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OPINIÃO ECONÔMICA
Queda nos juros já
ANDRÉ FRANCO MONTORO FILHO
A queda no valor do dólar
que se observa atualmente
no Brasil é objeto de grande controvérsia. De um lado gera efeitos
positivos sobre a inflação, mas de
outro levanta temores com seus
efeitos sobre nossas exportações.
Muitos se preocupam que com
essa redução se perca o enorme e
indispensável ajuste que foi feito
em nossas contas externas. Alguns chegam a sugerir intervenções diretas ou indiretas ou disfarçadas no mercado cambial para evitar a continuidade das quedas. Essas propostas têm sido rechaçadas pelo governo federal, inclusive pelo próprio presidente
Lula, sob o argumento de que o
câmbio é flexível.
Existe, entretanto, um caminho
alternativo, que respeita o regime
de flutuação cambial e não deve
comprometer a meta inflacionária. Proponho uma redução expressiva nas taxas internas de juros via redução da taxa Selic.
Explico. A taxa de câmbio (preço do dólar) é formada, especialmente em um regime de flutuação cambial, por dois fluxos. O
fluxo de exportações e importações de bens e serviços e o fluxo de
capitais. A taxa de câmbio de
"equilíbrio" é aquela que zera a
soma aritmética desses dois fluxos, que correspondem, respectivamente, à balança de transações
correntes de bens e serviços e à
balança de capitais.
O valor do saldo (positivo ou
negativo) da balança de capitais,
ou seja, do saldo dos movimentos
de capitais, é determinado pela taxa de juros interna (por certo relativa à taxa de juros externa, mas
que vamos supor constante).
Quanto mais alta a taxa de juros
interna (diferencial em relação à
externa), maior é o saldo (entradas) na conta de capitais. Ora,
uma maior entrada de capitais
(dólares) reduz a taxa de câmbio
(relação real/dólar). Assim, quanto maior a taxa de juros interna,
menor será a taxa de câmbio. Esse
é um conhecido resultado na teoria econômica.
A taxa de juros, em uma primeira aproximação, pode ser dividida
em dois componentes. A taxa de
juros "segura" mais a taxa de risco. Esta última é basicamente formada pela percepção de risco dos
agentes econômicos.
No Brasil, a partir de maio de
2002, a percepção de risco, por razões conhecidas -mesmo que
eventualmente equivocadas-,
aumentou substancialmente. Esse aumento e suas consequências
levaram o Copom a, defensivamente, promover fortes aumentos nas taxas internas de juros para que se tivesse o mesmo valor ou
valor similar ao da situação anterior com menor risco (ou percepção de risco).
Ora, devido ao comportamento
sereno da nova equipe econômica, que gerou confiança nos mercados, a percepção de risco despencou. Alguns falam em algo em
torno de mais de dez pontos percentuais. Essa nova situação, de
menor percepção de risco, representa, mantidas as taxas de juros
atuais, um brutal aumento na taxa
de juros "segura". Esse vigoroso
aumento vai desencadear -aliás
já está promovendo- um enorme fluxo de entrada de capitais
(voláteis, como meu pai costumava denominar), que vai jogar a taxa de câmbio lá para baixo e assim
comprometer o penoso mas necessário ajuste externo que foi
realizado.
Com a agravante que logo mais
esses capitais (voláteis) vão embora.
Para evitar esse desastre, urge
reduzir, de forma expressiva, nossas taxas de juro por meio da redução da taxa Selic.
De outra parte, essa redução
não deve comprometer a meta inflacionária, pois a taxa de juros
composta pela taxa "segura" mais
taxa de risco continua a mesma.
Foi a percepção de risco que caiu.
E é essa taxa, "segura", ajustada
ao risco, que comanda as decisões
dos agentes econômicos.
Tendo em vista o grande impacto que essa redução de juros acarreta em termos de investimento,
crescimento, geração de empregos e melhora fiscal, o governo federal não pode perder tempo.
Redução nos juros já.
André Franco Montoro Filho é professor titular da FEA/USP e Ph.D. em economia pela Universidade Yale. Foi secretário de Planejamento do Estado de São
Paulo.
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