|
Texto Anterior | Índice
Ritmo menor reduz pressão sobre a taxa de juros
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO
O desempenho da economia
no terceiro trimestre revelou
um cenário menos otimista em
2009, mas reduziu a urgência
de um aumento nos juros ainda
no primeiro semestre de 2010,
segundo analistas.
Isso porque o crescimento do
consumo, principal motor de
expansão da economia, mostrou-se mais comedido do que
se imaginava. Ao mesmo tempo, os investimentos feitos pelos setores público e privado resistiram relativamente bem,
apesar do abalo na confiança
dos empresários, o que amplia
o conforto das empresas em
atender à demanda aquecida.
Juntas, essas duas forças trabalham para conter as pressões
inflacionárias que surgem com
a recuperação econômica.
Para Rodrigo Azevedo, ex-diretor do BC e sócio do JGP Investimentos, antes de sair o dado do PIB, o mercado acreditava em aumento dos juros no
início do próximo ano. Agora,
essa expectativa foi atrasada
para meados de 2010.
"É inegável que o resultado
do PIB trabalha para tirar a
iminência de um aumento nos
juros no início do ano. Mas o
cenário continua o mesmo,
apesar de o PIB ter frustrado as
expectativas", disse.
Marcelo Salomon, economista-chefe do Barclays e diretor do comitê macroeconômico
da Anbima (associação de entidades do mercado de capitais),
diz que o PIB deverá reduzir as
expectativas de crescimento
tanto deste ano como do próximo. A previsão inicial era de
crescimento de 0,2% em 2009
e de 5,2% em 2010. "A contração foi menor, e a recuperação
foi mais suave. O desafio em
2010 será tirar os estímulos da
economia, incluindo juros."
Para Alkimar Moura, ex-diretor do BC, dado o ritmo de expansão da atividade, a autoridade monetária não terá alternativa além de mexer nos juros
em algum momento de 2010.
"Se a demanda continuar forte,
o Banco Central vai ter que
ajustar a política monetária.
Não sei quando nem quanto
tem que subir os juros. O cenário é de um crescimento muito
forte de demanda, e isso pode
pressionar a inflação para cima
da meta. O BC deve se antecipar, e não ficar correndo atrás
do prejuízo sob o risco de em
2011 ter de aumentar ainda
mais os juros para segurar a inflação", disse.
Novos estímulos
O PIB menor do que o previsto também gera nos analistas o
receio de que o governo afrouxe
ainda mais a política fiscal e incorra no erro de conceder mais
desonerações de impostos e benefícios, como ampliação de
empréstimos subsidiados.
Para Sérgio Vale, economista
da MB Associados, medidas como a desoneração do IPI foram
importantes, mas devem ser
"ministradas" com muita cautela. O governo, diz, já errou na
dose ao renovar e ampliar para
mais setores o benefício no final de novembro -quando incluiu o ramo de mobiliário na
lista e prorrogou a redução para
veículos, eletrodomésticos e,
mais recentemente, para máquinas e equipamentos.
"O atual governo vai deixar
um passivo muito grande para
o presidente que assumir em
2011. Ele terá de fazer um grande ajuste", diz Vale. Diante dos
altos juros, argumenta, o melhor remédio seria reduzir a Selic e esperar o "efeito da política
monetária", em vez de exagerar
na dose da política fiscal.
"O PT, como a crise, pode
usar os instrumentos que ideologicamente sempre defendeu
para estimular a crise. Mas usar
a política fiscal é arriscado."
(TONI SCIARRETTA e PEDRO SOARES)
Texto Anterior: Frase Índice
|