São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004

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Máquinas avançam e campo tende a ficar com menos empregados

DA AGÊNCIA FOLHA, EM ACREÚNA (GO)

A mecanização do campo é um fator natural e irrefreável e o desemprego gerado por ela uma conseqüência da modernização da agricultura, na opinião de agricultores e da UDR (União Democrática Ruralista).
Para pesquisadores e para a CPT (Comissão Pastoral da Terra), entidade que defende a reforma agrária nos moldes da agricultura familiar, o desemprego e a concentração de renda propiciada pela mecanização devem ser combatidos.
Segundo o pesquisador Philip Fearnside, da Coordenação de Pesquisas em Ecologia do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), a soja, o algodão e a cana, devido ao alto grau de mecanização de suas produções, geram, em média, apenas um emprego para cada 200 hectares.
"Os poucos empregos gerados são de técnicos ou de operadores de máquinas. Os demais trabalhadores recebem salários aviltados e trabalham, muitas vezes, em condições degradantes", diz o secretário nacional da CPT, Antônio Canuto.
De acordo com Bernardo Mançano, do Nera (Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária), da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo), a própria palavra agronegócio é "uma construção ideológica para tentar mudar a imagem latifundista da agricultura capitalista". Segundo ele, a cana e o feijão desempregam 400 pessoas para cada vaga criada com a mecanização. Em média, as culturas do agronegócio fecham 11 vagas para cada trabalhador contratado.
Para Mançano, os cálculos apresentados para justificar que o agronegócio é a grande força das exportações brasileiros estão equivocados. "Pelo menos 50% da produção agrícola e pecuária é da policultura de pequenas propriedades familiares que são apropriadas pelo agronegócio."
"O agronegócio cresceu tanto que virou uma coisa sacralizada. Quando se analisa, nos censos agropecuários de 1995 e 1996, a produção de propriedades que têm apenas mão-de-obra familiar ou um ou dois empregados no máximo, se vê que elas são responsáveis por metade da produção agrícola brasileira. Mas, com o mito de que o agronegócio é o grande produtor, ele fica com 90% das verbas de financiamento da agricultura", disse Mançano.
Segundo a Agência Rural de Goiás, ligada à Secretaria da Agricultura do Estado, a mecanização da lavoura de algodão cria um emprego para cada 60 funcionários dispensados que trabalhavam manualmente na produção.
A deputada estadual Isaura Lemos (PDT-GO) explica que esses novos empregos não são preenchidos totalmente por empregados antigos das fazendas. "Como a operação desse maquinário exige conhecimentos específicos, trabalhadores com esse preparo foram "importados" para trabalhar nas fazendas mecanizadas."
O presidente da UDR, Luiz Antonio Nabhan Garcia, diz que, ao analisar o agronegócio como um sistema inteiro, nota-se que ele é gerador de empregos. Segundo ele, são gerados empregos em outros pontos da cadeia econômica, como nas indústrias de processamento das produções nas cidades e no complexo exportador.
Para ele, a mão-de-obra no campo está vivendo suas últimas safras. "O agronegócio não pode ficar para trás. É natural que ele se modernize para competir lá fora."
Os ministérios do Desenvolvimento Agrário e do Trabalho, que não quiseram comentar a substituição do trabalho no campo, não têm dados atualizados sobre o desemprego rural. O último censo agropecuário é de 1996. Estudos para a realização de um novo censo estão sendo concluídos. (TO)

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