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Mídia dos EUA prepara cobrança de conteúdo on-line
Em crise, grupos como Hearst Newspapers, New York Times Co. e Time Inc. estudam restringir acesso gratuito a textos
Após queda na receita de publicidade on-line, desafio será convencer leitores a ampliar participação no financiamento da mídia
RICHARD PÉREZ-PEÑA
TIM ARANGO
DO "NEW YORK TIMES"
Há apenas um ano, a maioria
das empresas de mídia acreditava que a fórmula do sucesso
na internet era oferecer conteúdo gratuito, construir uma
audiência e faturar com a publicidade. Agora, com os efeitos
adversos da recessão sobre a
publicidade on-line, os executivos de mídia têm um desafio
bem mais complicado: convencer a audiência a pagar.
Grupos noticiosos como
Hearst Newspapers, New York
Times Co. e Time Inc. estão
preparando planos para a possível cobrança do acesso a seu
conteúdo na internet. Rupert
Murdoch, que um dia prometeu que ofereceria acesso gratuito ao site do "Wall Street
Journal", agora defende a cobrança pelo acesso a notícias
on-line. "A ideia de que as pessoas têm direito a ler notícias
de graça na web precisa mudar", disse Murdoch na semana
passada em Washington.
A agência de notícias Associated Press anunciou que pretende policiar o uso de seus artigos noticiosos em sites que
publicam seu material na íntegra, de maneira a garantir que
esses sites estejam pagando aos
criadores do material.
Mas, das redes de TV que
vendem downloads de seus
programas às gravadoras que
tentam conter as trocas gratuitas de arquivos, passando pelos
jornais e as revistas em crise, a
questão decisiva é a seguinte:
como convencer os usuários a
pagar por algo que se acostumaram a receber de graça?
Alguns setores conseguiram
realizar essa façanha. A Coca-Cola tomou água potável como
a que os consumidores recebem em suas torneiras e a filtrou. Deu ao resultado a marca
Dasani, e fatura milhões de dólares ao ano com isso. Pessoas
que costumavam perguntar
com incredulidade por que alguém pagaria por televisão hoje
são assinantes de TV paga e do
TiVo. As linhas aéreas hoje cobram por refeições e até travesseiros. E alguns fãs de música
que baixavam canções piratas
hoje são fregueses do iTunes.
Todas essas histórias se tornaram possíveis porque ofereciam algo mais ao consumidor,
ainda que apenas conveniência.
"Com a água em garrafa, é
uma espécie de esnobismo, e a
percepção de um produto saudável que eles transformaram
em marketing", disse Priya Raghubir, professor de marketing
na Escola Stern de Administração de Empresas, na Universidade de Nova York. "Com os
downloads, o benefício é que os
serviços pagos permitem acesso a amostras grátis de muitas
canções; e os programas de TV
não têm comerciais."
"No caso dos jornais e revistas, é preciso que haja recursos
que não se possa encontrar em
outros lugares, e talvez parte
daquilo por que as pessoas pagariam seria o privilégio de ajudar o setor a sobreviver."
Os grandes grupos noticiosos
dizem que ainda não decidiram
como proceder, mas que algumas mudanças surgirão, e logo.
"Estamos estudando, evidentemente, maneiras de extrair pagamento dos consumidores por nossas notícias, nem
que sejam doações voluntárias", disse Bill Keller, editor-executivo do "New York Times". "Nos próximos meses,
antecipo que o "New York Times" deva começar a fazer algumas apostas."
Apenas algumas poucas empresas do setor tentaram essa
transição, e os resultados não
são claros. O "Los Angeles Times" e o "New York Times"
tentaram cobrar pelo acesso a
parte de seus conteúdos na internet, mas desistiram da ideia
porque isso lhes custou audiência e receita publicitária.
Ao acrescentar recursos gratuitos como alertas por e-mail,
blogs, fóruns de discussão e vídeos, as organizações noticiosas estão tentando persuadir os
leitores de que oferecem algo
de mais valioso do que os serviços de distribuição de notícias e
os blogs que costumam atrair
leitores on-line. Em 2006, o
"Washington Post" se tornou o
primeiro jornal a conquistar
um Emmy por seu trabalho jornalístico em vídeo.
Pacote
Eric Johnson, professor na
escola de administração de empresas da Universidade Columbia, diz que se espanta pelo fato
de as empresas de mídia continuarem ampliando seus sites
com mais e mais serviços gratuitos. "Antes de acrescentar
alguma coisa a um site, os responsáveis deveriam considerar
que esses recursos deveriam
ser parte de um pacote pelo
qual seja possível cobrar."
Trata-se de um conceito estranho para muitos dos veteranos da mídia, que cresceram
em um mundo no qual as notícias e boa parte do restante do
conteúdo da TV e rádio eram
gratuitas, e os jornais faturam
muito mais com os anunciantes
do que com seus leitores.
Antes da recessão, os executivos de mídia apostavam que o
futuro era a publicidade on-line, que crescia entre 25% e 35%
ao ano. Mas, no ano passado, os
gastos com publicidade na internet cresceram 10,6% e apenas 3,5% para as redes de TV,
de acordo com um relatório do
Interactive Advertising Bureau
e PricewaterhouseCoopers. Para a Newspaper Association of
America, que congrega os jornais dos EUA, a receita on-line
caiu 1,8% em 2008.
O debate sobre "conteúdo
gratuito" versus "conteúdo pago" é recorrente. O "Wall Street
Journal" começou a cobrar pelo acesso ao seu site em 1996,
pouco depois que ele entrou em
operação e antes que uma audiência de massa pudesse se ter
acostumado a lê-lo de graça.
Antes de assumir o controle do
jornal, 16 meses atrás, Murdoch disse que pretendia oferecer acesso gratuito ao site, mas,
como as assinaturas on-line estão crescendo e as vendas de
publicidade não vão bem, decidiu manter o acesso pago.
O site do "Financial Times",
o FT.com, tinha mais de 1 milhão de usuários registrados em
2001, quando começou a cobrar por boa parte de seu conteúdo, ainda que muitos de
seus artigos continuem livres.
"Um ano mais tarde, tínhamos 50 mil assinantes", diz Rob
Grinshaw, o diretor-executivo
do FT.com. Passados oito anos,
o quadro de assinantes subiu
para 109 mil, disse, uma pequena proporção do número total
de visitantes do site.
"É preciso educar as pessoas
para que aceitem como norma
o acesso pago", disse Richard
Honack, professor da Escola
Kellogg de Administração de
Empresas, na Universidade
Northwestern.
Mark Mulligan, vice-presidente da Forrester Research
em Londres, disse que até mesmo setores que já conseguiram
sucesso em cobrar por acesso
on-line, como o de música, descobriram que era necessário
identificar os nichos corretos.
Honack afirma que será necessário tratar a audiência e os
produtos como uma série de nichos, e adaptar as ofertas aos
consumidores. "É preciso descobrir que porção de seu produto convencerá os usuários a
voltar em busca de mais."
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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