São Paulo, quarta-feira, 12 de março de 2008

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Inflação da China dispara e bate em 8,7%

Taxa de fevereiro em 12 meses é a maior em mais de uma década; com 23%, alimentos pressionam mais

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A inflação chinesa de fevereiro, de 8,7% em relação ao ano passado, foi a maior registrada em mais de uma década, segundo revelado ontem pelo Escritório Nacional de Estatísticas.
A escalada nos preços acontece principalmente pela alta dos alimentos, setor que teve um aumento de preços de 23%. O inverno rigoroso em janeiro e em fevereiro, com as piores nevascas em décadas, destruiu muitas plantações no centro e no sul do país e paralisou transportes e fábricas.
Alguns produtos, como ovo, carne, frutas e óleo de cozinha, tiveram aumentos de até 50% no mês. A carne suína, uma das bases da culinária chinesa, aumentou 63,4%.
No governo, há o temor de que o descontentamento cresça, justamente a menos de cinco meses da Olimpíada de Pequim. Nos anos 80 e 90, a inflação causou grandes protestos.
O alemão Deutsche Bank aumentou sua previsão para a inflação na China neste ano de 6,4% para 7,2%. "Expectativa de inflação maior pode levar muitos consumidores a estocar produtos, a comprar demais, o que pode provocar uma espiral inflacionária", escreveu o economista do Deutsche Bank Jun Ma em relatório para clientes.
Em janeiro, a inflação anual tinha sido de 7,1%. A maior alta até então era de 14,1%, em 1996.
Fora os alimentos, o aumento de preços foi de apenas 1,6%. Com 37%, o aumento de petróleo e derivados também impactou a economia chinesa.
O setor exportador é afetado pela inflação, de um lado, assim como pela apreciação do yuan, que ganhou 16% ante o dólar nos últimos dois anos, deixando seus produtos mais caros para o mercado externo.

Descompasso com EUA
O Banco do Povo da China, o banco central do país, estuda subir a taxa de juros a curto prazo. No ano passado, os juros subiram cinco vezes, sem os resultados necessários. São esperadas mais medidas macroeconômicas para esfriar a economia, que vive um boom do mercado imobiliário e do de ações.
"Há espaço para maiores aumentos na taxa de juros. Mas o momento e a escala de qualquer ajuste são fatores críticos a considerar", disse o presidente do Banco do Povo, Zhuo Xiaouchan, em entrevista ontem, durante a reunião do Congresso Nacional do Povo.
Zhuo admitiu que os cortes na taxa de juros dos EUA para evitar uma recessão, restringem o poder da China de aumentar seus juros. Com as taxas de juros dos dois países seguindo em direções opostas, espera-se que ainda mais dinheiro tome o rumo da China, dificultando as políticas para controlar o hiperaquecimento da economia e frear a inflação.
Com a preocupação de que haverá mais controle no crédito e em outros instrumentos monetários, as Bolsas chinesas já caíram 20% desde o início do ano. A Bolsa de Xangai recuou 3% na segunda-feira.
Em seu discurso sobre o Estado da Nação realizado na semana passada, o primeiro-ministro, Wen Jiabao, afirmou que o combate à inflação é a maior prioridade para a economia chinesa neste ano.


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