São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RETOMADA

Para economistas, trabalhadores recuperam renda no ano que vem

Recordes de vendas devem ser alcançados só em 2005

DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria de bens de consumo deve voltar a bater recordes de vendas, como aconteceu no período pós-Real, assim que o trabalhador recuperar o poder aquisitivo perdido nos últimos anos. Na estimativa de economistas, isso deve ocorrer em 2005.
"A massa salarial deve se recuperar a partir de meados de 2005", diz Francisco Pessoa Faria, economista da LCA. "Se persistir esse quadro de otimismo, a partir do próximo ano poderemos atingir picos de produção como os que ocorreram no início do Plano Real ", diz Fabio Silveira, sócio-diretor da consultoria MS Consult.
José Marcio Camargo, professor da PUC do Rio, acredita que a economia vai chegar a níveis de 1996 em um prazo de, no máximo, dois a três trimestres.
"O Brasil está menos vulnerável, os investimentos estão voltando e o mercado interno vive um momento de dinamismo. Os salários estão se recuperando, e o emprego voltou a crescer", afirma.
A indústria de alimentos já produz mais do que em 2000 e do que em 1996, principalmente devido ao aumento das exportações.
De janeiro a julho, a produção de alimentos subiu 12% sobre 2000 e 24% sobre 1996. As vendas reais aumentaram 17% e 32%, respectivamente, no período, informa a Abia, associação dos fabricantes de alimentos.
As vendas de iogurte, um dos produtos símbolo do Real, cresceram cerca de 36% nos últimos dez anos, segundo dados da Nielsen. "O consumo médio por habitante passou de 2,4 quilos em 1996 para 4 quilos neste ano. Nossa previsão é vender neste ano 3,5% mais do que no ano passado", diz Alberto Bendicho, gerente de serviços de marketing da Danone.
O Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV confirma o aumento nas vendas de alimentos. Em julho deste ano, a indústria alimentícia trabalhou com 88,5% da sua capacidade. Em julho de 2000, operava com 81,8% e, em julho de 96, com 79%.
O crescimento da produção de alimentos neste ano está fortemente atrelado às exportações. De janeiro a julho, o setor apresentou expansão de 4,8% sobre igual período de 2003, informa a Abia. "As exportações contribuíram com aproximadamente 25% a 30% desse percentual de crescimento", diz Ribeiro.
A expansão das vendas externas também está puxando a produção das indústrias de celulose, papel e papelão e metalúrgicas. Esses setores utilizavam, em julho, mais de 90% da sua capacidade produtiva, segundo o Ibre.
"A demanda interna começou a se recuperar com a melhora da renda do trabalhador a partir de maio", afirma Jorge Ferreira Braga, coordenador técnico da Sondagem Industrial da FGV.
Isso pode ser notado no ritmo de produção da indústria de material elétrico, segundo Braga. Em abril, essa indústria operava com 75,3 % da sua capacidade. Em julho, esse percentual subiu para 79,1% e está mais próximo dos 80% verificados em julho de 1996.
"Houve mudanças estruturais relevantes na indústria nos últimos anos. Apesar de alguns setores estarem produzindo menos do que no passado, outros estão produzindo mais. A economia brasileira sofreu forte impacto da tecnologia da comunicação e da informação", diz Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Segundo o IBGE, a produção da indústria em geral de janeiro a julho deste ano já é maior do que a de igual período de 96 e de 2000. A produção industrial subiu 21,2% sobre 1996 e 11,6% sobre 2000. O setor de bens de consumo semiduráveis e não-duráveis é o único que apresenta queda na produção no período -de 0,9% sobre 1996. Sobre 2000, cresce 0,7%.
A ameaça do governo de elevar os juros, caso inflação suba, e a falta de investimentos para resolver os gargalos da produção podem, na avaliação de economistas e empresários, atrapalhar o crescimento da economia.
"O país ainda está se recuperando. A economia reage impulsionada pelo agronegócio e pelo crédito disponível. A possível elevação de juros pode atrapalhar o bom clima deste ano", diz Alberto Serrentino, consultor de varejo.
(FÁTIMA FERNANDES E CLAUDIA ROLLI)

Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Panorâmica - Recall: Volvo revisa 460 mil carros com defeito
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.