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LUÍS NASSIF
Cabeça de planilha
A "herança maldita" de
FHC se consistiu não apenas na enorme vulnerabilidade
externa legada mas na assunção, pelo governo Lula, do que
de mais superficial e autista a
análise econômica brasileira
produziu nas últimas décadas.
Manteve-se o mesmo pensamento que quebrou o país a
partir de 1995, na gestão Gustavo Franco, e não logrou reduzir
em um centavo de dólar a vulnerabilidade externa na gestão
Armínio Fraga-Ilan Goldfajn.
Como se explica essa marcha
continuada da insensatez, essa
insistência reiterada no desastre?
Tomemos o sistema de "metas inflacionárias", base teórica
desse modelo.
Na política econômica, é fundamental a boa sinalização para as expectativas dos agentes
econômicos. Quando o BC aumenta ou reduz os juros, quanto mais rápida for a adesão do
agente aos sinais da política
monetária, mais eficaz será a
política.
Aí vem o economista de planilha do BC -o sujeito que
monta o "modelito"-, define
um objetivo (a meta de inflação) e correlações entre ele e a
taxa de juros básica da economia. Não existe ciência nisso
nem perspectiva histórica de
estabilidade para permitir definir o nível ótimo de correlação.
Por isso, é um jogo de tentativa
e erro. Aqui, virou o bezerro sagrado.
Definido o modelo, cada departamento econômico de instituição monta a sua planilha.
E sua competência consiste em
acertar os resultados da planilha do BC, para "adivinhar" os
próximos passos dos juros.
É por aí que se cria o círculo
da mediocridade. Na gestão
Armínio Fraga, o dono da planilha era Ilan. Ele saiu, mas a
planilha ficou. Ela é monotemática, usa apenas uma variável (os juros) e uma meta (a inflação). Só trabalha com o passado, com indicadores já publicados e não contém nenhum
elemento de observação da realidade. Por isso mesmo, é incapaz de antecipar os movimentos futuros da economia.
Mas, quando o modelo é colocado em marcha, cria uma
corrente de apoio que nada
tem a ver com sua consistência.
Não se trata de analisar se o nível dos juros e do câmbio está
correto para o equilíbrio da
economia, mas se reflete a planilha de Ilan. Porque os analistas de mercado ganham dinheiro quando acertam o resultado da planilha de Ilan e
perdem quando erram.
Qualquer tentativa de fugir
do modelo, mesmo estando ele
flagrantemente errado, cria esse coro de unanimidade contra
mudanças. Mas o que está em
jogo não é se a política é adequada ou não à economia, mas
se segue ou não o que foi definido na planilha de Ilan. Criado
o coro, o próprio BC termina
refém da planilha do Ilan. E
quem é Ilan? Um economista
de visão ampla, conhecedor dos
meandros, das características
da economia brasileira, como
foram Campos, Bulhões, Simonsen? Não. Ilan é um especialista na planilha de Ilan.
Quando a planilha provocar
os desequilíbrios macroeconômicos que já se fazem presentes, será tarde.
Câmbio
Na coluna de anteontem,
mencionei a corretora Finambras como exemplo de instituição uruguaia, mas que opera
no mercado oficial. Volto a enfatizar porque seus dirigentes
informam que a coluna provocou alguma confusão, com
clientes não lendo a menção ao
mercado oficial.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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