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Elevar juros não traz transtorno, diz Lula
Presidente endossa política de Meirelles num momento em que o BC sofre pressão por aguardada alta na taxa de juros
"Acho que é importante a gente garantir que o que deu certo até agora continue dando certo", declara Lula na Holanda
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A HAIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ontem um aval,
ainda que indireto, a um aumento de juros na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), ao dizer que
"não será nem a redução de
0,25%, nem a manutenção de
11,25% [taxa atual], nem o aumento de 0,25% que trará qualquer transtorno à economia
brasileira".
Como todos os sinais emitidos recentemente pelo Banco
Central apontam para um aumento na taxa Selic, a frase do
presidente indica que ele não
acredita que a elevação dos juros provocará transtornos para
o crescimento econômico.
A afirmação foi feita pela manhã, em entrevista coletiva
concedida no Palácio Noordeinde, onde se hospedou nos
dois dias que passou na Holanda, em visita de Estado.
À tarde, em discurso a empresários brasileiros e holandeses, o presidente deu outra indicação de que não vê transtornos à frente, ao afirmar que o
Brasil vai crescer neste ano
"mais que os 5,4% de 2007".
Contraria, assim, a recentíssima previsão do Fundo Monetário Internacional, que cravou
apenas 4,8% para o Brasil em
2008, a mesma previsão do BC
brasileiro para o PIB do ano.
Ainda na entrevista, Lula foi
muito claro ao defender o mandato do BC para decidir: "Eu
não dou palpite no aumento de
juros nem na redução de juros.
Embora seja o presidente da
República quem indica o presidente do Banco Central, acho
que é importante a gente garantir que o que deu certo até
agora continue dando certo".
Emendou: "O que nós precisamos é garantir que a tranqüilidade da política econômica, a
manutenção da estabilidade e a
seriedade com que o governo
vem trabalhando nos investimentos públicos possam garantir que a economia brasileira continue crescendo por muito e muito tempo".
Lula não aceita a tese de que,
em vez de aumentar os juros, o
governo deveria cortar gastos.
Diz, primeiro, que "não é
pouco o corte que fizemos de
R$ 20 bilhões no Orçamento".
Depois, afirma que o corte "não
tem nada a ver com a alta de juros", para emendar com uma
obviedade: "Os juros irão aumentar quando for necessário
aumentar e irão cair quando for
necessário cair".
Lula contou que tem dito
tanto ao ministro Guido Mantega, da Fazenda, quanto ao
presidente do BC, Henrique
Meirelles, que é preciso evitar
que se produza o que já se chamou de TPC (tensão pré-Copom, toda a especulação em
torno da decisão do comitê, que
se reúne para decidir sobre os
juros na terça e quarta da próxima semana). Para Lula, "essa
fase já passou, a economia está
tranqüila".
O fato de a inflação ter dado
um pequeno salto não o preocupa, por mais que repita a lição básica de manual de economia, a de que, "se você tem a
economia crescendo e o investimento produtivo não cresce
na mesma proporção da demanda, você corre o risco de gerar um fracasso de oferta e, portanto, você pode ter inflação".
Não é, entretanto, o que Lula
acha que está acontecendo no
Brasil. Ao contrário: o presidente acredita que "há uma
combinação perfeita entre demanda e oferta".
Completa: "É isso o que nós
queremos. As empresas, em um
primeiro momento, convocaram horas extras, em um segundo momento, aumentaram
um turno, num terceiro momento, vão aumentar dois turnos, num quarto momento, vão
aumentar para três turnos, e,
num quinto momento, vão começar a construir novas plantas, que é o que está acontecendo agora".
Seria, portanto, um círculo
virtuoso, conforme ele anunciaria mais tarde aos empresários.
Lula repetiu ontem a tese
que defendera na véspera sobre
a inflação (a mundial, no setor
de alimentos). Trata-se de
"uma inflação boa", porque é
decorrência de que há mais
gente comendo mais no mundo
inteiro.
Para suprir a demanda adicional por alimentos, Lula contou ter dito ao primeiro-ministro holandês, Jan Peter Balkenende, que "é perfeitamente
possível a Holanda fazer parceira com o Brasil para investir
em terceiros países". Disse
também que já fez propostas
semelhantes a seus colegas
George Bush (EUA), Gordon
Brown (Reino Unido), Angela
Merkel (Alemanha) e Nicolas
Sarkozy (França).
"O jeito de a gente contribuir
para que o mundo pobre possa
se desenvolver mais rapidamente é juntarmos os conhecimentos que nós temos, tecnológicos, e ao mesmo tempo o
potencial de recursos que nós
temos e construir a capacidade
de produção nos países pobres.
Essa é a lógica", afirmou.
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