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Para governo, juro é arma eficaz contra inflação
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A cúpula do governo resolveu
matar a discussão sobre se terá ou
não coragem de elevar os juros na
reunião do Copom (Conselho da
Política Monetária) na semana
que vem por avaliar que esse debate enfraquece o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho.
A taxa subirá se Palocci e o Copom julgarem necessário para
combater a inflação.
Em debate no "núcleo duro" do
governo, o grupo formado por
ministros e auxiliares petistas
mais próximos ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, é consenso
que a alta da inflação deve ser
combatida com alta de juros.
Um integrante do "núcleo duro" disse ontem que o instrumento é esse e "não vai mudar".
Mais: o presidente ficou contrariado com questionamentos recentes à condução da economia.
Primeiro, rejeitou a pressão de
parte do PT por um "Plano B", como revelou a Folha. Segundo,
chateou-se com a versão de que
poderia impedir um novo aumento da taxa básica de juros.
Segundo a Folha apurou, essa
versão nasceu de uma brincadeira
de Lula com Palocci na frente de
três dirigentes do PMDB, num café dominical em 23 de fevereiro. O
presidente disse que sua bursite
piorava cada vez que Palocci o comunicava de um aumento dos juros e que esperava que a dor não
aumentasse mais.
Na sequência, auxiliares do presidente, interessados em difundir
a versão de que Lula se sente desconfortável com juros altos, alimentaram a versão de que ele poderia rejeitar um novo aumento
da taxa definida pelo Copom em
suas reuniões mensais.
Em 60 dias de governo, a taxa de
juros básica foi elevada em 1,5
ponto percentual. Nas duas vezes,
Lula manifestou contrariedade,
mas acatou a decisão técnica.
Mas a versão de que poderia rejeitar novo aumento levou parte
do mercado a apostar que Palocci
poderia estar enfraquecido. Ontem, o boletim "Tendências", espécie de voz dos economistas de
direita, falava em incerteza sobre
a autonomia da equipe econômica para subir os juros.
Ciente da avaliação dos investidores e da possibilidade de ter de
aumentar de novo os juros, o ministro da Fazenda deu o grito interno. Apesar de Palocci não sofrer boicote no governo, expoentes do PT e até alguns políticos
aliados o criticaram em conversas
reservadas e chegaram a pressionar Lula por um "Plano B". Entre
esses críticos estão o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), que nega de público fazer parte do grupo de algozes
de Palocci, e a economista Maria
da Conceição Tavares, madrinha
política da indicação do economista Carlos Lessa para o BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Ao reiterar a força de Palocci e
da equipe econômica, a cúpula do
governo dá um recado à parcela
do PT que falou em "Plano B".
Há, sim, no governo uma disposição de em algum momento baixar
os juros e partir para um modelo
de desenvolvimento que dependa
menos das condições internacionais da economia. Por ora, o resto
é pressão ou desejo de uma minoria petista e de políticos aliados fora do centro das decisões.
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