São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 2003

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LIGAÇÃO DIRETA

Presidente do BC continua a receber nos EUA aposentadoria do conglomerado FleetBoston, seu último empregador

Banco paga US$ 750 mil por ano a Meirelles

Lula Marques - 7.jan.03/ Folha Imagem
Henrique Meirelles discursa ao tomar posse no BC ao lado de Antonio Palocci, do antecessor, Armínio Fraga, e dos diretores Ilan Goldfajn e Luiz Fernando Figueiredo


MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Henrique Meirelles, presidente do Banco Central do Brasil, ainda tem uma ligação muito forte com seu último empregador, o conglomerado financeiro norte-americano FleetBoston. Meirelles tem direito a uma aposentadoria de US$ 750 mil por ano (R$ 2,4 milhões, R$ 200 mil por mês) e vai continuar a receber o benefício enquanto estiver à frente do BC. Recebe em dólares, nos EUA.
"Tenho direito, trabalhei para ganhá-la", disse ele à Folha. Como servidor público, o salário de Meirelles será de R$ 8 mil mensais.
Em 1999, depois da fusão do BankBoston com o Fleet Financial Group, Meirelles foi nomeado presidente do Banco Global e de Atacado FleetBoston, uma divisão da FleetBoston Financial Corporation, sétimo maior conglomerado financeiro dos Estados Unidos.
O executivo e engenheiro entrou no Boston em 1974 e deixou o banco no ano passado para se candidatar e se eleger deputado federal pelo PSDB de Goiás. Era membro do Conselho de Direção do FleetBoston Financial e da Raytheon Corporation, que venceu a polêmica concorrência para a construção do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
Outro benefício importante recebido por Meirelles era o empréstimo de US$ 4,5 milhões (R$ 14,8 milhões) sem juros concedido pelo FleetBoston para que seu executivo comprasse um apartamento de US$ 5,5 milhões (R$ 18 milhões) num edifício de 54 andares no Trump Palace, no Upper East Side, região de Manhattan, Nova York.
Concedido pelo Fleet sob a condição de que Meirelles permanecesse no banco, o contrato do empréstimo não previa a cobrança de juros e estabelecia que os pagamentos do débito começariam apenas em 2011.
Caso saísse do banco, deveria quitá-lo de uma só vez. No entanto, se sua saída decorresse de um "bom motivo" ("good reason"), Meirelles teria mais um ano para pagá-lo. A Folha consultou o contrato.
Quando Meirelles deixou seu cargo, a direção do FleetBoston aceitou manter o empréstimo por mais um ano, mas insistiu em cobrar juros. Em primeiro lugar, o banco temia reação negativa dos acionistas num ano marcado por turbulências e fraudes empresariais. De resto, considerando o projeto político de Meirelles, a assessoria jurídica da instituição hesitou em estender empréstimos favorecidos a alguém que poderia transformar-se em autoridade pública estrangeira.
Apesar de relatos em contrário, Meirelles diz nunca ter insistido com o banco para manter os benefícios originais do contrato. Segundo o presidente do BC, o próprio acordo previa pagamento de juros de mercado depois da rescisão contratual. No final de novembro, quando as sondagens para o BC já eram públicas e circulavam rumores de que o empréstimo ainda estava aberto, Meirelles o quitou.
Segundo o presidente do BC, a distância entre agosto -data em que saiu do banco- e o final de novembro, quando quitou o empréstimo, tem uma explicação: apesar do dinheiro que acumulou em sua carreira de sucesso (estimado em até US$ 70 milhões), ele precisava vender o apartamento para pagar o empréstimo. "Só consegui vendê-lo em novembro", disse ele.



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