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GASTO PÚBLICO
Segundo ex-presidente da subsidiária Lightpar, empresa é "cabide de empregos" do PT; atual dirigente nega
Eletrobrás é acusada de "empreguismo"
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A Eletrobrás, estatal que controla o setor elétrico no país, mantém
há anos uma estrutura considerada cara e inútil que abriga pessoas
ligadas a uma dobradinha PT-PMDB recebendo salários mensais de R$ 14.350.
Eles estão alojados no Rio na
Lightpar, subsidiária da Eletrobrás criada para controlar a Eletronet, uma relíquia da "bolha da
internet", que estourou em 2000.
A situação da Ligthpar e de outros empregados da Eletrobrás está levando os funcionários a protocolar denúncias na CVM (Comissão de Valores Mobiliários)
contra o que consideram "abusos" em relação aos acionistas minoritários -entre eles, os próprios funcionários.
Isso ocorre no momento em
que a Eletrobrás se prepara para
tentar lançar títulos (os chamados
ADRs) na Bolsa de Valores de Nova York, em maio.
Segundo a Aeel (Associação dos
Empregados da Eletrobrás), há
cerca de 40 assessores encaixados
nas diversas diretorias, departamentos e subsidiárias (58% dos
quais não pertencem aos quadros
da estatal) que provocam gastos
mensais da ordem de R$ 600 mil.
O caso da subsidiária Lightpar,
segundo seu ex-presidente Joaquim de Carvalho, é um exemplo
de "cabide de empregos" no sistema elétrico estatal brasileiro.
A Lightpar nega que haja contratações políticas ou desnecessárias.
"Honorários elevados"
Carvalho foi convidado a assumir a Lightpar em março de 2005,
depois que um escândalo abalou a
imagem da empresa. Seu antecessor, o ex-deputado José Eudes
(PT), foi preso em flagrante em
um motel do Rio com um garoto
de 17 anos.
Alguns meses depois de assumir a Lightpar, Carvalho enviou
em outubro passado carta ao ministro Silas Rondeau (Energia)
em que sugeria o fechamento da
empresa. Disse que a Lightpar
existia "só para pagar salários" a
pessoas sem "atividade-fim".
Duas semanas depois da carta,
Carvalho foi convocado pelo presidente da Eletrobrás, Aloísio
Vasconcelos, para uma reunião,
na qual foi convidado para ser
"consultor" da presidência da
empresa, "com honorários elevados e horário flexível".
Carvalho recusou o convite, por
achar que queriam "demiti-lo para cima", e deixou a Lightpar.
Procurado desde quarta-feira, o
presidente da Eletrobrás não respondeu aos pedidos de entrevista
da reportagem.
A Lightpar é presidida hoje pelo
sindicalista Rogério Silva, que, na
gestão de Marta Suplicy (PT), foi
chefe-de-gabinete da Prodam,
empresa de processamento de dados da cidade de São Paulo.
O diretor financeiro é Nelson
Rocha, ex-secretário estadual da
Fazenda na gestão de Benedita da
Silva (PT) no Rio. Além de Rocha,
a empresa tem mais dois diretores: Márcio Siqueira (técnico) e
Carlos Evandro (administrativo),
ligados ao PMDB de Minas, o primeiro da "ala Itamar", o outro, da
"ala Newton Cardoso", que é a
mesma de Aloísio Vasconcelos.
Salários e adicionais
Cada diretor recebe salário
mensal de R$ 14.350, sendo que os
de fora do Rio (Rogério, Márcio e
Evandro) ganham um adicional
de R$ 1.800 por mês, a título de
"auxílio-moradia".
Embora o atual presidente da
Lightpar negue, pessoas ligadas à
Eletrobrás afirmam que os diretores recebem 14 salários por ano e
que os três "de fora" decidiram
atribuir a si próprios R$ 28.700
(dois salários cada um) em 2005
para custear despesas com suas
mudanças. Eles já moravam no
Rio de Janeiro.
Há ainda dois "colaboradores
da presidência" com proventos
que chegam a R$ 10.600. Na mesma faixa salarial constam um
consultor jurídico, um secretário-geral e um contador.
Com despesas maiores que suas
receitas, a Lightpar acumulou
prejuízo de R$ 742 mil entre janeiro e julho de 2005.
Os resultados completos do ano
passado ainda não foram divulgados. A Lightpar tem como principal fonte de dinheiro pequenas
participações acionárias em empresas do setor elétrico.
Segundo Carvalho, desde que a
Eletronet faliu, em 2003, a Lightpar, que era a sua controladora,
deixou de ter razão para existir.
A Eletronet é uma rede de fibras
ópticas de 16.000 km que cobre o
Brasil utilizando as linhas de
transmissão de quatro empresas
do grupo Eletrobrás. Foi criada
para vender serviços de transmissão de dados, mas faliu afundada
em dívidas, hoje em torno de R$
600 milhões.
Massa falida
Atualmente, a Eletronet é administrada unicamente pelo advogado Isaac Zveiter, apontado como gestor da massa falida. Zveiter
tenta sanear a empresa e almeja
transformá-la em "noiva" para algum grupo de telecomunicações.
Questionado sobre as funções
da Lightpar e sua razão de ser, seu
atual presidente, Rogério Silva,
diz que elas são duas, basicamente: administrar a carteira de participações que a Lightpar tem em
menos de meia dúzia de empresas
do setor elétrico (a maior delas de
1,34%) e encontrar uma solução
para a falida Eletronet.
"Temos que acompanhar o negócio Eletronet. Estamos em fase
de avaliação, pois temos de prestar contas ao síndico da massa falida. Por isso é que estamos nesse
ritmo de trabalho e não conseguimos enxugar mais [a Lightpar].
Estamos tentando ajudar a salvar
o negócio Eletronet", diz Silva.
Já Zveiter, síndico da massa falida da Eletronet, tem outra avaliação. "A Lightpar não apita nada.
Eles se declararam incapazes de
tocar a empresa com a falência.
Não tenho diálogo com o pessoal
da Lightpar. Eles não têm nenhuma contribuição a dar", diz.
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