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Metade da energia da Argentina vem do gás
Produto é usado para abastecer sistemas de calefação, carros e usinas termoelétricas; petróleo é segunda maior fonte
País vê queda na produção das maiores origens de sua energia; para completar, escassez de chuva afeta
as usinas hidrelétricas
DE BUENOS AIRES
A excessiva dependência do
gás natural ajuda a explicar a
crise energética que explodiu
na Argentina ao lado do inverno mais rigoroso dos últimos
anos.
Usado tanto para alimentar
as cozinhas e aparelhos de calefação dos argentinos como para
combustível de cerca de 15%
dos carros do país, o gás natural
representa 49% da matriz
energética argentina, contra
uma média mundial de 23%.
Em tempos de normalidade,
30% desse gás abastece as indústrias, 21% são destinados a
usinas termelétricas para produzir eletricidade e 8% são usados como GNV (gás natural veicular). A onda de frio levou o
governo a redirecionar a maioria dessa produção para os consumidores domésticos, normalmente destinatários de
33% do gás produzido na Argentina e importado da Bolívia.
Até o governo Menem, o Estado argentino controlava toda
a cadeia de produção e distribuição do gás com as empresas
Gás do Estado e YPF. Ambas
foram privatizadas, e o monopólio, quebrado. Hoje, produção, transporte e distribuição
estão na mão de empresas privadas, reguladas pela Enargas,
agência do Estado, que dá ordens como a de suspensão por
período indeterminado do fornecimento de GNV para realocá-lo a usuários residenciais.
A filial argentina da Petrobras é uma das principais empresas no setor de exploração
de gás natural na Argentina,
além de controlar a TGS
(Transportadora de Gás do
Sul), uma das principais redes
de gasodutos do país.
Além disso, a estatal brasileira possui uma usina termelétrica, a Genelba, localizada na
Província de Buenos Aires, que
opera a base de gás natural explorado e transportado pela
empresa e que pode produzir
até 714 MWh, o que equivale a
mais do que a energia que a Argentina vinha importando do
Brasil antes de pedir ao governo brasileiro que elevasse o volume para 1.100 MWh.
Além do gás, a matriz energética argentina é basicamente
composta pelo petróleo, com
outros 41% das fontes de energia primária no país. Muito
atrás vêm as energias hidráulica (4,4%) e nuclear (2,5%).
O gás e os derivados de petróleo alimentam as 45 usinas termelétricas que produzem 50%
da eletricidade do país. A outra
metade é dividida entre as 33
hidrelétricas (45%) e as duas
centrais nucleares (5%).
Também esse setor foi descentralizado com as privatizações dos anos 90. Hoje, 80% das
geradoras e 70% das distribuidoras são de empresas privadas. O resto se divide entre o
governo federal e as Províncias.
Também no setor elétrico é
forte a presença da Petrobras:
além da termelétrica, a empresa brasileira tem uma hidrelétrica e controla as duas principais redes de transmissão do
país, a Transener e a Transba.
Na crise energética vivida pela Argentina, somam-se problemas de todos os lados: a produção de gás atingiu seu pico
em 2004 e vem caindo desde
então, como caíram também as
importações vindas da Bolívia.
Nos anos 90, o país firmou um
acordo em que chegou a exportar 22 milhões de m3/dia de gás
natural para o Chile; hoje, tem
dificuldades para cumprir o
mínimo de 1,6 milhão de m3 necessário para o vizinho.
As hidrelétricas sofrem com
a escassez de chuvas e operam
abaixo de sua capacidade.
O petróleo argentino, por sua
vez, teve seu pico de produção
em 1998; cada vez mais, o país
precisa recorrer a importações
para suprir o consumo interno,
no que muito ajuda a amizade
entre os presidentes Néstor
Kirchner e Hugo Chávez, da
Venezuela.
(RODRIGO RÖTZSCH)
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