São Paulo, sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

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PIB revela retomada econômica mais lenta

Com expansão de 1,3% no 3º trimestre, abaixo das expectativas, país pode ter primeira queda anual no PIB desde Collor

Governo falava em alta de 2% do PIB; recuperação de investimentos mantém previsão de expansão mais forte, de 5%, em 2010


GUSTAVO PATU
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Após semanas de entusiasmo doméstico e internacional com o desempenho brasileiro, descobriu-se que a economia do país se recupera da crise em ritmo mais lento do que se imaginava e ameaça fechar 2009 com a primeira queda anual desde o governo Collor.
O IBGE divulgou ontem não apenas um Produto Interno Bruto -a medida da produção e da renda nacional- inferior, no terceiro trimestre, ao esperado pelo governo e pela grande maioria dos analistas de mercado, mas também dados revisados para baixo dos dois trimestres anteriores.
Embora esteja mantida a tendência de melhora, os novos números contam uma história diferente dos meses passados, impõem um novo diagnóstico do presente e alteram a agenda para o futuro próximo: perdem força, por exemplo, as apostas em uma alta de juros mais imediata para conter o consumo, e ganham argumentos os defensores de novas medidas de estímulo no ano eleitoral de 2010.
De julho a setembro, a indústria, a agropecuária e os serviços produziram 1,3% a mais que nos três meses anteriores e 1,2% a menos que no mesmo trimestre de 2008. Na primeira base de comparação, o ministro Guido Mantega, da Fazenda, previu reiteradas vezes alta de 2%; na segunda, o ponto médio das expectativas do mercado apontava queda de só 0,2%.
Esse é um caso em que diferenças depois da vírgula fazem diferença. A previsão de Mantega corresponderia a uma taxa anualizada (se acumulada em quatro trimestres) de 8,2% -foi o que animou o presidente Lula a anunciar no mês passado, com um arredondamento generoso, "um ritmo chinês de cerca de 9%". Ontem, Lula não quis comentar o PIB.
Já o resultado efetivo resulta numa taxa anualizada de 5,3%, bem mais próxima das tradições brasileiras. Embora ainda muito favorável se comparada com o mundo rico ou mesmo com as projeções do início do ano, a cifra desfaz a avaliação de que economia já opera a pleno vapor, nos patamares pré-crise.

Cai projeção oficial
Também é insuficiente para sustentar a projeção oficial de crescimento de 1% em 2009, abandonada ontem mesmo. Os novos números apontam que o PIB terminará o ano com variação muito próxima de zero, com poucos décimos para mais ou para menos -e a diferença entre uma possibilidade e outra é mais política que econômica.
No cotidiano de investidores, empresários, assalariados, desempregados e eleitores em geral, é imperceptível a distância entre um crescimento anual de 0,2% e uma queda do mesmo tamanho. Para o governo, porém, trata-se de ter ou não de responder pelo primeiro ano em vermelho desde 1992.
O cumprimento da recém-abandonada projeção anual do governo dependeria de um crescimento robusto de 9,1%, no quarto trimestre, na comparação com o mesmo período de 2008 -e não em taxa anualizada. Para fechar o ano no zero, é preciso expansão final de 5%, compatível com as previsões mais otimistas do mercado.
Pelas avaliações mais comuns entre os analistas, a meta governista de crescer 5% no próximo ano permanece realista diante dos dados do IBGE.
Bancos e consultorias que trabalhavam com taxas muito superiores a essa, no entanto, já começaram a rever suas projeções.
Mesmo abaixo do esperado, os dados do trimestre confirmaram o início da recuperação dos investimentos, que são decisivos para a expansão da produção e foram um dos setores mais abalados pela crise internacional. Assim como a indústria, eles permanecem abaixo dos níveis de 2008, mas se expandem pela segunda vez em relação ao trimestre anterior.


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