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Lula vê alta na taxa dos EUA "digerida"
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse ontem, em entrevista
no início da noite, que a provável
alta da taxa de juros nos Estados
Unidos não trará efeitos para o
Brasil.
"O dólar subir um centavo a
mais, um a menos, tem gente rindo, tem gente preocupada. Para
nós, não existe nada que venha a
nos preocupar. Essas oscilações
de mercado em razão da posição
que o banco central americano
[Fed] possa tomar são uma coisa
já digerida por nós."
O encontro, com 18 jornalistas,
foi no Palácio do Planalto. Estava
marcado para as 18h e começou
às 18h43. A intenção do presidente era apresentar sua viagem à
China no final do mês. Lula fez
uma explanação inicial e foi seguido pelo ministro das Relações
Exteriores, Celso Amorim.
Depois da fala de Lula e de
Amorim, cada jornalista teve direito a fazer uma pergunta, em ordem determinada pelo Planalto.
A Folha foi o décimo veículo a
perguntar. A sessão começou às
19h04.
A assessoria de comunicação da
Presidência informou que só seriam aceitas perguntas sobre a
viagem de Lula à China. A partir
da metade da entrevista, alguns
começaram a incluir outros assuntos e não houve protesto do
presidente. A entrevista terminou
às 20h.
Sobre salário mínimo, Lula disse não estar satisfeito com o valor
(R$ 260), mas que não tem como
dar mais. Não quis dizer se vetará
uma decisão do Congresso de aumentar o que foi estipulado.
"Eu não posso anunciar uma
decisão dessas, até por sensibilidade política."
O presidente se encontrou ontem com os líderes governistas no
Senado. Hoje, se avistará com os
da Câmara dos Deputados. Vai
pedir que apressem a votação de
alguns projetos que "são tão importantes para o desenvolvimento do Brasil quanto à redução da
taxa de juros".
A seguir, trechos da fala do presidente Lula:
JUROS NOS EUA - Primeiro, o dólar subir um centavo a mais, um a
menos, tem gente rindo, tem gente preocupada. Para nós, não existe nada que venha a nos preocupar. Essas oscilações de mercado
em razão do que possa tomar de
posição o banco central americano são uma coisa que já está digerida por nós. Ou seja, nós estamos
conscientes de que o Brasil entrou
na rota do crescimento. Estamos
conscientes de que é um crescimento sustentável e que não haverá retrocesso.
Nós vamos crescer daqui para a
frente cada vez mais. Nós estamos
com algumas coisas pendentes no
Congresso Nacional. Se forem
aprovadas a Lei de Falências, a
PPP [Parceria Público-Privada], a
regulação do saneamento básico,
nós vamos ter possibilidades
enormes de investimentos privados no nosso país.
Estamos tranqüilos. Isso está
pronto. Nós vamos trabalhar com
a tranqüilidade de que o Brasil
não será pego de surpresa. Até
porque todos nós, há três meses,
já discutíamos a hipótese de um
aumento dos juros americanos.
Nós já sabíamos que ia acontecer [aumento dos juros nos Estados Unidos]. Ninguém foi pego
de sobressalto. Não é nenhuma
novidade.
O que nós não podemos é tomar nenhuma atitude precipitada, que a cada dia que nós vermos
a Bolsa de Valores cair ou o dólar
subir a gente vai anunciar um pacote econômico. Não é? O mercado sabe, e, se for inteligente, deve
saber muito mais que o Brasil é
um bom negócio. E quem tiver
medo vai perder dinheiro por não
investir no Brasil.
SALÁRIO MÍNIMO - Não haverá
quem não queira fazer do salário
mínimo um debate político, um
debate eleitoral. Porque não apenas o presidente da República como qualquer cidadão sabe que
um salário mínimo de R$ 260 não
é aquilo que nem os que o ganham gostariam de receber nem
os que dão gostariam de dar.
Acontece que eu só posso fazer
a dívida do tamanho da receita
que eu tenho. E nós temos um
problema na Previdência que a
reforma não resolve de um ano
para o outro. A reforma é no médio prazo. Vai começar a surtir
efeito daqui a alguns anos. Eu tenho um rombo de R$ 31 bilhões
da Previdência.
Eu acho que os deputados e os
senadores, que têm total autonomia de tomar decisão, vão agir
com juízo, que eles têm e não é
pouco. Ao decidirem, eles vão ter
de dizer de onde vão tirar o dinheiro. É simples. Não é difícil. É
só apresentar a fonte.
[Vetará um aumento ao mínimo dado pelo Congresso Nacional?] Eu não posso anunciar uma
decisão dessas, até por sensibilidade política.
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