São Paulo, quarta-feira, 12 de março de 2008

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Bolsa de SP avança 4% com ajuda do Fed

Socorro do BC americano aos bancos acalmou, por ora, os investidores; apesar da alta, Bovespa acumula baixa de 2,4% no ano

Economistas alertam de que a tranqüilidade pode ser passageira, já que as causas do problema das hipotecas ainda não foram resolvidas

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

À semelhança das Bolsas de Valores em todo o mundo, a Bovespa reagiu euforicamente, ontem, ao socorro que o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) anunciou para as instituições financeiras em dificuldades devido à crise imobiliária. A Bolsa de São Paulo alcançou os 62.367 pontos, com uma alta de 3,95%, levantando-se do tombo da véspera. Trata-se da maior elevação desde 24 de janeiro, quando ela havia subido 5,95%. O dólar comercial também teve queda de 1,28%, vendido a R$ 1,684.
"Os investidores levaram bastante a sério a medida, que irrigará o mercado com recursos. Soluciona a questão? Ainda não dá para saber, mas certamente é um passo forte nesse sentido", diz Marco Franklin, sócio da Paraty Investimentos. "Com a atuação, o Fed reduz o risco de uma crise sistêmica."
A proposta do Fed, uma linha de crédito de US$ 200 bilhões, veio após três dias de forte pessimismo nos mercados globais. Bancos e financeiras poderão tomar emprestado o dinheiro de que precisarem entregando, como garantia, títulos lastreados em empréstimos imobiliários que estiverem em seu poder -foi com esses papéis que as turbulências começaram. O grande temor agora é que os problemas se espalhem pelo restante da economia, provocando uma recessão. Ao estender a mão para o setor financeiro, o BC espera remediar o caso antes de um desastre.
Alguns economistas criticaram a idéia, porque o montante envolvido é muito pequeno diante do tamanho do mercado de hipotecas: US$ 10 trilhões. "O BC americano deixou bem claro que pode aumentar o valor do programa se for necessário. Acredito que pode até vir a comprar os títulos hipotecários caso o cenário piore", comentou Marco Franklin.
Foi a segunda intervenção do Fed em uma semana. Na sexta-feira, ele já tinha oferecido US$ 100 bilhões para as instituições. No entanto, de acordo com analistas, o mercado de crédito interbancário continuava praticamente parado e faltava dinheiro para financiamentos até aos consumidores que possuem baixíssima probabilidade de inadimplência.

Dúvidas
Em Nova York, o Fed conseguiu o seu intento de passar confiança para um mercado apreensivo. Ignorou-se até um novo recorde do petróleo -o barril subiu até US$ 109,72 durante o expediente. O índice Dow Jones subiu 3,55% e a Nasdaq (onde são negociadas ações de empresas de tecnologia), 3,98%, as suas maiores elevações desde março de 2003.
Na Bovespa, os investidores saíram à caça de papéis de grandes empresas com bons fundamentos que registraram perdas notáveis nos últimos dias, as chamadas pechinchas. As ações PN (preferenciais) da Companhia Vale do Rio Doce subiram 5,27%, a R$ 48,49, e as ON (ordinárias) tiveram valorização de 4,11%, a R$ 56,74. Quanto às da Petrobras, a elevação foi de 3,92%, a R$ 79,71, na PN e 3,91%, a R$ 96,20, na ON.
Apesar do expressivo avanço na terça-feira, a Bolsa brasileira ainda acumula baixa de 2,37% no ano. O dólar tem queda de 5,23% no período. "A aversão ao risco deve diminuir um pouco, como hoje [ontem]", comenta Franklin. "Porém, a cautela persiste no curto prazo."
Nelson Carneiro, economista sênior da agência de classificação de risco Austin Rating, é da mesma opinião. Para ele -e boa parte dos especialistas-, a ajuda do Fed proporcionará um alívio momentâneo apenas. "Resolve por um tempo, e depois volta o nervosismo como antes. Ainda mais se começarem a surgir notícias de fraudes nos balanços das financeiras para esconder rombos causados pelas hipotecas, como andam dizendo os boatos", alerta.
O momento é de esperar para ver os desdobramentos da crise. "Os estrangeiros estão tirando dinheiro do Brasil para cobrir buracos nas suas posições lá fora. O dólar pode subir mais se o nervosismo aumentar e eles continuarem saindo."


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