São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004

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Empregados brasileiros preferem "forasteiros"

DA REPORTAGEM LOCAL

Eles não trocam os patrões estrangeiros nem por gordas propostas salariais, e os expatriados só abrem mão dos funcionários quando voltam ao país de origem. E, nesses casos, já os recomendam a outras famílias que estão chegando ao país.
"Os expatriados adoram esse pessoal: eles são trabalhadores, têm instrução e um nível social acima da média dos empregados domésticos; alguns entendem muito bem o inglês", conta Celina Sampaio, da American Society.
Ela se refere a rede de empregados domésticos oriundos de Santa Catarina, que se especializaram em trabalhar para famílias estrangeiras. Hoje, há pelo menos 20 casais dessa rede informal em lares de expatriados, em São Paulo. Ninguém sabe quando ou como começou a se formar
Korime de Fátima Neppel, 24, e seu marido Eliandro Stelmastchuk, 26, trabalharam durante dois anos para uma família australiana e, desde junho, estão com outra, americana, em São Paulo. "Tivemos ofertas para ganhar mais em casas de brasileiros, mas não aceitamos. Os estrangeiros tratam melhor os empregados, aqui somos parte da família", diz Korime. Juntos, eles ganham R$ 1.600 mensais.
Korime nasceu em Canoinhas (SC) mas viveu muitos anos em Cruz Machado (PR), onde conheceu Eliandro. Ela tem o segundo grau completo, chegou a fazer dois anos de curso para o magistério e tentou o vestibular para Letras. Atualmente, graças ao incentivo dos patrões, está fazendo um curso de inglês.
Com essa formação, ela diz que não se importa em trabalhar como doméstica. "Adoro o que faço." Ela cozinha, cuida da casa, das crianças e o marido é motorista e jardineiro. "Esse emprego nos permite economizar, pois não temos despesas com moradia nem alimentação", diz ela. No futuro, quando os filhos vierem, o casal cogita mudar a profissão.

Licença maternidade
Elenir Gregório, 35, amiga de Korime, que junto com o marido Sandro Fontana, 39, integra a "rede barriga verde" há mais de cinco anos acaba de ter o primeiro filho. "Foi uma gravidez de risco, parei de trabalhar no terceiro mês e precisei ficar em repouso. Tive todo apoio dos meus patrões: continuei morando na casa deles e agora que estou amamentando ainda não retomei integralmente o trabalho", conta.
Elenir trabalha para uma família americana e diz que esse tipo de tratamento jamais receberia em casa de brasileiros. "Os americanos nos tratam como pessoas da família, não há diferença entre empregado e patrão."
Ela conta que faz as refeições e assiste TV junto com os patrões, pode receber amigos e, como o apartamento que ocupa com o marido é pequeno, os patrões liberam a varanda e o salão de festas nessas ocasiões. "Os brasileiros mantêm distância, são mais frios e exigem o uso de uniforme. Minha patroa diz que é estupidez dizer que roupa o empregado deve usar", diz ela.(SB)

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