São Paulo, sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

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Ritmo menor reduz pressão sobre a taxa de juros

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO

O desempenho da economia no terceiro trimestre revelou um cenário menos otimista em 2009, mas reduziu a urgência de um aumento nos juros ainda no primeiro semestre de 2010, segundo analistas.
Isso porque o crescimento do consumo, principal motor de expansão da economia, mostrou-se mais comedido do que se imaginava. Ao mesmo tempo, os investimentos feitos pelos setores público e privado resistiram relativamente bem, apesar do abalo na confiança dos empresários, o que amplia o conforto das empresas em atender à demanda aquecida.
Juntas, essas duas forças trabalham para conter as pressões inflacionárias que surgem com a recuperação econômica.
Para Rodrigo Azevedo, ex-diretor do BC e sócio do JGP Investimentos, antes de sair o dado do PIB, o mercado acreditava em aumento dos juros no início do próximo ano. Agora, essa expectativa foi atrasada para meados de 2010.
"É inegável que o resultado do PIB trabalha para tirar a iminência de um aumento nos juros no início do ano. Mas o cenário continua o mesmo, apesar de o PIB ter frustrado as expectativas", disse.
Marcelo Salomon, economista-chefe do Barclays e diretor do comitê macroeconômico da Anbima (associação de entidades do mercado de capitais), diz que o PIB deverá reduzir as expectativas de crescimento tanto deste ano como do próximo. A previsão inicial era de crescimento de 0,2% em 2009 e de 5,2% em 2010. "A contração foi menor, e a recuperação foi mais suave. O desafio em 2010 será tirar os estímulos da economia, incluindo juros."
Para Alkimar Moura, ex-diretor do BC, dado o ritmo de expansão da atividade, a autoridade monetária não terá alternativa além de mexer nos juros em algum momento de 2010. "Se a demanda continuar forte, o Banco Central vai ter que ajustar a política monetária. Não sei quando nem quanto tem que subir os juros. O cenário é de um crescimento muito forte de demanda, e isso pode pressionar a inflação para cima da meta. O BC deve se antecipar, e não ficar correndo atrás do prejuízo sob o risco de em 2011 ter de aumentar ainda mais os juros para segurar a inflação", disse.

Novos estímulos
O PIB menor do que o previsto também gera nos analistas o receio de que o governo afrouxe ainda mais a política fiscal e incorra no erro de conceder mais desonerações de impostos e benefícios, como ampliação de empréstimos subsidiados.
Para Sérgio Vale, economista da MB Associados, medidas como a desoneração do IPI foram importantes, mas devem ser "ministradas" com muita cautela. O governo, diz, já errou na dose ao renovar e ampliar para mais setores o benefício no final de novembro -quando incluiu o ramo de mobiliário na lista e prorrogou a redução para veículos, eletrodomésticos e, mais recentemente, para máquinas e equipamentos.
"O atual governo vai deixar um passivo muito grande para o presidente que assumir em 2011. Ele terá de fazer um grande ajuste", diz Vale. Diante dos altos juros, argumenta, o melhor remédio seria reduzir a Selic e esperar o "efeito da política monetária", em vez de exagerar na dose da política fiscal.
"O PT, como a crise, pode usar os instrumentos que ideologicamente sempre defendeu para estimular a crise. Mas usar a política fiscal é arriscado."
(TONI SCIARRETTA e PEDRO SOARES)


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