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São Paulo, sábado, 12 de abril de 2003

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ANO DO DRAGÃO

Empresas que antes alegavam alta do dólar para alterar tabelas agora dizem que são "outros custos"

"Motor" da inflação volta a reajustar preços

ADRIANA MATTOS
MAELI PRADO

DA REPORTAGEM LOCAL

Os fabricantes de embalagens -um dos termômetros da economia- receberam de indústrias petroquímicas, em 1º de abril, outra tabela com novos aumentos de preços. Eles são os "motores" da inflação e exercem uma espécie de efeito dominó. Se os preços das embalagens sobem, muitos produtos também sobem.
Essas empresas acataram pedidos de reajustes de 10% a 12% em insumos básicos -usados para produzir de latas de alumínio para achocolatados a plástico para eletrônicos. O dado foi confirmado pela empresa Dixie-Toga.
O governo tem ameaçado, sem fazer alarde, chamar as empresas para uma conversa caso cometam aumentos abusivos, segundo apurou a Folha. Isso pode ocorrer por meios de suas secretarias ligadas ao Ministério da Justiça.
Na prática, o que existe em discussão no mercado é uma contradição que irrita os compradores de insumos.
Se antes as empresas justificavam o aumento por conta da escalada do dólar, agora a razão são "outros custos". E quem pagará a conta é o consumidor.
No segundo semestre de 2002, a valorização da moeda estrangeira foi a razão maior para aumentos. Os principais insumos da indústria são cotados em Bolsas norte-americanas e, por isso, subiram de preço com o tombo do real.
Os estoques com preços antigos estavam ajustados, e as companhias diziam que, com a alta da moeda, elas já estavam pagando mais caro pela nafta, matéria-prima básica, desde o início do processo de alta do dólar, em 2002.
Agora, no entanto, o tropeço do dólar diante do real -em um mês a moeda americana caiu 8,17%- não é razão para barrar os reajustes de preços dos insumos.
Por exemplo: as empresas de alimentos continuam negociando aumento no valor do alumínio para embalagem mesmo após a Petrobras já ter decidido reduzir em 10,4% o valor da nafta. A redução ocorreu em março.
"Só devo voltar a pagar menos lá pelo fim do ano", diz João Diogo, diretor da Village, empresa da área de alimentos.
A razão do aumento agora, rebatem as empresas, pouco tem a ver com a nafta e o dólar -até porque boa parte dos reajustes já foi repassada ao mercado em 2002. Elas afirmaram, nas negociações de preços, que operam com margens muito apertadas há tempos. E precisam se recuperar.
A Braskem, principal fornecedora, informa que não comenta esse assunto.
"Eu não tenho nada a ver com o fato de elas terem operado com rentabilidade ajustada. O que elas querem com essa estratégia é recuperar margens perdidas", disse Sérgio Haberfeld, presidente da Dixie-Toga.
Além disso, essas petroquímicas -que fornecem os insumos- carregam dívidas em dólares. Elas são importadoras e tiveram dificuldades para arcar com essa conta em 2002."E, para honrar esses débitos com importação, elas não trabalham com a possibilidade de perder rentabilidade", diz Emílio Garófalo, consultor.
"A gente tem de acreditar que nossos fornecedores estão esperando maior clareza no cenário do câmbio para reduzir a pressão por reajustes", diz Carlos Tilkian, presidente da Estrela.
Até o momento, apesar da queda do dólar, produtos de primeira necessidade (com preços atrelados à moeda americana), como farinha de trigo, óleo de soja e açúcar, não tiveram recuo expressivo nos preços. Pelo contrário, alguns estão mais caros nas lojas.


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