São Paulo, sábado, 12 de julho de 2008

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Gigantes das hipotecas assustam mercados

Governo Bush pode ter de intervir para impedir a quebra das empresas

Quebra de Fannie Mae e Freddie Mac, vistas como pilares do setor hipotecário, pode implodir o mercado imobiliário americano


DA REDAÇÃO

As duas gigantes do mercado hipotecário americano, a Fannie Mae e a Freddie Mac, foram o centro das preocupações dos mercados financeiros ontem, com o temor de que o governo dos EUA tenha que intervir para impedir que elas quebrem.
Apesar das tentativas do presidente George W. Bush e do secretário do Tesouro, Henry Paulson, de acalmar o mercado, as ações das duas empresas despencaram. A principal preocupação é que essas companhias precisem de uma grande injeção de dinheiro e até de ajuda governamental. Elas garantem mais de 40% do mercado hipotecário americano e são, portanto, fundamentais para o combalido setor imobiliário.
Os papéis da Freddie Mac, que chegaram a ter queda de 50% caíram 3,12% ontem, e os da Fannie Mae recuaram 22,35%. No ano, eles já retrocederam 76,4% e 73,2%, respectivamente. As duas afirmaram ontem que possuem fundos próprios mais que sólidos.
A quebra dessas companhias, que são consideradas o pilar do setor, provavelmente implodiria o já enfraquecido mercado imobiliário americano, podendo arrastar o resto da principal economia mundial. Alguns dos efeitos dessa crise podem ser a elevação dos juros que os proprietários terão que pagar e o aumento das exigências para a concessão dos empréstimos.
Segundo o "Wall Street Journal", o Departamento do Tesouro não está "discutindo a nacionalização", mas o governo George W. Bush está acelerando as discussões de planos de contingência em caso de a situação dessas empresas continuar se deteriorando.
O presidente do Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA), Ben Bernanke, já teria prometido às duas companhias o acesso à janela de redesconto, de acordo com a Reuters. A janela de redesconto é um instrumento do BC em que ele empresta dinheiro para instituições financeiras que enfrentam problemas de liquidez. O senador democrata Christopher Dodd afirmou que conversou com Bernanke e Paulson e que eles estudam várias opções, entre elas o acesso aos empréstimos do banco central americano.
Bush afirmou, na manhã de ontem, que o secretário do Tesouro e o presidente do Fed lhe "garantiram que vão trabalhar arduamente nesse assunto". Já Paulson divulgou nota, em uma tentativa de acalmar os mercados, sinalizando que a ajuda governamental não é iminente.
"O nosso foco principal hoje é apoiar a Fannie Mae e a Freddie Mac no seu modelo atual e que elas continuem com a sua importante missão", disse o secretário. "Nós estamos mantendo um diálogo com reguladores e com as empresas."
Anteontem, Bernanke e Paulson afirmaram que a Fannie Mae e a Freddie Mac estão "adequadamente capitalizadas". O presidente do Fed, porém, disse que elas precisarão levantar mais capital, a exemplo de outras grandes instituições financeiras dos EUA
A Fannie Mae e a Freddie Mac têm sido, nas últimas décadas, a espinha dorsal do sistema imobiliário americano, aproveitando do apoio governamental, ainda que implícito, para levantar dinheiro barato, garantido milhões de hipotecas -aproximadamente 43% do mercado, ou US$ 5 trilhões.
Criadas pelo Congresso dos EUA para garantir o mercado de hipotecas, elas adquirem empréstimos imobiliários de bancos, juntam-nos em títulos e revendem-nos para investidores com a garantia de que eles serão pagos. Essa garantia torna os seus títulos mais atrativos para os investidores, já que as duas companhias assumirão os riscos caso os proprietários não consigam cumprir com as suas obrigações.
O fato de terem sido criadas pelo Congresso também as torna mais interessantes, já que há uma garantia implícita de que o governo irá resgatá-las em caso de crise. No ano passado, a Fannie Mae faturou US$ 43,7 bilhões, e a Freddie Mac, US$ 42,9 bilhões.


Com "The New York Times" e "Financial Times"


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