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PIB revela retomada econômica mais lenta
Com expansão de 1,3% no 3º trimestre, abaixo das expectativas, país pode ter primeira queda anual no PIB desde Collor
Governo falava em alta de 2% do PIB; recuperação de investimentos mantém previsão de expansão mais forte, de 5%, em 2010
GUSTAVO PATU
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Após semanas de entusiasmo
doméstico e internacional com
o desempenho brasileiro, descobriu-se que a economia do
país se recupera da crise em ritmo mais lento do que se imaginava e ameaça fechar 2009 com
a primeira queda anual desde o
governo Collor.
O IBGE divulgou ontem não
apenas um Produto Interno
Bruto -a medida da produção e
da renda nacional- inferior, no
terceiro trimestre, ao esperado
pelo governo e pela grande
maioria dos analistas de mercado, mas também dados revisados para baixo dos dois trimestres anteriores.
Embora esteja mantida a
tendência de melhora, os novos
números contam uma história
diferente dos meses passados,
impõem um novo diagnóstico
do presente e alteram a agenda
para o futuro próximo: perdem
força, por exemplo, as apostas
em uma alta de juros mais imediata para conter o consumo, e
ganham argumentos os defensores de novas medidas de estímulo no ano eleitoral de 2010.
De julho a setembro, a indústria, a agropecuária e os serviços produziram 1,3% a mais
que nos três meses anteriores e
1,2% a menos que no mesmo
trimestre de 2008. Na primeira
base de comparação, o ministro
Guido Mantega, da Fazenda,
previu reiteradas vezes alta de
2%; na segunda, o ponto médio
das expectativas do mercado
apontava queda de só 0,2%.
Esse é um caso em que diferenças depois da vírgula fazem
diferença. A previsão de Mantega corresponderia a uma taxa
anualizada (se acumulada em
quatro trimestres) de 8,2%
-foi o que animou o presidente
Lula a anunciar no mês passado, com um arredondamento
generoso, "um ritmo chinês de
cerca de 9%". Ontem, Lula não
quis comentar o PIB.
Já o resultado efetivo resulta
numa taxa anualizada de 5,3%,
bem mais próxima das tradições brasileiras. Embora ainda
muito favorável se comparada
com o mundo rico ou mesmo
com as projeções do início do
ano, a cifra desfaz a avaliação de
que economia já opera a pleno
vapor, nos patamares pré-crise.
Cai projeção oficial
Também é insuficiente para
sustentar a projeção oficial de
crescimento de 1% em 2009,
abandonada ontem mesmo. Os
novos números apontam que o
PIB terminará o ano com variação muito próxima de zero,
com poucos décimos para mais
ou para menos -e a diferença
entre uma possibilidade e outra
é mais política que econômica.
No cotidiano de investidores,
empresários, assalariados, desempregados e eleitores em geral, é imperceptível a distância
entre um crescimento anual de
0,2% e uma queda do mesmo
tamanho. Para o governo, porém, trata-se de ter ou não de
responder pelo primeiro ano
em vermelho desde 1992.
O cumprimento da recém-abandonada projeção anual do
governo dependeria de um
crescimento robusto de 9,1%,
no quarto trimestre, na comparação com o mesmo período de
2008 -e não em taxa anualizada. Para fechar o ano no zero, é
preciso expansão final de 5%,
compatível com as previsões
mais otimistas do mercado.
Pelas avaliações mais comuns entre os analistas, a meta
governista de crescer 5% no
próximo ano permanece realista diante dos dados do IBGE.
Bancos e consultorias que
trabalhavam com taxas muito
superiores a essa, no entanto, já
começaram a rever suas projeções.
Mesmo abaixo do esperado,
os dados do trimestre confirmaram o início da recuperação
dos investimentos, que são decisivos para a expansão da produção e foram um dos setores
mais abalados pela crise internacional. Assim como a indústria, eles permanecem abaixo
dos níveis de 2008, mas se expandem pela segunda vez em
relação ao trimestre anterior.
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