São Paulo, quinta-feira, 12 de julho de 2007

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Metade da energia da Argentina vem do gás

Produto é usado para abastecer sistemas de calefação, carros e usinas termoelétricas; petróleo é segunda maior fonte

País vê queda na produção das maiores origens de sua energia; para completar, escassez de chuva afeta as usinas hidrelétricas

DE BUENOS AIRES

A excessiva dependência do gás natural ajuda a explicar a crise energética que explodiu na Argentina ao lado do inverno mais rigoroso dos últimos anos.
Usado tanto para alimentar as cozinhas e aparelhos de calefação dos argentinos como para combustível de cerca de 15% dos carros do país, o gás natural representa 49% da matriz energética argentina, contra uma média mundial de 23%.
Em tempos de normalidade, 30% desse gás abastece as indústrias, 21% são destinados a usinas termelétricas para produzir eletricidade e 8% são usados como GNV (gás natural veicular). A onda de frio levou o governo a redirecionar a maioria dessa produção para os consumidores domésticos, normalmente destinatários de 33% do gás produzido na Argentina e importado da Bolívia.
Até o governo Menem, o Estado argentino controlava toda a cadeia de produção e distribuição do gás com as empresas Gás do Estado e YPF. Ambas foram privatizadas, e o monopólio, quebrado. Hoje, produção, transporte e distribuição estão na mão de empresas privadas, reguladas pela Enargas, agência do Estado, que dá ordens como a de suspensão por período indeterminado do fornecimento de GNV para realocá-lo a usuários residenciais.
A filial argentina da Petrobras é uma das principais empresas no setor de exploração de gás natural na Argentina, além de controlar a TGS (Transportadora de Gás do Sul), uma das principais redes de gasodutos do país.
Além disso, a estatal brasileira possui uma usina termelétrica, a Genelba, localizada na Província de Buenos Aires, que opera a base de gás natural explorado e transportado pela empresa e que pode produzir até 714 MWh, o que equivale a mais do que a energia que a Argentina vinha importando do Brasil antes de pedir ao governo brasileiro que elevasse o volume para 1.100 MWh.
Além do gás, a matriz energética argentina é basicamente composta pelo petróleo, com outros 41% das fontes de energia primária no país. Muito atrás vêm as energias hidráulica (4,4%) e nuclear (2,5%).
O gás e os derivados de petróleo alimentam as 45 usinas termelétricas que produzem 50% da eletricidade do país. A outra metade é dividida entre as 33 hidrelétricas (45%) e as duas centrais nucleares (5%).
Também esse setor foi descentralizado com as privatizações dos anos 90. Hoje, 80% das geradoras e 70% das distribuidoras são de empresas privadas. O resto se divide entre o governo federal e as Províncias.
Também no setor elétrico é forte a presença da Petrobras: além da termelétrica, a empresa brasileira tem uma hidrelétrica e controla as duas principais redes de transmissão do país, a Transener e a Transba.
Na crise energética vivida pela Argentina, somam-se problemas de todos os lados: a produção de gás atingiu seu pico em 2004 e vem caindo desde então, como caíram também as importações vindas da Bolívia. Nos anos 90, o país firmou um acordo em que chegou a exportar 22 milhões de m3/dia de gás natural para o Chile; hoje, tem dificuldades para cumprir o mínimo de 1,6 milhão de m3 necessário para o vizinho.
As hidrelétricas sofrem com a escassez de chuvas e operam abaixo de sua capacidade.
O petróleo argentino, por sua vez, teve seu pico de produção em 1998; cada vez mais, o país precisa recorrer a importações para suprir o consumo interno, no que muito ajuda a amizade entre os presidentes Néstor Kirchner e Hugo Chávez, da Venezuela. (RODRIGO RÖTZSCH)


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