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MERCOSUL
Recálculo mostra Produto Interno Bruto do país em US$ 298,1 bi, contra US$ 334,6 bi pelo método anterior
Novo PIB faz Argentina acordar mais pobre
ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires
A Argentina acordou mais pobre
ontem. O Ministério de Economia
divulgou uma nova metodologia
de cálculo da riqueza produzida no
país, que reduziu o PIB (Produto
Interno Bruto) de 98 em 10,9%,
cerca de US$ 36,5 bilhões.
Do dia para a noite, a renda "per
capita" média do Argentina caiu
US$ 1.020. Antes, a renda média
era de US$ 9.320.
O novo PIB argentino para 1998
ficou em US$ 298,1 bilhões. Era de
US$ 334,6 bilhões. A nova metodologia modifica os valores do PIB
desde 1993. O novo valor do PIB
argentino é quase o mesmo do Estado de São Paulo, que estaria em
cerca de US$ 282 bilhões -36% do
PIB brasileiro de 98, ou seja, US$
784,1 bilhões, ainda sem o efeito da
maxidesvalorização do real, em janeiro de 99, que também encolherá o produto do Brasil.
Na prática, a população argentina não perdeu dinheiro, pois a mudança é estatística. Mas os dados
revelam que o tamanho da economia estava sobrevalorizado.
O maior impacto para a Argentina será a diminuição da confiança
dos estrangeiros no país.
Carlos Peréz, diretor da Fundação Capital (consultoria financeira), afirma que os índices econômicos avaliados pelo investidor
vão piorar, com um PIB menor.
Segundo ele, o mercado analisa
três dados para saber se uma economia está saudável: a relação déficit público/PIB, déficit de contas
externas/PIB e dívida pública/PIB.
Como a base do cálculo, o PIB,
caiu, o valor desses índices vai
crescer, o que indica uma piora.
"Com os novos dados, o tempo
que o país tinha para se ajustar e
mostrar ao mundo que o modelo
argentino é sustentável diminui."
A relação déficit público/PIB deve subir de cerca de 1,55% para
1,74%, baseando-se na estimativa
oficial de déficit de US$ 5,1 bilhões.
Peréz estima que esse índice deve
chegar a 3%, se computado um
rombo mais realista para as contas
públicas.
A dívida pública, que era de 34%
do PIB em 98, passou para 38%.
Neste ano, pode chegar a 40% do
PIB. O déficit das contas externas,
por sua vez, deve ficar próximo de
5%. Era cerca de 4%, diz Peréz.
"As luzes amarelas do investidor
podem começar a acender", disse
Peréz. Segundo ele, o recálculo do
PIB coloca mais em evidência o
problema da economia argentina:
a dependência de financiamentos.
Metas com FMI
Mas a piora dos índices não vai
significar uma renegociação das
metas econômicas com o FMI
(Fundo Monetário Internacional),
segundo Rogelio Frigerio, subsecretário de Programação Econômica. "As metas foram negociadas
em valores absolutos", afirma o
burocrata.
Na opinião de Sebastián Pruneda, operador do Bozano, Simonsen, o novo PIB vai piorar os relatórios enviados aos investidores,
mas representa um avanço na
transparência das contas.
Segundo Frigerio, o PIB antigo
não era bem avaliado. Baseado numa série histórica de 1986, os cálculos foram distorcidos pelo processo hiperinflacionário de 1989. A
atual série começa em 1993.
Se o PIB mudou, a taxa de crescimento total da Argentina, desde
1994, permaneceu praticamente a
mesma, caindo um ponto percentual, para 20%. As taxas de crescimento entre os diferentes anos, no
entanto, se modificaram.
Além de mais pobres, os dados
divulgados pelo Ministério de Economia confirmam que a recessão
continua forte na Argentina. O PIB
caiu 3% no primeiro trimestre do
ano, com relação ao mesmo período do ano passado. O valor é pior
do que a estimativa de queda de
2,8%, divulgada pelo ministro Roque Fernández (Economia).
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