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Operação conjunta garantiu venda da Varig
Para evitar interferência da Anac, empresa desistiu de ação na Justiça, mostram documentos inéditos e depoimento de Denise Abreu
Esforço para fechar negócio
envolveu grupo estrangeiro
que comprou a empresa e
integrantes do governo, diz
ex-diretora da agência
ALAN GRIPP
FERNANDA ODILLA
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Documentos inéditos e novas revelações feitas pela ex-diretora da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) Denise
Abreu reconstituem a operação
de guerra montada para derrubar, em poucas horas, os obstáculos que impediam a venda da
VarigLog para o fundo americano Matlin Patterson.
O esforço uniu representantes do grupo estrangeiro e integrantes do governo, disse ontem Abreu, que prestou depoimento na Comissão de Infra-Estrutura do Senado.
A operação foi deflagrada em
23 de junho de 2006, dia em
que a Anac bateu o martelo e
aprovou a venda da VarigLog,
abrindo caminho para a compra da Varig. Abreu revelou que
o negócio só foi confirmado
porque o então presidente da
Anac, Milton Zuanazzi, conseguiu, por telefone, solucionar
empecilhos que impediam a
análise do caso. Entre eles, uma
decisão judicial proferida no
mesmo dia, obtida pela Folha,
reafirmando o "poder de polícia" da Anac para investigar
melhor o negócio.
"Tenho a forte impressão
que seria Erenice Guerra falando no telefone com ele", disse
Abreu, referindo-se à secretária-executiva da Casa Civil,
acusada por Abreu de fazer
pressões para a concretização
do negócio.
Do outro lado da linha, afirmou a ex-diretora da Anac, estava uma mulher. Zuanazzi relatou, segundo ela, todos os
problemas que enfrentava para
votar o caso naquela sexta-feira. No mesmo dia, quando foi
convocada uma reunião extraordinária da agência para
analisar o caso, os obstáculos
foram removidos por advogados do escritório de Roberto
Teixeira, compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A movimentação começou,
segundo Abreu, no momento
em que contou a Zuanazzi que
era alvo de um pedido de investigação no Ministério da Defesa e que, por isso, estava impedida de analisar a venda da VarigLog. Tratava-se de uma representação protocolada por
Teixeira acusando-a de suposto lobby a favor da TAM. Acionados, os advogados de Teixeira retiraram o pedido.
Abreu também alegou que a
Anac era alvo de um mandado
de segurança na Justiça Federal contra a atuação da agência
no caso. Naquele mesmo dia, o
desembargador federal Souza
Prudente proferiu uma decisão
liminar contrária ao fundo
americano, determinando que
toda a operação deveria ser
submetida à fiscalização da
Anac, em razão dos "interesses
nacionais".
No despacho, o desembargador diz que os "eventuais acordos previamente celebrados
entre as partes" e "as condições
em que foram estabelecidas as
respectivas operações financeiras" devem ser analisadas
pela Anac, em exercício do seu
"regular poder de polícia".
Alertado, Teixeira retirou o
mandado de segurança a tempo de impedir a publicação da
decisão, que, com a desistência,
tornou-se inócua. "Eu comuniquei [a decisão] na mesma hora, por fax. Mas, como o mandado foi retirado, ela perdeu
objeto", disse ontem à Folha
Souza Prudente. "Milton fez
[uma] ligação e o mandado de
segurança é retirado", disse
Denise. Naquele mesmo dia, o
procurador-geral da Anac,
João Ilídio de Lima Filho, emitiu um parecer chancelando a
operação. A análise considerou
que a aquisição da VarigLog pelo fundo americano não feria a
lei que impede o controle de
companhias aéreas por empresas estrangeiras, contrariando
pareceres anteriores da própria Anac e a lei em vigor.
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