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Inflação da China dispara e bate em 8,7%
Taxa de fevereiro em 12 meses é a maior em mais de uma década; com 23%, alimentos pressionam mais
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
A inflação chinesa de fevereiro, de 8,7% em relação ao ano
passado, foi a maior registrada
em mais de uma década, segundo revelado ontem pelo Escritório Nacional de Estatísticas.
A escalada nos preços acontece principalmente pela alta
dos alimentos, setor que teve
um aumento de preços de 23%.
O inverno rigoroso em janeiro e
em fevereiro, com as piores nevascas em décadas, destruiu
muitas plantações no centro e
no sul do país e paralisou transportes e fábricas.
Alguns produtos, como ovo,
carne, frutas e óleo de cozinha,
tiveram aumentos de até 50%
no mês. A carne suína, uma das
bases da culinária chinesa, aumentou 63,4%.
No governo, há o temor de
que o descontentamento cresça, justamente a menos de cinco meses da Olimpíada de Pequim. Nos anos 80 e 90, a inflação causou grandes protestos.
O alemão Deutsche Bank aumentou sua previsão para a inflação na China neste ano de
6,4% para 7,2%. "Expectativa
de inflação maior pode levar
muitos consumidores a estocar
produtos, a comprar demais, o
que pode provocar uma espiral
inflacionária", escreveu o economista do Deutsche Bank Jun
Ma em relatório para clientes.
Em janeiro, a inflação anual
tinha sido de 7,1%. A maior alta
até então era de 14,1%, em 1996.
Fora os alimentos, o aumento de preços foi de apenas 1,6%.
Com 37%, o aumento de petróleo e derivados também impactou a economia chinesa.
O setor exportador é afetado
pela inflação, de um lado, assim
como pela apreciação do yuan,
que ganhou 16% ante o dólar
nos últimos dois anos, deixando seus produtos mais caros
para o mercado externo.
Descompasso com EUA
O Banco do Povo da China, o
banco central do país, estuda
subir a taxa de juros a curto
prazo. No ano passado, os juros
subiram cinco vezes, sem os resultados necessários. São esperadas mais medidas macroeconômicas para esfriar a economia, que vive um boom do mercado imobiliário e do de ações.
"Há espaço para maiores aumentos na taxa de juros. Mas o
momento e a escala de qualquer ajuste são fatores críticos
a considerar", disse o presidente do Banco do Povo, Zhuo
Xiaouchan, em entrevista ontem, durante a reunião do Congresso Nacional do Povo.
Zhuo admitiu que os cortes
na taxa de juros dos EUA para
evitar uma recessão, restringem o poder da China de aumentar seus juros. Com as taxas de juros dos dois países seguindo em direções opostas, espera-se que ainda mais dinheiro tome o rumo da China, dificultando as políticas para controlar o hiperaquecimento da
economia e frear a inflação.
Com a preocupação de que
haverá mais controle no crédito e em outros instrumentos
monetários, as Bolsas chinesas
já caíram 20% desde o início do
ano. A Bolsa de Xangai recuou
3% na segunda-feira.
Em seu discurso sobre o Estado da Nação realizado na semana passada, o primeiro-ministro, Wen Jiabao, afirmou
que o combate à inflação é a
maior prioridade para a economia chinesa neste ano.
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