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Roubo de carga é recorde e aumenta custo de empresas
Ocorrências sobem 23% no 1º semestre; 9 de 10 carregamentos segurados são roubados
Custo com gerenciamento de
risco e seguro chega a 17%
do faturamento de empresas;
seguradoras se recusam a
cobrir determinadas cargas
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
O número de roubos de carga
bateu novo recorde no primeiro semestre do ano. Houve 23%
mais ocorrências entre janeiro
e junho do que no mesmo período de 2008. Em valores, o
crescimento percentual foi semelhante e chegou a R$ 134,2
milhões em cargas roubadas
neste ano no Estado.
De acordo com a Fenseg (Federação Nacional dos Seguros
Gerais), o percentual de sinistros sobre as cargas seguradas
(roubadas) atingiu 90% de janeiro a maio. A situação é tão
grave que algumas seguradoras
têm saído da área ou se recusado a fazer apólices de empresas
de setores como eletroeletrônicos, celulares e medicamentos.
Os dados sobre o aumento no
roubo a carga são do Setcesp
(Sindicato das Empresas de
Transportes de Carga de São
Paulo), baseados em números
da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Pelo Estado
circulam 53% das cargas transportadas no país, porém apenas
a secretaria paulista fornece às
entidades do setor informações
sobre os roubos para análise.
Crise
O aumento no número de
roubos começou no segundo
semestre do ano passado. A crise econômica, dizem os especialistas, tem sido responsável
por essa alta, porém o desemprego não é o principal gatilho
do problema.
"Houve aumento na demanda de receptação de mercadoria
roubada", diz Artur Santos, diretor da Mapfre Seguros. "Não
há roubo de carga sem encomenda e não se veem televisores ou equipamentos eletrônicos caros nos camelôs da rua 25
de Março. Quando se olha o
roubo de carga é que às vezes se
entendem algumas promoções
agressivas do varejo."
Com a nova alta, o índice de
sinistros em cargas seguradas,
que no fim de 2008 estava em
62%, subiu para 83% no primeiro trimestre. No número
mais recente, que inclui maio,
chegou a 90%.
"Se as seguradoras dependessem apenas dos seguros de
frete para sobreviver, estariam
quebradas", diz Santos. "Como
9 em cada 10 cargas seguradas
são roubadas, se forem colocadas despesas de administração
e comissão do corretor, as contas não fecham."
Com isso, as seguradoras têm
se recusado a fazer apólices de
determinadas cargas. "Não
aceitamos determinados riscos, alguns, só sob restrições, e,
no caso de eletrônicos, as condições têm de ser especialíssimas", diz Santos. "As empresas
têm participação obrigatória,
não indenizamos 100% do valor e tem de haver sistemas redundantes de segurança."
Isso porque, dizem os especialistas, não há sistema de segurança inviolável. Rastreadores e sistemas de proteção são
desarmados com outras ferramentas tecnológicas, facilmente encontráveis na cidade. "Na
semana passada, demos uma
batida atrás de um caminhão
roubado e, quando chegamos
ao galpão, havia apenas o equipamento de localização", diz
Itagiba Franco, delegado da Divecar (Divisão de Investigações
sobre Furtos e Roubos de Veículos e Cargas). "A carga e o caminhão não estavam lá."
Com o aumento nos roubos,
os custos e o trabalho para as
empresas são redobrados. Na
corretora Marsh, os formulários de seguro, que continham
duas páginas, agora têm 16.
"As seguradoras passaram a
olhar com mais cuidado o cliente", diz Sérgio Caron, gerente
da Marsh. "Querem que ele explique a logística, onde estão as
fábricas, se o produto é componente ou acabado. Tudo será
questionado e cobrado."
Segundo Paulo Roberto de
Souza, coronel reformado do
exército e assessor de segurança da federação e da associação
nacional de transportes, os custos com seguros e medidas de
gerenciamento de risco das
empresas giram entre 12% e
15% com relação ao faturamento anual, em média. "Mas conheço empresas de grande porte nas quais o valor chega a 17%
do total", diz Souza.
Souza não é o único coronel
do exército recrutado pelas
transportadoras. Infiltrados
nas operações logísticas, profissionais de segurança são
contratados para construir a
inteligência do transporte.
"Eles têm total autonomia sobre a logística", diz Caron.
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