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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Não à recessão e ao desemprego
É preciso tentar conter
a retração da demanda, por
meio de cortes no compulsório
e no juro e de estímulo fiscal
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A Celso Furtado
COMEÇO, LEITOR , com um pedido de desculpas, extensivo à
leitora. O artigo de hoje está
sendo redigido às pressas -tenho
uma hora e meia para terminá-lo. O
trabalho aqui no Fundo está alucinante. Começa no café da manhã,
continua o dia inteiro, inclusive almoço, e se estende noite adentro até
durante o jantar. Já tem gente baixando hospital (espero não ser o próximo).
Uma das assistentes no nosso escritório, que trabalha no Fundo há 25
anos, disse-me que nunca viu a Diretoria Executiva e o corpo técnico sob
tanta pressão. Não é surpreendente:
o FMI está no olho do furacão da
mais grave crise internacional dos últimos 70 anos.
O lado positivo, claro, é que a crise
abre possibilidades de reforma e mudança que, em épocas normais, seriam mais limitadas.
Mas é do Brasil que quero falar um
pouco hoje, em particular do impacto
da crise externa sobre o crescimento
e o emprego no país. A ameaça de recessão e desemprego cresce a cada
semana, em linha com a deterioração
do ambiente mundial. Projeções feitas por analistas de mercado indicam
crescimento de apenas 1,7% para o
PIB brasileiro em 2009. Com esse
ritmo muito modesto de crescimento, um aumento do desemprego é
praticamente inevitável -mesmo
que o governo adote, como pretende,
medidas para aumentar a elasticidade do emprego em relação ao produto.
O fundamental é tentar conter a retração da demanda, especialmente
dos investimentos. O artigo de hoje é
uma pequena homenagem a Celso
Furtado, nosso maior economista,
que publicou, em 1983, um livro com
esse título. No início da década de
1980, a luta era a mesma, mas com
duas diferenças importantes, uma
para pior, outra para melhor. Hoje, a
crise externa é mais grave do que naquela época. Em compensação, o estado da economia brasileira é agora
mais sólido.
Em parte por isso, o Brasil tem
mais espaço para responder à tendência recessiva que vem de fora (os
choques externos foram mais eficazes em derrubar a demanda do que o
Copom). O governo tem tomado medidas nessa direção, mas há espaço
para fazer mais.
O Banco Central pode, por exemplo, diminuir a taxa básica de juro,
que continua a ser a mais alta do
mundo em termos reais, mesmo após
o corte de um ponto percentual determinado pelo Copom na sua última
reunião. O BC também pode diminuir os ainda elevados depósitos
compulsórios sobre passivos bancários, o que injetaria liquidez na economia e contribuiria em princípio
para reduzir os "spreads" bancários.
Os bancos públicos podem ser mobilizados para compensar, pelo menos
em parte, a retração da oferta de crédito internacional e dos bancos privados no Brasil.
Além disso, há espaço para um estímulo fiscal. O superávit primário
do setor público pode diminuir. O
déficit fiscal total ou nominal é relativamente pequeno (1,5% do PIB em
2008, o menor resultado anual desde o início da série estatística, em
1991).
O estímulo fiscal tende a derrubar
o superávit primário e, portanto, a
aumentar o déficit nominal (que
corresponde, por definição, à diferença entre a carga de juros e o superávit primário). Mas esse efeito é compensado pela diminuição da taxa básica de juro. A depreciação
cambial também ajuda as contas governamentais, pois o setor público
se tornou nos anos recentes credor
líquido em moeda estrangeira.
O governo precisa agir rapidamente para impedir que se instale
uma espiral recessiva.
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. , 53, escreve às quintas-feiras nesta coluna. Diretor-executivo no FMI, representa
um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago).
pnbjr@attglobal.net
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