São Paulo, sábado, 12 de abril de 2008

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Elevar juros não traz transtorno, diz Lula

Presidente endossa política de Meirelles num momento em que o BC sofre pressão por aguardada alta na taxa de juros

"Acho que é importante a gente garantir que o que deu certo até agora continue dando certo", declara Lula na Holanda

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A HAIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ontem um aval, ainda que indireto, a um aumento de juros na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), ao dizer que "não será nem a redução de 0,25%, nem a manutenção de 11,25% [taxa atual], nem o aumento de 0,25% que trará qualquer transtorno à economia brasileira".
Como todos os sinais emitidos recentemente pelo Banco Central apontam para um aumento na taxa Selic, a frase do presidente indica que ele não acredita que a elevação dos juros provocará transtornos para o crescimento econômico.
A afirmação foi feita pela manhã, em entrevista coletiva concedida no Palácio Noordeinde, onde se hospedou nos dois dias que passou na Holanda, em visita de Estado.
À tarde, em discurso a empresários brasileiros e holandeses, o presidente deu outra indicação de que não vê transtornos à frente, ao afirmar que o Brasil vai crescer neste ano "mais que os 5,4% de 2007".
Contraria, assim, a recentíssima previsão do Fundo Monetário Internacional, que cravou apenas 4,8% para o Brasil em 2008, a mesma previsão do BC brasileiro para o PIB do ano.
Ainda na entrevista, Lula foi muito claro ao defender o mandato do BC para decidir: "Eu não dou palpite no aumento de juros nem na redução de juros. Embora seja o presidente da República quem indica o presidente do Banco Central, acho que é importante a gente garantir que o que deu certo até agora continue dando certo".
Emendou: "O que nós precisamos é garantir que a tranqüilidade da política econômica, a manutenção da estabilidade e a seriedade com que o governo vem trabalhando nos investimentos públicos possam garantir que a economia brasileira continue crescendo por muito e muito tempo".
Lula não aceita a tese de que, em vez de aumentar os juros, o governo deveria cortar gastos.
Diz, primeiro, que "não é pouco o corte que fizemos de R$ 20 bilhões no Orçamento". Depois, afirma que o corte "não tem nada a ver com a alta de juros", para emendar com uma obviedade: "Os juros irão aumentar quando for necessário aumentar e irão cair quando for necessário cair".
Lula contou que tem dito tanto ao ministro Guido Mantega, da Fazenda, quanto ao presidente do BC, Henrique Meirelles, que é preciso evitar que se produza o que já se chamou de TPC (tensão pré-Copom, toda a especulação em torno da decisão do comitê, que se reúne para decidir sobre os juros na terça e quarta da próxima semana). Para Lula, "essa fase já passou, a economia está tranqüila".
O fato de a inflação ter dado um pequeno salto não o preocupa, por mais que repita a lição básica de manual de economia, a de que, "se você tem a economia crescendo e o investimento produtivo não cresce na mesma proporção da demanda, você corre o risco de gerar um fracasso de oferta e, portanto, você pode ter inflação".
Não é, entretanto, o que Lula acha que está acontecendo no Brasil. Ao contrário: o presidente acredita que "há uma combinação perfeita entre demanda e oferta".
Completa: "É isso o que nós queremos. As empresas, em um primeiro momento, convocaram horas extras, em um segundo momento, aumentaram um turno, num terceiro momento, vão aumentar dois turnos, num quarto momento, vão aumentar para três turnos, e, num quinto momento, vão começar a construir novas plantas, que é o que está acontecendo agora".
Seria, portanto, um círculo virtuoso, conforme ele anunciaria mais tarde aos empresários.
Lula repetiu ontem a tese que defendera na véspera sobre a inflação (a mundial, no setor de alimentos). Trata-se de "uma inflação boa", porque é decorrência de que há mais gente comendo mais no mundo inteiro.
Para suprir a demanda adicional por alimentos, Lula contou ter dito ao primeiro-ministro holandês, Jan Peter Balkenende, que "é perfeitamente possível a Holanda fazer parceira com o Brasil para investir em terceiros países". Disse também que já fez propostas semelhantes a seus colegas George Bush (EUA), Gordon Brown (Reino Unido), Angela Merkel (Alemanha) e Nicolas Sarkozy (França).
"O jeito de a gente contribuir para que o mundo pobre possa se desenvolver mais rapidamente é juntarmos os conhecimentos que nós temos, tecnológicos, e ao mesmo tempo o potencial de recursos que nós temos e construir a capacidade de produção nos países pobres. Essa é a lógica", afirmou.


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