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Meirelles afirma que havia "exuberância excessiva" no mercado
Presidente do BC diz que preços de ativos estavam elevados e não eram sustentáveis e que correção "era uma coisa desejável'
Para Meirelles, ainda não é possível avaliar se as perdas no mercado de crédito imobiliário norte-americano vão afetar a economia global
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles diz que a
correção nos preços do mercado "era uma coisa desejável", já
que havia uma "exuberância
excessiva". Ele alerta, porém,
que ainda não é possível avaliar
as implicações da atual onda de
turbulência, que afetou os mercados internacionais, nem
quanto tempo ela vai durar.
Responsável pela política
monetária do governo Lula, criticado pelo excesso de conservadorismo do BC, Meirelles
afirma acreditar que o país está
mais preparado para enfrentar
a atual crise internacional,
apontando como motivos dados como reservas internacionais acima de US$ 150 bilhões e
inflação na meta. Admite, porém, que "ninguém é imune a
uma crise de grandes proporções". Leia continuação de entrevista à Folha.
(VALDO CRUZ)
FOLHA - O sr. disse que via aspectos
positivos numa correção do mercado, que estava com liquidez excessiva. O sr. mantém a avaliação hoje?
HENRIQUE MEIRELLES - Em relação
aos mercados internacionais, é
importante dizer que as correções eram de certa forma inevitáveis, pois uma precificação
mais realista e, portanto, mais
sustentável dos ativos de risco
nos principais centros financeiros era uma coisa desejável.
FOLHA - Como assim desejável?
MEIRELLES - Porque, na medida
em que exista exuberância excessiva e os preços estejam
mais altos do que os fundamentos de alguns desses mercados,
é natural que em algum momento isso não seja sustentável
e haja uma correção de preço.
Idealmente esse processo deve
ser gradual e ordenado. Porque,
se for desordenado, haverá um
risco de aumentar de uma forma indiscriminada.
FOLHA - Estamos em que direção?
MEIRELLES - Hoje é um pouco
prematuro para avaliar as implicações dessa turbulência sobre a economia americana e a
do resto do mundo e o ordenamento desse ajuste. Os BCs dos
países mais afetados estão tomando todas as medidas visando evitar que esse ajuste seja
desordenado. Como a exposição total das instituições financeiras norte-americanas ao
mercado imobiliário ainda é
objeto de certa incerteza, as oscilações podem continuar por
algumas semanas. Por quanto
tempo? Vai depender do surgimento de novas ocorrências de
algumas entidades que estejam
com dificuldades.
Há um fator nessa turbulência que é positivo: o fato de o
risco ter sido absorvido por
agentes do mundo inteiro. De
outro lado, é negativo, porque a
turbulência se espalha muito.
FOLHA - Quais as repercussões dessa crise para o cenário econômico
global e para o Brasil, em particular?
MEIRELLES - Esta é a grande
questão do momento: avaliar
até que ponto as perdas do
mercado de crédito americano
poderão gerar um determinado
nível de aperto de crédito que
poderia prejudicar a economia
americana em primeiro lugar e,
em segundo, as demais. Não é
algo muito claro hoje.
Em relação ao Brasil, ele está
muito mais bem preparado.
Ninguém é imune a uma crise
de grandes proporções. Mas
não há dúvida de que o Brasil
está hoje numa posição muito
mais confortável para enfrentar os problemas causados pelos ajustes nos mercados.
FOLHA - Em que o sr. baseia essa
confiança?
MEIRELLES - O Brasil tem hoje
uma economia muito mais balanceada do que tivemos por
muito tempo. Uma das fontes
de vulnerabilidade foi o setor
externo, que hoje é um ponto
forte. Reservas internacionais
superiores a US$ 150 bilhões
mostram a sua importância.
Sempre dissemos que havia
um custo [das reservas], mas
que os benefícios o superavam,
e muito. Agora, num período
como esse, os ganhos propiciados pela acumulação das reservas ficam mais evidentes.
Outro ponto importante é
que o câmbio flutuante funciona como uma primeira linha de
defesa de choques externos.
Além disso, é preciso notar que
o BC já estava preocupado com
uma certa exuberância nos preços dos ativos de risco.
FOLHA - Preocupado como?
MEIRELLES - No sentido de que o
mercado brasileiro pudesse assumir riscos que, em momentos como este, poderiam trazer
problemas para as instituições
e para a economia. Foi exatamente visando se prevenir contra isso que o BC introduziu
medidas prudenciais na área de
risco cambial. Fez passar a ser
exigida a alocação de capital para determinados tipos de risco,
o que fez as instituições diminuírem suas exposições nesse
mercado, o que se prova agora
uma medida prudente.
Temos ainda o saldo positivo
na balança, uma política monetária que conseguiu ancorar as
expectativas de inflação. Com
isso, os mercados brasileiros
continuam funcionando em
absoluta normalidade, sem necessidade de injeções extraordinárias de liquidez.
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