São Paulo, sábado, 12 de abril de 2008

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País produzirá mais para combater alta de preços, diz Mantega

Para o ministro, Brasil tem condições de enfrentar pressão inflacionária dos alimentos "de maneira relativamente rápida"

Diretor do FMI recomenda aos governos da AL que "ajudem os BCs a conter os preços ampliando o controle sobre os gastos públicos"

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O ministro Guido Mantega (Fazenda) disse ontem em Washington durante a reunião do FMI (Fundo Monetário Internacional) que o Brasil terá de combater a atual pressão inflacionária no setor de alimentos com mais produção agrícola. "Vivemos um clássico choque de oferta, e o Brasil tem condições de enfrentar isso de maneira relativamente rápida no caso de vários produtos."
Questionado sobre a possibilidade de o BC brasileiro vir a elevar o juro básico (Selic) na semana que vem, Mantega disse que não comentaria o assunto. Mas ressaltou que a inflação no Brasil em 2007 teria ficado em torno de 3% (e não em 4,46%) não fosse a pressão dos alimentos. "A inflação é mundial, mas o Brasil está muito bem colocado. Estamos dentro da meta [de inflação] e dentro dessa meta podemos ter uma pequena variação por conta dos produtos agrícolas", afirmou.
Apesar das pressões inflacionárias e da turbulência nos mercados financeiros, Mantega disse que o Brasil está mais "resistente" e que depende muito mais hoje de seu mercado interno. "Mesmo com a expectativa de desaquecimento global, os preços dos produtos que o Brasil exporta ainda estão muito fortes. Com oscilações pontuais, mas muito bons."
Já o diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental, o indiano Anoop Singh, recomendou aos governos da região que "ajudem os bancos centrais a conter os preços ampliando o controle sobre os gastos públicos".
Questionado sobre os gastos governamentais no Brasil, Singh afirmou que o país vem "cumprindo rigorosamente, e até com folga", a meta de superávit primário e que vem dirigindo cada vez mais verbas para a infra-estrutura. O indiano também elogiou a atuação do Banco Central por "manter a inflação na meta" e o desempenho geral do país.
"O crescimento do Brasil tem se apoiado principalmente no seu mercado interno e está muito calcado nos investimentos do setor produtivo, que vêm crescendo além das expectativas nos últimos dois anos." Anoop Singh afirmou também que Brasil e região devem se manter "vigilantes" em relação à inflação.

"Miniboom" de crédito
Singh recomendou aos países latino-americanos que "monitorem de perto" o aumento das operações de crédito para que evitem crises futuras em seus sistemas financeiros.
"Quando um "boom" ocorre, e o que vemos na região é uma espécie de "miniboom", a tendência é uma deterioração da qualidade dos empréstimos e uma dificuldade cada vez maior para distinguir os créditos de boa e má qualidade." Na atual crise norte-americana, não apenas o setor de crédito imobiliário de qualidade inferior ("subprime") está sendo afetado. O problema vem se alastrando também para outras áreas.
Nos últimos 12 meses, vários países da América Latina registraram aumentos importantes no volume de crédito concedido a consumidores. No Brasil, a alta foi de 28,5%; na Argentina, 37%; na Venezuela, 72,5%.
O FMI recomenda "cuidado" nessa área especialmente pelo fato de a economia mundial ter no horizonte um cenário de desaquecimento e inflação. Na média, o Fundo prevê para a América Latina crescimento de 4,4% neste ano (5,6% em 2007) e inflação de 6,6% (ante 5,4%).


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