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São Paulo, quarta-feira, 12 de março de 2003

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Para governo, juro é arma eficaz contra inflação

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A cúpula do governo resolveu matar a discussão sobre se terá ou não coragem de elevar os juros na reunião do Copom (Conselho da Política Monetária) na semana que vem por avaliar que esse debate enfraquece o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho.
A taxa subirá se Palocci e o Copom julgarem necessário para combater a inflação.
Em debate no "núcleo duro" do governo, o grupo formado por ministros e auxiliares petistas mais próximos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é consenso que a alta da inflação deve ser combatida com alta de juros.
Um integrante do "núcleo duro" disse ontem que o instrumento é esse e "não vai mudar".
Mais: o presidente ficou contrariado com questionamentos recentes à condução da economia. Primeiro, rejeitou a pressão de parte do PT por um "Plano B", como revelou a Folha. Segundo, chateou-se com a versão de que poderia impedir um novo aumento da taxa básica de juros.
Segundo a Folha apurou, essa versão nasceu de uma brincadeira de Lula com Palocci na frente de três dirigentes do PMDB, num café dominical em 23 de fevereiro. O presidente disse que sua bursite piorava cada vez que Palocci o comunicava de um aumento dos juros e que esperava que a dor não aumentasse mais.
Na sequência, auxiliares do presidente, interessados em difundir a versão de que Lula se sente desconfortável com juros altos, alimentaram a versão de que ele poderia rejeitar um novo aumento da taxa definida pelo Copom em suas reuniões mensais.
Em 60 dias de governo, a taxa de juros básica foi elevada em 1,5 ponto percentual. Nas duas vezes, Lula manifestou contrariedade, mas acatou a decisão técnica.
Mas a versão de que poderia rejeitar novo aumento levou parte do mercado a apostar que Palocci poderia estar enfraquecido. Ontem, o boletim "Tendências", espécie de voz dos economistas de direita, falava em incerteza sobre a autonomia da equipe econômica para subir os juros.
Ciente da avaliação dos investidores e da possibilidade de ter de aumentar de novo os juros, o ministro da Fazenda deu o grito interno. Apesar de Palocci não sofrer boicote no governo, expoentes do PT e até alguns políticos aliados o criticaram em conversas reservadas e chegaram a pressionar Lula por um "Plano B". Entre esses críticos estão o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), que nega de público fazer parte do grupo de algozes de Palocci, e a economista Maria da Conceição Tavares, madrinha política da indicação do economista Carlos Lessa para o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Ao reiterar a força de Palocci e da equipe econômica, a cúpula do governo dá um recado à parcela do PT que falou em "Plano B". Há, sim, no governo uma disposição de em algum momento baixar os juros e partir para um modelo de desenvolvimento que dependa menos das condições internacionais da economia. Por ora, o resto é pressão ou desejo de uma minoria petista e de políticos aliados fora do centro das decisões.


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