São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004

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LAVOURA MODERNA

Uso de máquina no campo gera onda de desempregados em fazendas de monocultura no Centro-Oeste

Mecanização engorda fileira de sem-terra

TIAGO ORNAGHI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ACREÚNA (GO)

A modernização do agronegócio, principalmente no Centro-Oeste, está gerando uma onda de desempregados nas fazendas de monocultura que se juntam em acampamentos de sem-terra.
Casos já foram localizados em Goiás e em Mato Grosso pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), pela CPT (Comissão Pastoral da Terra) e por entidades não ligadas à reivindicação pela reforma agrária, como a Secretaria da Agricultura do Estado de Goiás e a UDR (União Democrática Ruralista).
O coordenador nacional do MST João Pedro Stedile admite que a dispensa dos agricultores acaba facilitando o trabalho de convencimento do movimento. "O MST não precisa mais fazer trabalho de base, o agronegócio está fazendo por nós."
Neste ano, segundo Ernani Lopes Sobrinho, gerente da Agência Rural de Goiás, órgão da Secretaria da Agricultura, 3.905 famílias deixaram empregos em fazendas monocultoras e foram para acampamentos, aumentando de 6.560 para 10.465 as famílias acampadas no Estado, desde o começo dos trabalhos da atual safra, em abril. O aumento é de 59,53%.
"Esse aumento considerável na quantidade de famílias acampadas é resultado do alto índice de mecanização das lavouras de cana, soja e algodão", afirmou o superintendente substituto do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) de Goiás, Antônio Pereira de Almeida.
O pesquisador Philip Fearnside, da Coordenação de Pesquisas em Ecologia do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), diz que algumas culturas, como a soja, o algodão e a cana, que têm alto grau de mecanização, geram, em média, apenas um emprego para cada 200 hectares.
Os trabalhadores que faziam a colheita de algodão manualmente não tinham vínculos empregatícios com os produtores. Apesar de morar em áreas das fazendas, eles recebiam por empreitada, fosse no preparo dos campos, durante o plantio ou, mais comumente, na época da colheita.
Quando essas pessoas foram dispensadas, não receberam nenhum tipo de rescisão ou seguro. Atualmente, alguns agricultores que estão nos acampamentos chegam a trabalhar na colheita de tomates, para alguns fazendeiros da região. Para cada 15 quilos colhidos, ganham R$ 3. Mas o volume de trabalho não é suficiente para garantir ocupação a todos.
O presidente da UDR, Luiz Antonio Nabhan Garcia, diz que, apesar das dispensas de trabalhadores rurais estar ocorrendo, o agronegócio como um todo é gerador de emprego, pois as atividades que desaparecem no campo ressurgem nas cidades em funções ligadas ao processamento da produção. "A cadeia completa do agronegócio está gerando emprego no Brasil. Gera emprego justamente onde existe desemprego: nos centros urbanos."
"Mas a situação atual é muito delicada. Progressivamente, vai acabar a mão-de-obra no campo", pondera Nabhan Garcia.
O presidente da UDR também aponta o o rigor do Ministério do Trabalho pela opção dos produtores pela mecanização.
"Nas fronteiras agrícolas, para fugir das acusações de trabalho escravo, os produtores estão partindo para a mecanização. É muito caro manter toda uma estrutura como a cobrada pelo Ministério do Trabalho para pessoas que trabalham apenas por algumas semanas durante o ano. Uma acusação de uso do trabalho escravo desapropria as terras. Para a limpeza do campo, um trator com um tratorista faz o trabalho de 50 homens em um dia. Você vai dar emprego e correr o risco de ser desapropriado? A própria radicalização do ministério causa o desemprego", afirmou.
O Ministério do Trabalho, por meio da assessoria de imprensa, declarou que, por não ter dados recentes sobre o desemprego no campo -o último censo rural é de 1996-, não iria comentar o assunto.

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