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Novo chefe do trabalho em SP defende reforma da CLT
José Roberto de Melo, que chegou a sugerir que a legislação trabalhista fosse jogada "no lixo", prega agora a sua modernização
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Indicado pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva
(PDT-SP), presidente da Força
Sindical, ao ministro do Trabalho, Carlos Lupi, o novo superintendente de Relações do
Trabalho em São Paulo, José
Roberto de Melo, tem como
principal meta intensificar a
qualificação profissional no Estado de São Paulo.
A proposta é fazer cursos
principalmente para trabalhadores que perderam o emprego
durante a crise. E, para colocá-los em prática, quer o envolvimento de sindicatos de patrões
e de trabalhadores e captar recursos do FAT, do FGTS e de
"onde quer que eles existam".
Ex-diretor de recursos humanos de várias multinacionais, nas quais atuou por 40
anos, Melo diz que é preciso reformar a legislação trabalhista.
Quando trabalhava no setor
privado, chegou a dizer que a
CLT deveria ser "jogada no lixo". Agora, afirma que precisa
ser "modernizada".
FOLHA - Qual será seu primeiro desafio na superintendência em SP?
JOSÉ ROBERTO DE MELO - Quero expandir a atuação em programas
de qualificação profissional e
de inserção de pessoas com deficiência e de aprendizes nas
empresas com o apoio de entidades sindicais.
FOLHA - Qual é o papel da superintendência?
MELO - O Ministério do Trabalho seria uma espécie de agenciador de recursos do FAT, do
FGTS, onde quer que eles existam. A qualificação profissional
precisa ser ampliada. Este é o
melhor momento, já que vivemos uma crise no emprego.
FOLHA - Os cursos com recursos do
FAT já foram alvo de denúncias...
MELO - A ideia é fazer mais convênios com os governos municipal e estadual e com sindicatos. [A fiscalização] desses cursos vai ocorrer dentro dos procedimentos já previstos pelos
órgãos que fazem esse tipo de
convênio.
FOLHA - Quando o sr. atuava no setor patronal afirmou que a CLT estava ultrapassada e que deveria ser jogada "no lixo". O sr. ainda acha isso?
MELO - O que posso dizer é que
é preciso modernizar a legislação trabalhista. O problema é
definir qual o modelo que queremos para o país: mais concentrado ou mais descentralizado. Se não tiver um código
consistente de proteção mínima do trabalhador, de segurança e medicina do trabalho e de
leis básicas, fica difícil. A CLT
engessou muito as empresas.
FOLHA - O sr. entende que é preciso
flexibilizar a lei trabalhista?
MELO - O tema flexibilizar ficou
muito marcado. Está associado
a retirada de direitos. Devemos
ter opções. Sindicatos com extrema representatividade e
presença dentro das empresas
poderiam legislar a partir de
um código mínimo e fazer acordos com empresas de suas bases territoriais. Estou falando
da banda boa do sindicalismo,
não da banda podre.
FOLHA - O que esses sindicatos poderiam negociar?
MELO - Poderiam discutir as
condições da concessão de férias, de jornada de trabalho,
sem a retirada desses direitos,
nem do 13º salário nem do
FGTS. A grande "sacada" é achar
alternativas que beneficiassem
empresas e trabalhadores.
FOLHA - O sr. diz que a área rural
ainda enfrenta problemas como o
trabalho degradante e uso de mão
de obra infantil. Em que setores o sr.
ainda vê que falta uma atuação
mais intensa da fiscalização?
MELO - Principalmente na produção da laranja. Na cana-de-açúcar, melhorou [o trabalho]
porque a atuação do ministério
foi intensa. Na laranja, o que verificamos foram os coopergatos
[falsas cooperativas de trabalho
que atuam na intermediação de
mão de obra] e péssimas condições de trabalho, com a falta inclusive de EPIs [Equipamentos
de Proteção Individual].
FOLHA - O que o sr. verificou nos
demais setores?
MELO - Precisamos atuar fortemente na prevenção de acidentes de trabalho, porque o Brasil
ainda é um dos campeões [em
mortes com acidente de trabalho]. No setor eletricitário e na
construção civil , ainda há índices elevados.
FOLHA - O sr. acha que falta punição mais severa às empresas?
MELO - Infelizmente, em alguns casos, você só conscientiza pela punição e pelo bolso. É
preciso ter ações mais preventivas do que corretivas.
FOLHA - O fato de o sr. ter atuado
no setor privado não pode causar
constrangimento?
MELO - Quando eu era pago pelas empresas, defendia as empresas. Agora estou no meio,
entre a bancada de trabalhadores e a de empregadores.
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