtude dos efeitos da crise financeira internacional e das dificuldades do mercado de crédito, justificaria plenamente uma ação nesse sentido."
De acordo com a CNI, há importantes razões para promover uma queda nos juros. "A economia mundial passa por um forte momento deflacionário, com amplo impacto nos preços em escala mundial, e há recuo na atividade interna, com desaceleração nos preços e custos domésticos."
Em tom de ironia, Paulo Skaf, presidente da Fiesp (federação das indústrias paulistas), afirmou que, "desse jeito, já começo a sentir saudade de 2008", ao se referir à manutenção da taxa de juros. "O governo brasileiro, ao insistir em não reduzir a Selic, coloca-se na contramão do que países como Japão, Estados Unidos e outros da Europa estão praticando: cortes drásticos nos juros para proteger emprego e renda". Segundo o empresário, "é absurdo manter a taxa de juros em nível tão elevado, quando a inflação está sob controle e precisamos lutar para impedir que haja uma queda brusca do crescimento".
Na avaliação de Abram Szajman, presidente da Fecomercio SP (federação do comércio), o Copom ignora risco de contágio pela recessão mundial e se faz "de cego" diante do risco de recessão. "Pode-se dizer que, mesmo parada, a Selic subiu até 2% nos últimos meses, em comparação com os juros vigentes nos EUA e na Europa, que têm sido drasticamente reduzidos pelos seus bancos centrais. Enquanto isso, o nosso BC ignora o risco do contágio pela recessão mundial e se preocupa com o perigo mais imaginário do que real da inflação", diz Szajman.
A Fecomercio avalia que, além de aumentar o diferencial entre os juros internos e externos, a manutenção da taxa envia para o mercado sinal contraditório das autoridades monetárias. "Por um lado, o BC libera o compulsório e insiste para que os bancos emprestem os recursos, sem represar a liquidez; ao mesmo tempo e paradoxalmente, mantém elevada a remuneração dos títulos de curto prazo, o que desestimula empréstimos ao setor privado." Para a entidade, não seria desmedida um corte nos juros de até quatro pontos percentuais.
Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical, diz que juros de 13,75% são um "desastre" para a economia. "O governo não pode continuar com essa política que privilegia os especuladores em detrimento da produção e o emprego. O somatório da crise com os juros em patamares estratosféricos vai prejudicar os trabalhadores que lutam para manter seus empregos."


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