São Paulo, quinta-feira, 12 de julho de 2007

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Crise de energia gera filas em postos de Buenos Aires

Com racionamento, motoristas chegam a esperar mais de quatro horas para abastecer

Onda de frio e racionamento de gás deixam cidades sem luz e começam a afetar produção industrial em ano de eleição presidencial

Claudia Conteris/Diario Popular
Taxistas tiveram de aguardar mais de 4 horas para abastecer


RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

A onda de frio na Argentina expõe cada vez mais o cobertor curto do setor energético do país. Ontem, o problema atingiu em cheio Buenos Aires. A cidade amanheceu com imensas filas de táxis e veículos de frete em busca de combustível nos postos de gasolina.
O problema veio atrapalhar os esforços do governo para evitar que a escassez afete o fornecimento de gás e eletricidade aos habitantes das regiões metropolitanas. A indústria e o interior sofrem cada vez mais com medidas de racionamento.
O plano do governo, que concedeu subsídios às empresas petroleiras para que vendessem gasolina ao mesmo preço de GNV (gás natural veicular) para táxis e fretes, esbarrou na falta de estrutura dos poucos postos habilitados.
Com o fornecimento de GNV totalmente suspenso, o governo anunciou anteontem a medida paliativa, mas os problemas práticos foram grandes.
Franco Duarte, um dos taxistas que faziam fila ontem à tarde em um dos cerca de 200 postos habilitados no país para vender gasolina à metade do preço para taxistas, resumia:
"A economia com a gasolina eu perco com as horas que eu não trabalho aqui, nesta fila. Amanhã vou abastecer ao preço normal e trabalhar mais cedo, assim recupero o prejuízo".
Duarte, como outros, passou mais de quatro horas em uma fila à espera de abastecer um limite máximo de 40 litros.
As longas filas se explicavam pelo fato de apenas uma bomba em cada posto estar habilitada para fazer a venda mais barata da gasolina e um grande formulário precisar ser preenchido para que os postos prestem contas às petroleiras pela venda de gasolina com desconto.

"Saudades de Alfonsín"
Rubén Soler era outro que lamentava o tempo perdido, calculando que poderia ganhar até 40 pesos no período -exatamente o valor que era autorizado a abastecer.
"Esse governo nos faz ter saudade de Alfonsín", disse, referindo-se ao primeiro presidente do país depois da redemocratização, que saiu enfraquecido do governo justamente por uma crise energética.
Embora o objetivo fosse evitar que a população sofresse com o frio em suas casas, a falta de GNV acabou atingindo os que precisaram de um táxi.
Isso porque, de acordo com dados da Federação Nacional de Proprietários de Táxis, só 18 mil dos 38 mil táxis da Grande Buenos Aires podem circular com gasolina. Os outros só operam com gás ou diesel, que não foram incluídos nos descontos.
O resultado foi uma longa espera nos pontos ou para quem pedia um táxi pelo telefone.
A onda de frio, e seus conseqüentes desdobramentos, deve continuar pelo menos até amanhã. Desde segunda, pelo menos 14 pessoas já morreram no país em decorrência do frio.
O Chile também sofreu os efeitos da crise energética na Argentina. O país, que depende do gás argentino para abastecer o comércio e os domicílios de Santiago, anunciou ontem que não entraria nenhum metro cúbico de gás argentino pelo gasoduto que une os países.
O mínimo necessário que o Chile necessita por dia para não precisar usar suas reservas é de cerca de 1,6 milhão de metros cúbicos. Ontem, o país teve que recorrer às reservas acumuladas, que garantiriam alguns dias de abastecimento.
As indústrias argentinas também voltaram a ser vítimas da crise. O gás esteve cortado durante todo o dia e, a partir das 16h, voltou a viger a restrição de consumo elétrico que obriga as empresas a voltarem seu consumo aos níveis de 2005 para reduzir em 1.600 MWh o consumo geral no país.

Economia sofre
A situação gera preocupações de desaceleração da economia da Argentina. Embora o governo, em campanha eleitoral, insista em que não há crise de energia, o secretário de Indústria, Miguel Peyrano, reconheceu ontem que existem alguns "gargalos para a cadeia de produção". Em seguida, porém, minimizou os efeitos da crise:
"Os indicadores de nível de atividade que temos registrado, como o do setor automotivo, estão mostrando níveis de produção elevados".
Enquanto na capital e na Província de Buenos Aires, áreas de maior concentração eleitoral, o governo evita a todo custo o corte a usuários domésticos, Províncias do interior estão criando seus próprios planos de racionamento.
Bariloche, cidade turística por excelência e uma das mais frias do país, ficou 16 horas sem energia entre a noite de anteontem e a manhã de ontem por problemas na rede de transmissão.


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