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OUTONO DE PRAGA
Protesto de ONGs poderá tumultuar e paralisar a capital da República Tcheca na semana que vem
Manifestantes querem 20 mil contra o FMI
RICARDO GRINBAUM
DE LONDRES
As caravanas de ecologistas, religiosos, sindicalistas, socialistas,
comunistas, anarquistas, neonazistas e dezenas de outras tribos
políticas já estão saindo das capitais européias para promover, a
partir de segunda-feira, o que estão chamando de "Seattle 2"
-uma repetição do protesto que
levou o caos à cidade norte-americana durante encontro da OMC,
no final do ano passado.
As organizações não-governamentais falam em levar 20 mil
manifestantes para atrapalhar a
vida de 16 mil delegados, políticos
e ministros de governo, na reunião de cúpula do FMI (Fundo
Monetário Internacional) e do
Banco Mundial, que será realizada, a partir da semana que vem,
em Praga.
A polícia e as autoridades da República Tcheca e Eslovaca estão
levando o protesto a sério. Um
grupo da polícia britânica Scotland Yard viajou a Praga para
ajudar os tchecos a se preparar
para enfrentar os militantes. Cerca de 11 mil policiais e 5.000 soldados do Exército tcheco estarão de
prontidão.
Durante dez dias, os manifestantes pretendem promover em
Praga debates, festas, protestos,
uma mistura de militância, de
carnaval e de arruaça como já
ocorreu em Seattle e no encontro
do FMI em Washington no início
do ano.
Os militantes querem parar a cidade com marchas fúnebres "em
homenagem às crianças mortas
pela dívida do Terceiro Mundo",
mas também vão tentar bloquear
a entrada ou invadir as reuniões
de ministros e autoridades do
FMI e do Banco Mundial.
"Nossos protestos serão pacíficos, mas estamos reservando surpresas para chamar a atenção de
todo o mundo", afirma Marlene
Barrett, chefe de campanhas da
organização não-governamental
Jubileu 2000, que defende o cancelamento da dívida dos países
pobres.
Anarquia e monarquia
Em geral, todas as ONGs antiglobalização dizem que as manifestações serão pacíficas, mas a
mistura de grupos presentes em
Praga pode ser incontrolável.
Estarão lá desde os anarquistas
do Movimento Antimonarquia
britânico a integrantes da StB, a
antiga polícia secreta da Tchecoslováquia, e grupos neonazistas.
O movimento antiglobalização
pretende realizar protestos em 35
países no dia 26 deste mês -incluindo o Brasil. Para mobilizar
tanta gente, os militantes estão se
comunicando por meio de endereços eletrônicos, em sites como
"Destrua o FMI" ou "50 anos é
Demais", numa referência ao
meio século de existência do Banco Mundial e do FMI.
Só nos Estados Unidos estão
marcadas manifestações em 40 cidades. "Proteste contra um plano
de privatização municipal! Faça
um protesto numa loja ou no
quartel-general de uma corporação ofensiva! Faça uma ação numa agência do Citibank para
pressioná-lo a parar de comprar
bônus do Banco Mundial!", convoca o site da "50 anos é Demais".
No Reino Unido, os militantes
estão comprando pacotes numa
agência de viagens por R$ 900,00,
com direito a vôo e três noites em
Praga. "S-26 será um marco na
história da luta contra a globalização", diz Max, da ONG britânica
Reclaim the Streets, usando o jargão do movimento, que batiza os
protestos pelo dia de realização.
O Reclaim the Streets é uma das
principais referências na luta contra a globalização na Europa, assim como o Earth First, o Rainforest Direct Action e o Global Trade Watch são alguns dos eixos dos
protestos nos Estados Unidos.
"O capitalismo é como um câncer que cresce sem parar e destrói
o que encontra pela frente", diz
Max, vestido com um macacão de
pintor e um cadeado pendurado
na orelha como se fosse brinco.
"Ninguém sabe o que colocar
no lugar, mas é preciso impor limites às corporações", continua o
militante anarquista e pacifista,
que usa botas de material sintético porque é contra o abate de animais. "Até o George Soros diz que
o capitalismo saiu do controle."
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