São Paulo, Sábado, 12 de Junho de 1999
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MERCOSUL
Recálculo mostra Produto Interno Bruto do país em US$ 298,1 bi, contra US$ 334,6 bi pelo método anterior
Novo PIB faz Argentina acordar mais pobre

ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires

A Argentina acordou mais pobre ontem. O Ministério de Economia divulgou uma nova metodologia de cálculo da riqueza produzida no país, que reduziu o PIB (Produto Interno Bruto) de 98 em 10,9%, cerca de US$ 36,5 bilhões.
Do dia para a noite, a renda "per capita" média do Argentina caiu US$ 1.020. Antes, a renda média era de US$ 9.320.
O novo PIB argentino para 1998 ficou em US$ 298,1 bilhões. Era de US$ 334,6 bilhões. A nova metodologia modifica os valores do PIB desde 1993. O novo valor do PIB argentino é quase o mesmo do Estado de São Paulo, que estaria em cerca de US$ 282 bilhões -36% do PIB brasileiro de 98, ou seja, US$ 784,1 bilhões, ainda sem o efeito da maxidesvalorização do real, em janeiro de 99, que também encolherá o produto do Brasil.
Na prática, a população argentina não perdeu dinheiro, pois a mudança é estatística. Mas os dados revelam que o tamanho da economia estava sobrevalorizado.
O maior impacto para a Argentina será a diminuição da confiança dos estrangeiros no país.
Carlos Peréz, diretor da Fundação Capital (consultoria financeira), afirma que os índices econômicos avaliados pelo investidor vão piorar, com um PIB menor.
Segundo ele, o mercado analisa três dados para saber se uma economia está saudável: a relação déficit público/PIB, déficit de contas externas/PIB e dívida pública/PIB.
Como a base do cálculo, o PIB, caiu, o valor desses índices vai crescer, o que indica uma piora.
"Com os novos dados, o tempo que o país tinha para se ajustar e mostrar ao mundo que o modelo argentino é sustentável diminui."
A relação déficit público/PIB deve subir de cerca de 1,55% para 1,74%, baseando-se na estimativa oficial de déficit de US$ 5,1 bilhões. Peréz estima que esse índice deve chegar a 3%, se computado um rombo mais realista para as contas públicas.
A dívida pública, que era de 34% do PIB em 98, passou para 38%. Neste ano, pode chegar a 40% do PIB. O déficit das contas externas, por sua vez, deve ficar próximo de 5%. Era cerca de 4%, diz Peréz.
"As luzes amarelas do investidor podem começar a acender", disse Peréz. Segundo ele, o recálculo do PIB coloca mais em evidência o problema da economia argentina: a dependência de financiamentos.

Metas com FMI
Mas a piora dos índices não vai significar uma renegociação das metas econômicas com o FMI (Fundo Monetário Internacional), segundo Rogelio Frigerio, subsecretário de Programação Econômica. "As metas foram negociadas em valores absolutos", afirma o burocrata.
Na opinião de Sebastián Pruneda, operador do Bozano, Simonsen, o novo PIB vai piorar os relatórios enviados aos investidores, mas representa um avanço na transparência das contas.
Segundo Frigerio, o PIB antigo não era bem avaliado. Baseado numa série histórica de 1986, os cálculos foram distorcidos pelo processo hiperinflacionário de 1989. A atual série começa em 1993.
Se o PIB mudou, a taxa de crescimento total da Argentina, desde 1994, permaneceu praticamente a mesma, caindo um ponto percentual, para 20%. As taxas de crescimento entre os diferentes anos, no entanto, se modificaram.
Além de mais pobres, os dados divulgados pelo Ministério de Economia confirmam que a recessão continua forte na Argentina. O PIB caiu 3% no primeiro trimestre do ano, com relação ao mesmo período do ano passado. O valor é pior do que a estimativa de queda de 2,8%, divulgada pelo ministro Roque Fernández (Economia).


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