São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2008

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Fitch elogia avanço da arrecadação fiscal

Diretora para o Brasil não comenta grau de investimento, mas admite que está debruçada sobre contas públicas do país

Shelly Shetty afirma que arrecadação e superávit primário são pontos fortes das contas do país e atenua aumento de gastos públicos

JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Responsável pela análise de risco do Brasil, a diretora de risco soberano da agência Fitch, Shelly Shetty, considera o aumento de arrecadação federal e o superávit primário os dois pontos fortes quando avaliadas as contas públicas brasileiras. E atenuou o aumento das despesas do governo federal a cada ano, embora admita que é um dos problemas do país.
"Não é novidade para ninguém que os gastos públicos no Brasil são muito altos. Mas as receitas estão crescendo fortemente também", afirmou.
Shetty diz que as informações sobre a avaliação do Brasil são confidenciais. Por isso, não pode divulgar quanto tempo levará para tomar uma decisão. Encarregada de analisar o risco de toda a América Latina, a executiva, de 35 anos, admite que neste momento está debruçada sobre as contas públicas brasileiras. E tece elogios ao país.
A diretora também não revela as informações que recebeu do governo, principalmente qual foi a promessa de esforço fiscal. Ela comenta que a meta de superávit primário do governo, de 3,8% do PIB, é suficiente para garantir a redução gradual da dívida pública. Mas diz que a economia para pagar os juros da dívida deveria ser maior, para acelerar o processo de redução do endividamento.
"Quanto mais alto [o superávit primário], melhor. Mas os 3,8% anunciados são suficientes para a redução da dívida pública. E mantém positivas as expectativas de mercado".
Um assessor do Ministério da Fazenda confirmou que o ministro Guido Mantega prometeu às agências de classificação de risco em Nova York que, se a crise internacional se agravasse, o governo brasileiro poderia fazer superávit primário maior que a meta. Mas mantidas as condições atuais, o esforço fiscal será aquele divulgado.
Um dos problemas que Shetty vê no Brasil é o déficit da Previdência. A diretora da Fitch considerou um retrocesso a aprovação no Senado do projeto do senador Paulo Paim (PT-RS) que acaba com o fator previdenciário. Ela lembra que esse projeto ainda passará pela Câmara dos Deputados. "Se virar lei, estas medidas irão minar o progresso brasileiro com a redução no déficit da Previdência nos últimos anos", afirmou. "O ideal seria que o Brasil buscasse o corte das despesas correntes para que pudesse reduzir os impostos e, assim, estimular os investimentos e o crescimento econômico".
A executiva, que trabalha em Nova York, estava no Brasil, em reunião com o ministro Paulo Bernardo (Planejamento), quando a Standard & Poor's anunciou promoção do Brasil ao "investment grade". No dia 30 de abril, a S&P colocou o país no grupo de 14 nações consideradas seguras para o investimento. O anúncio foi uma surpresa até para o governo, que esperava receber a nota primeiro da Fitch.
Tanto o governo quanto o mercado se surpreenderam pelo fato de nenhum executivo da S&P ter visitado o Brasil antes de conceder o grau de investimento. Shetty diz que não comenta a decisão da concorrência. Mas lança uma provocação, lembrando que foi a campo coletar dados: "Não estamos preocupados com a concorrência. Independente dos nossos competidores, estivemos no Brasil, estamos avaliando as contas brasileiras."
Receber a classificação de grau de investimento é importante para o Brasil porque os fundos de pensão dos EUA e Europa só podem investir em países que receberam o "investment grade" de pelo menos duas agências de classificação.


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