São Paulo, Quarta-feira, 12 de Janeiro de 2000


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LUÍS NASSIF

A biodiversidade e o Brasil

Tema delicado, por envolver aspectos ambientais e uma discussão científica que ainda não se esgotou, a biotecnologia já foi a responsável por mudanças relevantes na economia mundial.
Nesta semana o "Wall Street Journal" divulgou balanço dramático de como a Alemanha perdeu a liderança na indústria petroquímica. É processo que tem início com o final da Segunda Guerra, quando a grande indústria química alemã é dividida e as patentes são disponibilizadas aos demais países.
Mas o golpe final, segundo o jornal, é quando explode a biotecnologia e, pressionada pelos ativistas ecológicos, a indústria alemã demora a investir na área e perde a liderança definitivamente para a indústria americana.
O caso da americana DuPont é significativo de como decisões estratégicas, no momento certo, podem modificar panoramas que pareciam estratificados para sempre.
A empresa nasceu em 1802, a partir de uma fábrica de pólvora de E.I. du Pont, no Estado de Delaware, nos Estados Unidos. Ao longo do século, foi responsável por alguns feitos da indústria petroquímica mundial. Em 1926 lançou o celofane impermeável, em 1931 criou a borracha Neoprene, em 1938, o teflon, e nos anos 60, a Lycra.
Nos últimos anos a DuPont deixou de lado a química e passou a investir pesadamente na biologia e biotecnologia, buscando o foco no atendimento das grandes carências mundiais -tanto nutritivas quanto de saúde, como as grandes doenças contemporâneas, como osteoporose, colesterol e aids, e na nutrição preventiva.
A empresa decidiu mudar quando estava no auge do sucesso. Seus dirigentes deram-se conta de que a empresa estava fundada em produtos cuja curva de crescimento tendia a se esgotar. O cenário de médio prazo apontava para uma situação dramática de oferta de matérias-primas de fontes renováveis em 2010.
A estratégia consistiu em adquirir empresas que já tinham avançado na área da biotecnologia, como a PTI (Protein Technologies International), em 1997, e em 1999 a Pioneer Hi-Bred International, líder mundial no fornecimento de sementes e desenvolvimento de tecnologia genética vegetal. No Brasil, a empresa responde por 45% da área plantada de milho transgênico. Recentemente a Pioneer adquiriu as variedades e o programa de melhoramento genético de soja da Sementes Dois Marcos, sediada em Cristalina (GO).
Para enfrentar a resistência dos verdes, a empresa passou a trabalhar com o conceito da plena informação, informando sobre os produtos transgênicos, identificando-os e procurando debater nos fóruns técnicos. Hoje, a empresa está presente em 65 países, conta com 92 mil funcionários, tem um faturamento anual de US$ 25 bilhões e investe US$ 1 bilhão anual em pesquisa.
Em que a história da DuPont interessa ao Brasil? Apesar dos pesados investimentos na indústria petroquímica, especialmente nos anos 70, o Brasil perdeu o bonde. Excesso de proteção oficial desestimulou os investimentos em pesquisa, que permitissem criar uma indústria de padrão internacional.
A biodiversidade brasileira é vista, hoje em dia, como um enorme potencial, por parte de empresas como a DuPont, que investem nas chamadas "ciências da vida". É a segunda oportunidade que o país pode ter nessa área. Por enquanto, falta um programa consistente, que possa dirigir o potencial científico brasileiro para essa área.
É hora de o Ministério de Ciência e Tecnologia parar com ações dispersas e centrar fogo nas áreas em que o país disponha de vantagens comparativas claras.


E-mail: lnassif@uol.com.br



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