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Google pressiona teles na banda larga
Empresa vai oferecer, em fase de teste, acesso de alta velocidade em algumas cidades americanas
Anúncio ocorre em meio a discussão de novo plano para a web e pressiona setor a oferecer conexão mais rápida, que pode trazer mais clientes
MIGUEL HELFT
DO "NEW YORK TIMES"
O Google anunciou anteontem que oferecerá acesso de alta velocidade à internet em algumas comunidades dos EUA,
parte de um teste que pode demonstrar as possibilidades oferecidas por redes de banda larga mais rápidas.
Na visão do Google quanto ao
futuro da web, transmissões ao
vivo de imagens em 3D de uma
clínica rural de saúde a um centro médico especializado ou o
download de um longa-metragem em apenas alguns minutos
se tornariam comuns.
Mas a promessa de montar
uma rede de demonstração
também representa o mais recente exemplo do uso das reservas de capital e influência da
gigante das buscas on-line para
direcionar o futuro da rede da
forma que lhe convém.
O Google vem há muito expressando insatisfação com a
banda larga nos EUA, onde as
velocidades são muito inferiores às de outros países desenvolvidos. A empresa anunciou
seu plano para uma rede de alta
velocidade, que estaria aberta a
outras empresas interessadas
em oferecer acesso à internet,
no momento em que as autoridades federais colocaram em
debate novas regras para a web
e estão preparando, por ordem
do Congresso, um plano nacional para banda larga que pode
pedir a criação de redes de
maior velocidade no país todo.
O Google está mostrando ao
governo que "podemos ter redes de banda larga abertas e
muito rápidas, que rompam o
duopólio das operadoras de telefonia e TV a cabo que hoje
existe", disse Ben Scott, da Free
Press, organização que defende
uma internet mais aberta.
Os críticos dizem que a decisão do Google é pouco mais que
um esforço de relações públicas
com o objetivo de promover os
objetivos políticos da empresa.
Eles alegam que, com o investimento de quantias relativamente modestas, o Google estaria na prática pressionando
as empresas de telecomunicações que oferecem banda larga
a milhões de domicílios para
que se enquadrem às regras
que o Google deseja.
"Trata-se basicamente de um
golpe de relações públicas", disse Scott Cleland, presidente da
Netcompetition.org, organização que representa empresas
de telecomunicações e se opõe
a novas regulamentações para a
internet. "Por um lado, o Google defende regulamentação
que sufocaria o desenvolvimento da banda larga, por outro, afirma que as empresas de
telecomunicações deveriam investir centenas de bilhões de
dólares" a fim de oferecer acesso de alta velocidade a todos os
americanos, disse Cleland.
O Google já vinha contestando os modelos de negócios das
empresas de telecomunicações. Em 2008, fez lance de
mais de US$ 4 bilhões em leilão
do governo por frequências de
comunicação móvel apenas para afrouxar o domínio das teles
sobre as frequências.
"O Google parece jogar uma
partida de xadrez", disse David
Yoffe, professor na escola de
administração de empresas da
Universidade Harvard. "Se
conseguirem criar um compromisso minimamente confiável
de oferecer banda larga super-rápida aos usuários domésticos, pode causar medo nas operadoras de cabo e teles, estimulando uma corrida de investimentos exatamente da mesma
maneira que fizeram quando
do leilão de frequências."
Num post em seu blog oficial,
o Google anunciou que planejava construir e testar uma rede
de fibra óptica e alta velocidade
capaz de permitir navegação a
um gigabyte por segundo, ou
cerca de cem vezes a velocidade
atual de muitas conexões de
banda larga. O teste poderia ser
oferecido em diversas comunidades, a até 500 mil pessoas. Richard Whitt, diretor de telecomunicações e mídia do
Google, disse que a companhia
não está entrando no acesso à
internet, mas usando o teste
para levar o setor a oferecer
acesso mais rápido por preço
mais baixo. "É um empurrãozinho em termos de modelos de
negócios e de inovação." Whitt disse que, caso o projeto tenha sucesso, o Google se
beneficiaria porque mais pessoas usariam a internet e, com
isso, os serviços da empresa.
O Google também anunciou
que, nas próximas seis semanas, solicitará propostas de comunidades interessadas no
serviço e anunciará os locais
dos testes ainda neste ano.
No começo do ano, o Google
instou a Comissão Federal de
Comunicações (FCC), que deve
anunciar um plano nacional de
banda larga ao Congresso no
ano que vem, a encorajar projetos de teste semelhantes. Whitt
disse que o Google havia decidido colocar dinheiro na ideia,
sem revelar valores.
Em comunicado, Julius Genachowkski, presidente da
FCC, recebeu positivamente o
anúncio do Google. "Esse importante teste oferecerá uma
referência para a avaliação da
próxima geração de aplicativos
inovadores e velozes de acesso
à internet nos EUA", disse. "O
Plano Nacional de Banda Larga
da FCC se baseará nessas iniciativas do setor privado e incluirá recomendações para facilitar e acelerar um maior investimento em banda larga."
Whitt disse que o Google
criará a rede e oferecerá acesso
à internet aos consumidores.
Mas abrirá a rede a outros provedores de acesso, emulando
modelo de negócios comum na
era do acesso discado. Esse modelo praticamente desapareceu
nos EUA com a banda larga,
mas é comum em outros países.
O Google tem um longo histórico de pressionar o que vê
como barreiras a um acesso rápido e simples à internet. Desde 2006, opera uma rede sem
fio gratuita em Mountain View,
Califórnia, cidade que abriga
sua sede. Depois, apoiou plano
para a oferta de serviço semelhante em San Francisco, mas
não foi adiante devido à oposição de autoridades municipais.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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