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Crise de energia gera filas em postos de Buenos Aires
Com racionamento, motoristas chegam a esperar mais de quatro horas para abastecer
Onda de frio e racionamento
de gás deixam cidades sem luz e começam a afetar produção industrial em
ano de eleição presidencial
Claudia Conteris/Diario Popular
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Taxistas tiveram de aguardar mais de 4 horas para abastecer |
RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES
A onda de frio na Argentina
expõe cada vez mais o cobertor
curto do setor energético do
país. Ontem, o problema atingiu em cheio Buenos Aires. A
cidade amanheceu com imensas filas de táxis e veículos de
frete em busca de combustível
nos postos de gasolina.
O problema veio atrapalhar
os esforços do governo para
evitar que a escassez afete o fornecimento de gás e eletricidade
aos habitantes das regiões metropolitanas. A indústria e o interior sofrem cada vez mais
com medidas de racionamento.
O plano do governo, que concedeu subsídios às empresas
petroleiras para que vendessem gasolina ao mesmo preço
de GNV (gás natural veicular)
para táxis e fretes, esbarrou na
falta de estrutura dos poucos
postos habilitados.
Com o fornecimento de GNV
totalmente suspenso, o governo anunciou anteontem a medida paliativa, mas os problemas práticos foram grandes.
Franco Duarte, um dos taxistas que faziam fila ontem à tarde em um dos cerca de 200 postos habilitados no país para
vender gasolina à metade do
preço para taxistas, resumia:
"A economia com a gasolina
eu perco com as horas que eu
não trabalho aqui, nesta fila.
Amanhã vou abastecer ao preço normal e trabalhar mais cedo, assim recupero o prejuízo".
Duarte, como outros, passou
mais de quatro horas em uma
fila à espera de abastecer um limite máximo de 40 litros.
As longas filas se explicavam
pelo fato de apenas uma bomba
em cada posto estar habilitada
para fazer a venda mais barata
da gasolina e um grande formulário precisar ser preenchido
para que os postos prestem
contas às petroleiras pela venda de gasolina com desconto.
"Saudades de Alfonsín"
Rubén Soler era outro que lamentava o tempo perdido, calculando que poderia ganhar até
40 pesos no período -exatamente o valor que era autorizado a abastecer.
"Esse governo nos faz ter
saudade de Alfonsín", disse, referindo-se ao primeiro presidente do país depois da redemocratização, que saiu enfraquecido do governo justamente
por uma crise energética.
Embora o objetivo fosse evitar que a população sofresse
com o frio em suas casas, a falta
de GNV acabou atingindo os
que precisaram de um táxi.
Isso porque, de acordo com
dados da Federação Nacional
de Proprietários de Táxis, só 18
mil dos 38 mil táxis da Grande
Buenos Aires podem circular
com gasolina. Os outros só operam com gás ou diesel, que não
foram incluídos nos descontos.
O resultado foi uma longa espera nos pontos ou para quem
pedia um táxi pelo telefone.
A onda de frio, e seus conseqüentes desdobramentos, deve
continuar pelo menos até amanhã. Desde segunda, pelo menos 14 pessoas já morreram no
país em decorrência do frio.
O Chile também sofreu os
efeitos da crise energética na
Argentina. O país, que depende
do gás argentino para abastecer
o comércio e os domicílios de
Santiago, anunciou ontem que
não entraria nenhum metro
cúbico de gás argentino pelo
gasoduto que une os países.
O mínimo necessário que o
Chile necessita por dia para não
precisar usar suas reservas é de
cerca de 1,6 milhão de metros
cúbicos. Ontem, o país teve que
recorrer às reservas acumuladas, que garantiriam alguns
dias de abastecimento.
As indústrias argentinas
também voltaram a ser vítimas
da crise. O gás esteve cortado
durante todo o dia e, a partir
das 16h, voltou a viger a restrição de consumo elétrico que
obriga as empresas a voltarem
seu consumo aos níveis de
2005 para reduzir em 1.600
MWh o consumo geral no país.
Economia sofre
A situação gera preocupações de desaceleração da economia da Argentina. Embora o
governo, em campanha eleitoral, insista em que não há crise
de energia, o secretário de Indústria, Miguel Peyrano, reconheceu ontem que existem alguns "gargalos para a cadeia de
produção". Em seguida, porém,
minimizou os efeitos da crise:
"Os indicadores de nível de
atividade que temos registrado,
como o do setor automotivo,
estão mostrando níveis de produção elevados".
Enquanto na capital e na
Província de Buenos Aires,
áreas de maior concentração
eleitoral, o governo evita a todo
custo o corte a usuários domésticos, Províncias do interior estão criando seus próprios planos de racionamento.
Bariloche, cidade turística
por excelência e uma das mais
frias do país, ficou 16 horas sem
energia entre a noite de anteontem e a manhã de ontem
por problemas na rede de
transmissão.
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