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Fitch elogia avanço da arrecadação fiscal
Diretora para o Brasil não comenta grau de investimento, mas admite que está debruçada sobre contas públicas do país
Shelly Shetty afirma que arrecadação e superávit primário são pontos fortes das contas do país e atenua aumento de gastos públicos
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Responsável pela análise de
risco do Brasil, a diretora de risco soberano da agência Fitch,
Shelly Shetty, considera o aumento de arrecadação federal e
o superávit primário os dois
pontos fortes quando avaliadas
as contas públicas brasileiras. E
atenuou o aumento das despesas do governo federal a cada
ano, embora admita que é um
dos problemas do país.
"Não é novidade para ninguém que os gastos públicos no
Brasil são muito altos. Mas as
receitas estão crescendo fortemente também", afirmou.
Shetty diz que as informações sobre a avaliação do Brasil
são confidenciais. Por isso, não
pode divulgar quanto tempo levará para tomar uma decisão.
Encarregada de analisar o risco
de toda a América Latina, a executiva, de 35 anos, admite que
neste momento está debruçada
sobre as contas públicas brasileiras. E tece elogios ao país.
A diretora também não revela as informações que recebeu
do governo, principalmente
qual foi a promessa de esforço
fiscal. Ela comenta que a meta
de superávit primário do governo, de 3,8% do PIB, é suficiente
para garantir a redução gradual
da dívida pública. Mas diz que a
economia para pagar os juros
da dívida deveria ser maior, para acelerar o processo de redução do endividamento.
"Quanto mais alto [o superávit primário], melhor. Mas os
3,8% anunciados são suficientes para a redução da dívida pública. E mantém positivas as
expectativas de mercado".
Um assessor do Ministério
da Fazenda confirmou que o
ministro Guido Mantega prometeu às agências de classificação de risco em Nova York que,
se a crise internacional se agravasse, o governo brasileiro poderia fazer superávit primário
maior que a meta. Mas mantidas as condições atuais, o esforço fiscal será aquele divulgado.
Um dos problemas que
Shetty vê no Brasil é o déficit da
Previdência. A diretora da
Fitch considerou um retrocesso a aprovação no Senado do
projeto do senador Paulo Paim
(PT-RS) que acaba com o fator
previdenciário. Ela lembra que
esse projeto ainda passará pela
Câmara dos Deputados. "Se virar lei, estas medidas irão minar o progresso brasileiro com
a redução no déficit da Previdência nos últimos anos", afirmou. "O ideal seria que o Brasil
buscasse o corte das despesas
correntes para que pudesse reduzir os impostos e, assim, estimular os investimentos e o
crescimento econômico".
A executiva, que trabalha em
Nova York, estava no Brasil, em
reunião com o ministro Paulo
Bernardo (Planejamento),
quando a Standard & Poor's
anunciou promoção do Brasil
ao "investment grade". No dia
30 de abril, a S&P colocou o
país no grupo de 14 nações consideradas seguras para o investimento. O anúncio foi uma
surpresa até para o governo,
que esperava receber a nota
primeiro da Fitch.
Tanto o governo quanto o
mercado se surpreenderam pelo fato de nenhum executivo da
S&P ter visitado o Brasil antes
de conceder o grau de investimento. Shetty diz que não comenta a decisão da concorrência. Mas lança uma provocação, lembrando que foi a campo coletar dados: "Não estamos
preocupados com a concorrência. Independente dos nossos
competidores, estivemos no
Brasil, estamos avaliando as
contas brasileiras."
Receber a classificação de
grau de investimento é importante para o Brasil porque os
fundos de pensão dos EUA e
Europa só podem investir em
países que receberam o "investment grade" de pelo menos
duas agências de classificação.
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