São Paulo, sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

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Google pressiona teles na banda larga

Empresa vai oferecer, em fase de teste, acesso de alta velocidade em algumas cidades americanas

Anúncio ocorre em meio a discussão de novo plano para a web e pressiona setor a oferecer conexão mais rápida, que pode trazer mais clientes


MIGUEL HELFT
DO "NEW YORK TIMES"

O Google anunciou anteontem que oferecerá acesso de alta velocidade à internet em algumas comunidades dos EUA, parte de um teste que pode demonstrar as possibilidades oferecidas por redes de banda larga mais rápidas.
Na visão do Google quanto ao futuro da web, transmissões ao vivo de imagens em 3D de uma clínica rural de saúde a um centro médico especializado ou o download de um longa-metragem em apenas alguns minutos se tornariam comuns.
Mas a promessa de montar uma rede de demonstração também representa o mais recente exemplo do uso das reservas de capital e influência da gigante das buscas on-line para direcionar o futuro da rede da forma que lhe convém.
O Google vem há muito expressando insatisfação com a banda larga nos EUA, onde as velocidades são muito inferiores às de outros países desenvolvidos. A empresa anunciou seu plano para uma rede de alta velocidade, que estaria aberta a outras empresas interessadas em oferecer acesso à internet, no momento em que as autoridades federais colocaram em debate novas regras para a web e estão preparando, por ordem do Congresso, um plano nacional para banda larga que pode pedir a criação de redes de maior velocidade no país todo.
O Google está mostrando ao governo que "podemos ter redes de banda larga abertas e muito rápidas, que rompam o duopólio das operadoras de telefonia e TV a cabo que hoje existe", disse Ben Scott, da Free Press, organização que defende uma internet mais aberta.
Os críticos dizem que a decisão do Google é pouco mais que um esforço de relações públicas com o objetivo de promover os objetivos políticos da empresa. Eles alegam que, com o investimento de quantias relativamente modestas, o Google estaria na prática pressionando as empresas de telecomunicações que oferecem banda larga a milhões de domicílios para que se enquadrem às regras que o Google deseja.
"Trata-se basicamente de um golpe de relações públicas", disse Scott Cleland, presidente da Netcompetition.org, organização que representa empresas de telecomunicações e se opõe a novas regulamentações para a internet. "Por um lado, o Google defende regulamentação que sufocaria o desenvolvimento da banda larga, por outro, afirma que as empresas de telecomunicações deveriam investir centenas de bilhões de dólares" a fim de oferecer acesso de alta velocidade a todos os americanos, disse Cleland.
O Google já vinha contestando os modelos de negócios das empresas de telecomunicações. Em 2008, fez lance de mais de US$ 4 bilhões em leilão do governo por frequências de comunicação móvel apenas para afrouxar o domínio das teles sobre as frequências.
"O Google parece jogar uma partida de xadrez", disse David Yoffe, professor na escola de administração de empresas da Universidade Harvard. "Se conseguirem criar um compromisso minimamente confiável de oferecer banda larga super-rápida aos usuários domésticos, pode causar medo nas operadoras de cabo e teles, estimulando uma corrida de investimentos exatamente da mesma maneira que fizeram quando do leilão de frequências."
Num post em seu blog oficial, o Google anunciou que planejava construir e testar uma rede de fibra óptica e alta velocidade capaz de permitir navegação a um gigabyte por segundo, ou cerca de cem vezes a velocidade atual de muitas conexões de banda larga. O teste poderia ser oferecido em diversas comunidades, a até 500 mil pessoas.
Richard Whitt, diretor de telecomunicações e mídia do Google, disse que a companhia não está entrando no acesso à internet, mas usando o teste para levar o setor a oferecer acesso mais rápido por preço mais baixo. "É um empurrãozinho em termos de modelos de negócios e de inovação."
Whitt disse que, caso o projeto tenha sucesso, o Google se beneficiaria porque mais pessoas usariam a internet e, com isso, os serviços da empresa.
O Google também anunciou que, nas próximas seis semanas, solicitará propostas de comunidades interessadas no serviço e anunciará os locais dos testes ainda neste ano.
No começo do ano, o Google instou a Comissão Federal de Comunicações (FCC), que deve anunciar um plano nacional de banda larga ao Congresso no ano que vem, a encorajar projetos de teste semelhantes. Whitt disse que o Google havia decidido colocar dinheiro na ideia, sem revelar valores.
Em comunicado, Julius Genachowkski, presidente da FCC, recebeu positivamente o anúncio do Google. "Esse importante teste oferecerá uma referência para a avaliação da próxima geração de aplicativos inovadores e velozes de acesso à internet nos EUA", disse. "O Plano Nacional de Banda Larga da FCC se baseará nessas iniciativas do setor privado e incluirá recomendações para facilitar e acelerar um maior investimento em banda larga."
Whitt disse que o Google criará a rede e oferecerá acesso à internet aos consumidores. Mas abrirá a rede a outros provedores de acesso, emulando modelo de negócios comum na era do acesso discado. Esse modelo praticamente desapareceu nos EUA com a banda larga, mas é comum em outros países.
O Google tem um longo histórico de pressionar o que vê como barreiras a um acesso rápido e simples à internet. Desde 2006, opera uma rede sem fio gratuita em Mountain View, Califórnia, cidade que abriga sua sede. Depois, apoiou plano para a oferta de serviço semelhante em San Francisco, mas não foi adiante devido à oposição de autoridades municipais.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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