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VINICIUS TORRES FREIRE
O real e os irrealismos cambiais
Plano discutido para conter a valorização do real é o mesmo de novembro passado; dúvida sobre sua eficácia também
EM PELO menos duas ocasiões,
no ano passado, o governo sofreu da febre terçã do real forte. Em fevereiro, rechaçou a pressão
de empresários, "desenvolvimentistas" e PT. Em novembro, além do
"fundo soberano", a Fazenda discutia um pacote idêntico ao que voltou
a cogitar, segundo o jornal "Valor".
Na tarde de ontem, estava marcada
reunião do Conselho Monetário Nacional para hoje. Durante a noite,
Guido Mantega, da Fazenda, e Henrique Meirelles, ministro-presidente do BC, discutiam "medidas".
Em fevereiro, Mantega descartou
controle de capitais. "Para o atual
sistema financeiro, o controle de capitais é inadequado porque não é
mais no mercado à vista que se verificam os movimentos de operações
cambiais, mas no mercado futuro. E
no mercado futuro o capital físico
não entra. Então, não adianta fechar
as portas porque não terá os resultados esperados", dizia o ministro.
Em novembro, a Fazenda discutia
o aumento do IOF na entrada de capital externo, a volta do Imposto de
Renda sobre ganhos de estrangeiros
com títulos da dívida pública e a permissão para exportadores deixarem
seu faturamento no exterior. A queda da CPMF e a crise americana levaram o Ministério da Fazenda a enterrar o plano.
Bem, aumentar imposto sobre
operação financeira de não-residentes pode reduzir, ao menos temporariamente, o volume da entrada de
dólares. Mudará a tendência?
Pode-se "chutar a porta" da
BM&F, do mercado futuro de câmbio. Isto é, elevar o risco de especular
com o real, fazendo com que as variações do câmbio possam implicar
perdas maiores para os investidores.
Mas tal solução talvez "abra uma lata de vermes", crie uma imprevisível
confusão, como dizem os americanos. Teria de ser uma medida muito
esperta para que funcionasse, não
desse rolo e ainda não fosse driblada
pelo mercado em três meses.
Baixar os juros pode tornar menos
atrativo o mercado brasileiro e, de
quebra, reduzir o custo de manter
reservas. "Tudo o mais constante",
no médio prazo, juro menor pode
conter a valorização da moeda. Mas
tão cedo não haverá, ou poderá haver, queda significativa da Selic.
Incentivar a exportação por meio
de corte de impostos pode aumentar
a produção doméstica (a depender
da amplitude da "desoneração tributária") e ampliar o comércio, mas
não vai tratar do caso do real forte e
das empresas que dele apanham.
Estranho é considerar que o pequeno Brasil possa controlar o dólar,
que despenca com a economia e os
juros dos Estados Unidos. Pode-se,
porém, fazer com que o real afunde
com a moeda americana. Bom? Países que de um modo ou outro atrelaram suas moedas ao dólar, na Ásia e
no Oriente Médio, estão soltando as
amarras, pois temem inflação. Até a
China, manipuladora-mor da desvalorização da moeda, está nessa.
Mais estranha ainda é a esquizofrenia nacional em relação ao câmbio. Num dia, teme-se que a crise
americana no fim das contas desvalorize demais o real, provoque inflação e eleve os juros. Noutro, o real
forte torna-se ameaça letal para
crescimento e emprego -no limite,
é letal mesmo (mas qual é o limite?).
Enfim: em meio a tamanha confusão mundial, isso é hora de mudar
política de câmbio?
vinit@uol.com.br
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