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OPINIÃO ECONÔMICA
Educação e desenvolvimento
JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN
No começo da década de 70,
Carlos Langoni voltou ao
Brasil trazendo os resultados de
sua tese de doutoramento na Universidade de Chicago, onde documentou que investimentos em educação no nosso país tinham uma
taxa de retorno muito alta e que,
além disso, poderiam servir para
reduzir a desigualdade. A qualidade do trabalho de Langoni havia
impressionado seus professores,
entre os quais Theodore Schultz e
Gary Becker, que viriam a receber
o Prêmio Nobel pela contribuição
que fizeram ao estudo do "capital
humano". Mas a tese foi acolhida
com hostilidade no meio acadêmico brasileiro e, infelizmente, teve
pouca influência na política educacional.
Mas hoje há um consenso cada
vez maior sobre a importância da
educação no desenvolvimento.
Países asiáticos como a Coréia do
Sul são exemplos do impacto de investimentos maciços em educação
primária e secundária. Estudos recentes argumentam que diferenças
em investimento na educação terciária -3% do PIB nos EUA, mas
apenas 1,1% do PIB na Europa-
ajudam a explicar os hiatos de
crescimento econômico e de ganhos de produtividade entre os
EUA e a Europa.
Um problema na análise estatística da relação entre educação e
desenvolvimento é que a demanda
por educação aumenta na medida
em que um país se torna mais rico.
Investimentos em educação poderiam estar correlacionados com o
crescimento sem que houvesse
uma relação de causalidade. Há
muitos exemplos de países que investiram em educação quando
ainda eram pobres e depois cresceram rapidamente, mas os economistas preferem, por boas razões,
argumentos baseados na análise
estatística de bases de dados ao estudo de casos.
Um artigo recente de professores
da Universidade Harvard* ajuda a
resolver essa questão. O trabalho
utiliza métodos estatísticos sofisticados para separar o efeito da educação no crescimento, da maior
demanda por educação que resulta do aumento de riqueza.
Em vez de comparar países, os
autores estudaram variações em
investimentos em educação entre
os Estados norte-americanos, o
que diminui a heterogeneidade de
outros fatores determinantes do
desenvolvimento. Afora demonstrar que gastos em educação geram crescimento econômico, os
pesquisadores de Harvard documentaram que os investimentos
em pós-graduação e centros de pesquisa têm um efeito muito maior
nos Estados onde o avanço tecnológico já é mais extenso, como
Massachusetts, do que em Estados
menos desenvolvidos, como o Alabama.
Uma razão provável é que gastos
em educação avançada são mais
produtivos onde já existe mais atividade de ensino de pós-graduação
e de pesquisa. Uma outra é que esses gastos estimulam investimentos
complementares em inovação tecnológica. Para Estados mais longe
da fronteira tecnológica, investimentos em educação secundária
têm maior impacto no desenvolvimento do que gastos em educação
avançada.
Para o Brasil, há pelo menos
duas lições. A primeira é que precisamos aumentar os gastos em educação, focalizando principalmente
nos níveis primário e secundário. A
segunda é que os investimentos em
educação avançada devem ser
concentrados em localidades onde
já existem centros importantes de
educação e de pesquisa.
Essas conclusões não serão bem
recebidas pelos que preferem que o
governo federal concentre os seus
gastos nas universidades ou pelos
defensores da "descentralização"
da pós-graduação e da pesquisa
universitária. Mas será uma pena
se os nossos governantes não levarem em consideração, mais uma
vez, a evidência empírica sobre a
conexão entre educação e desenvolvimento.
* "Exploiting States" Mistakes to Identify
the Causal Impact of Higher Education on
Growth", Philippe Aghion, Leah Boustan,
Caroline Hoxby e Jerome Vandenbussche,
http://post.economics.harvard.edu/faculty/aghion/papers/Exploiting-States-Mistakes.pdf
José Alexandre Scheinkman, 58, professor de economia na Universidade Princeton (EUA), escreve quinzenalmente aos
domingos nesta coluna.
E-mail -
jose.scheinkman@gmail.com
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