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Bolsa de SP avança 4% com ajuda do Fed
Socorro do BC americano aos bancos acalmou, por ora, os investidores; apesar da alta, Bovespa acumula baixa de 2,4% no ano
Economistas alertam de que a tranqüilidade pode ser passageira, já que as causas do problema das hipotecas ainda não foram resolvidas
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
À semelhança das Bolsas de
Valores em todo o mundo, a Bovespa reagiu euforicamente,
ontem, ao socorro que o Fed
(Federal Reserve, banco central dos EUA) anunciou para as
instituições financeiras em dificuldades devido à crise imobiliária. A Bolsa de São Paulo alcançou os 62.367 pontos, com
uma alta de 3,95%, levantando-se do tombo da véspera. Trata-se da maior elevação desde 24
de janeiro, quando ela havia subido 5,95%. O dólar comercial
também teve queda de 1,28%,
vendido a R$ 1,684.
"Os investidores levaram
bastante a sério a medida, que
irrigará o mercado com recursos. Soluciona a questão? Ainda
não dá para saber, mas certamente é um passo forte nesse
sentido", diz Marco Franklin,
sócio da Paraty Investimentos.
"Com a atuação, o Fed reduz o
risco de uma crise sistêmica."
A proposta do Fed, uma linha
de crédito de US$ 200 bilhões,
veio após três dias de forte pessimismo nos mercados globais.
Bancos e financeiras poderão
tomar emprestado o dinheiro
de que precisarem entregando,
como garantia, títulos lastreados em empréstimos imobiliários que estiverem em seu poder -foi com esses papéis que
as turbulências começaram. O
grande temor agora é que os
problemas se espalhem pelo
restante da economia, provocando uma recessão. Ao estender a mão para o setor financeiro, o BC espera remediar o caso
antes de um desastre.
Alguns economistas criticaram a idéia, porque o montante
envolvido é muito pequeno
diante do tamanho do mercado
de hipotecas: US$ 10 trilhões.
"O BC americano deixou bem
claro que pode aumentar o valor do programa se for necessário. Acredito que pode até vir a
comprar os títulos hipotecários
caso o cenário piore", comentou Marco Franklin.
Foi a segunda intervenção do
Fed em uma semana. Na sexta-feira, ele já tinha oferecido US$
100 bilhões para as instituições. No entanto, de acordo
com analistas, o mercado de
crédito interbancário continuava praticamente parado e
faltava dinheiro para financiamentos até aos consumidores
que possuem baixíssima probabilidade de inadimplência.
Dúvidas
Em Nova York, o Fed conseguiu o seu intento de passar
confiança para um mercado
apreensivo. Ignorou-se até um
novo recorde do petróleo -o
barril subiu até US$ 109,72 durante o expediente. O índice
Dow Jones subiu 3,55% e a
Nasdaq (onde são negociadas
ações de empresas de tecnologia), 3,98%, as suas maiores elevações desde março de 2003.
Na Bovespa, os investidores
saíram à caça de papéis de grandes empresas com bons fundamentos que registraram perdas
notáveis nos últimos dias, as
chamadas pechinchas. As ações
PN (preferenciais) da Companhia Vale do Rio Doce subiram
5,27%, a R$ 48,49, e as ON (ordinárias) tiveram valorização
de 4,11%, a R$ 56,74. Quanto às
da Petrobras, a elevação foi de
3,92%, a R$ 79,71, na PN e
3,91%, a R$ 96,20, na ON.
Apesar do expressivo avanço
na terça-feira, a Bolsa brasileira
ainda acumula baixa de 2,37%
no ano. O dólar tem queda de
5,23% no período. "A aversão
ao risco deve diminuir um pouco, como hoje [ontem]", comenta Franklin. "Porém, a cautela persiste no curto prazo."
Nelson Carneiro, economista sênior da agência de classificação de risco Austin Rating, é
da mesma opinião. Para ele -e
boa parte dos especialistas-, a
ajuda do Fed proporcionará
um alívio momentâneo apenas.
"Resolve por um tempo, e depois volta o nervosismo como
antes. Ainda mais se começarem a surgir notícias de fraudes
nos balanços das financeiras
para esconder rombos causados pelas hipotecas, como andam dizendo os boatos", alerta.
O momento é de esperar para
ver os desdobramentos da crise. "Os estrangeiros estão tirando dinheiro do Brasil para
cobrir buracos nas suas posições lá fora. O dólar pode subir
mais se o nervosismo aumentar
e eles continuarem saindo."
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