São Paulo, quinta-feira, 12 de abril de 2007

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País deve ter "em breve" grau de investimento, diz FMI

Diretor do Fundo, Rato elogia Brasil, mas diz que o Orçamento é muito rígido

Espanhol defende mais flexibilidade na economia brasileira e diz que país deve liderar latino-americanos nas negociações comerciais


Nic Bothma/Efe
O diretor do FMI, o espanhol Rodrigo de Rato, que elogiou Brasil


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O Brasil deve ser elevado à categoria de "grau de investimento" em breve. A classificação, dada por agências privadas dos EUA, sinaliza aos investidores globais que o país evoluiu aos olhos do mercado e oferece menos risco, atraindo mais investidores estrangeiros.
A opinião é do diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, o espanhol Rodrigo de Rato, 58, em entrevista à Folha, em seu gabinete na sede do FMI, em Washington.
Ele invoca o presidente Lula em seu auxílio para defender a entidade, diz que o comércio norte-sul "é uma idéia muito velha" e que é mais provável que ele mesmo mude do que tente mudar o novo diretor brasileiro para o Fundo, Paulo Nogueira Batista Jr., um crítico severo do FMI.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
 

CENÁRIO ATUAL
"O melhor cenário seria a expansão da economia atingir seu sétimo ano seguido, algo inédito nos últimos 60 anos. É um período longo de crescimento, e muito mais abrangente em termos de países envolvidos. É o cenário agora. Desequilíbrios globais ainda são uma ameaça, mas não tão grande quanto seis meses atrás. E os riscos vindos da economia americana, da inflação, dos preços do petróleo, do protecionismo não são maiores, provavelmente são menores do que há seis meses.
O pior cenário seria a materialização do risco existente, uma pressão inflacionária crescente que faria os juros subirem, a confiança nas principais moedas cair e uma fragilização do crédito nos Estados Unidos, que levaria a crescimentos menores no resto do mundo e a uma correção abrupta nos desequilíbrios globais. Isso levaria a uma crise monetária e de câmbio. O protecionismo é também um perigo, um grande perigo. Mas o mais provável é que a economia siga sua expansão em 2008."

AMÉRICA LATINA
"O continente se beneficia claramente desse cenário global, porque taxas baixas de juro e preços altos de commodities são muito importantes para a região. Está se beneficiando também do crescimento de outros mercados. Mas deveria aproveitar essas circunstâncias positivas e se integrar mais à economia global, para começar. Tornar-se não só exportador de commodities mas também de produtos manufaturados, atrair mais investimento. Para fazer isso, o ambiente econômico tem de se fortalecer, há que continuar o processo de reduzir vulnerabilidades, fortalecer a eficiência dos setores financeiros."

BRASIL
"Há boas notícias aí. Peru e Brasil devem conseguir classificação de grau de investimento muito em breve. Um passo muito importante na direção correta. É a prova de que não só Chile mas também Brasil e Peru se integram, com melhores chances, à globalização.
O Brasil estava em circunstâncias muito difíceis há apenas quatro anos. O país conseguiu ultrapassá-las, agora está mudando para a classificação de "grau de investimento".
Houve uma redução substancial na inflação, há uma política monetária confiável, a moeda está se fortalecendo, o perfil da dívida foi mudado e se tornou menos ameaçador na sua composição.
Ainda assim, o Orçamento é muito rígido, o mercado financeiro mundial é muito competitivo e mais competitividade é necessária dentro da economia brasileira para torná-la mais integrada ao mercado global.
A estabilidade macroeconômica é essencial para o crescimento, mas flexibilidade e produtividade são a outra roda da bicicleta. E você precisa de pelo menos duas rodas na bicicleta."

"CULPA" DO FMI
"Nós temos pedido aos governos para flexibilizar os Orçamentos, e isso não tem acontecido na velocidade que pedimos, e vocês vão nos culpar? Bem, vocês podem nos culpar por tudo, mas foi o presidente Lula que disse que é uma pena que o Fundo Monetário Internacional [não é mais credor do país], assim nós poderíamos culpá-lo por tudo. [Risos] Temos pedido a países, neste caso o Brasil, mas eu poderia citar outros exemplos, para fazer algo porque nós acreditamos que é do interesse deles. Se, por qualquer razão, política, econômica, isso não acontece, vocês nos culpam? Bem, vocês podem fazer. Culpar é de graça."

COMÉRCIO EXTERIOR
"O papel do Brasil é muito importante, tem muita responsabilidade. E o comércio se provou o grande gerador de mudanças nos últimos 40 anos, é o que mais oportunidades dá a economias emergentes, ao mesmo tempo em que aumenta o bolo para que economias industrializadas possam se beneficiar. É o melhor elemento para ajudar milhões de pessoas a sair da pobreza no mundo.
Europa, Estados Unidos e Japão têm uma grande responsabilidade de mudar para uma agenda multilateral de comércio, mas Brasil, Índia, China e África do Sul também têm. Quando falamos de comércio, não deveríamos só falar de norte-sul, essa idéia de norte-sul é muito velha. Deveríamos falar de comércio inter-regional. O Brasil é o líder da América Latina e deveria ser o líder na promoção de maior integração econômica, de mais livre comércio na região."

NOVO PAPEL DO FMI
"Não há um "novo papel", em termos de um nova função. Há um novo mundo, com novos desafios para nossos membros, então temos de nos adaptar ao que é necessário. E o que mudou não foi o Fundo Monetário Internacional, mas o mundo. Os países estão encarando mercados globais, e a globalização está mudando a natureza das políticas macroeconômicas, as oportunidades financeiras, as vulnerabilidades, as relações entre políticas macroeconômicas e os mercados financeiros. Uma grande revolução."

PAULO NOGUEIRA
"Qualquer membro do quadro de diretores executivos é muito bem-vindo. Estou ansioso para trabalhar com ele. Quem vai mudar quem? Estou sempre aberto a mudanças. Então, provavelmente serei eu. Gosto de mudar."


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