São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 2000

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OUTONO DE PRAGA
Protesto de ONGs poderá tumultuar e paralisar a capital da República Tcheca na semana que vem
Manifestantes querem 20 mil contra o FMI

RICARDO GRINBAUM
DE LONDRES

As caravanas de ecologistas, religiosos, sindicalistas, socialistas, comunistas, anarquistas, neonazistas e dezenas de outras tribos políticas já estão saindo das capitais européias para promover, a partir de segunda-feira, o que estão chamando de "Seattle 2" -uma repetição do protesto que levou o caos à cidade norte-americana durante encontro da OMC, no final do ano passado.
As organizações não-governamentais falam em levar 20 mil manifestantes para atrapalhar a vida de 16 mil delegados, políticos e ministros de governo, na reunião de cúpula do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial, que será realizada, a partir da semana que vem, em Praga.
A polícia e as autoridades da República Tcheca e Eslovaca estão levando o protesto a sério. Um grupo da polícia britânica Scotland Yard viajou a Praga para ajudar os tchecos a se preparar para enfrentar os militantes. Cerca de 11 mil policiais e 5.000 soldados do Exército tcheco estarão de prontidão.
Durante dez dias, os manifestantes pretendem promover em Praga debates, festas, protestos, uma mistura de militância, de carnaval e de arruaça como já ocorreu em Seattle e no encontro do FMI em Washington no início do ano.
Os militantes querem parar a cidade com marchas fúnebres "em homenagem às crianças mortas pela dívida do Terceiro Mundo", mas também vão tentar bloquear a entrada ou invadir as reuniões de ministros e autoridades do FMI e do Banco Mundial.
"Nossos protestos serão pacíficos, mas estamos reservando surpresas para chamar a atenção de todo o mundo", afirma Marlene Barrett, chefe de campanhas da organização não-governamental Jubileu 2000, que defende o cancelamento da dívida dos países pobres.

Anarquia e monarquia
Em geral, todas as ONGs antiglobalização dizem que as manifestações serão pacíficas, mas a mistura de grupos presentes em Praga pode ser incontrolável.
Estarão lá desde os anarquistas do Movimento Antimonarquia britânico a integrantes da StB, a antiga polícia secreta da Tchecoslováquia, e grupos neonazistas.
O movimento antiglobalização pretende realizar protestos em 35 países no dia 26 deste mês -incluindo o Brasil. Para mobilizar tanta gente, os militantes estão se comunicando por meio de endereços eletrônicos, em sites como "Destrua o FMI" ou "50 anos é Demais", numa referência ao meio século de existência do Banco Mundial e do FMI.
Só nos Estados Unidos estão marcadas manifestações em 40 cidades. "Proteste contra um plano de privatização municipal! Faça um protesto numa loja ou no quartel-general de uma corporação ofensiva! Faça uma ação numa agência do Citibank para pressioná-lo a parar de comprar bônus do Banco Mundial!", convoca o site da "50 anos é Demais".
No Reino Unido, os militantes estão comprando pacotes numa agência de viagens por R$ 900,00, com direito a vôo e três noites em Praga. "S-26 será um marco na história da luta contra a globalização", diz Max, da ONG britânica Reclaim the Streets, usando o jargão do movimento, que batiza os protestos pelo dia de realização.
O Reclaim the Streets é uma das principais referências na luta contra a globalização na Europa, assim como o Earth First, o Rainforest Direct Action e o Global Trade Watch são alguns dos eixos dos protestos nos Estados Unidos.
"O capitalismo é como um câncer que cresce sem parar e destrói o que encontra pela frente", diz Max, vestido com um macacão de pintor e um cadeado pendurado na orelha como se fosse brinco.
"Ninguém sabe o que colocar no lugar, mas é preciso impor limites às corporações", continua o militante anarquista e pacifista, que usa botas de material sintético porque é contra o abate de animais. "Até o George Soros diz que o capitalismo saiu do controle."



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