São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 2006

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Volks propõe pacote para demitir no ABC

Sob pressão do governo, empresa propõe plano de demissão voluntária para cortar 3.600 dos 12,4 mil empregados de fábrica

Primeiras adesões terão mais benefícios; operários fazem assembléia na quinta para avaliar acordo entre montadora e sindicato


CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Após 55 horas de negociação, a Volkswagen e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (filiado à CUT) chegaram a um acordo que prevê um pacote de incentivos para demitir 3.600 dos 12,4 mil trabalhadores da fábrica de São Bernardo do Campo.
O desligamento dos funcionários seria feito em um PDV (Programa de Demissões Voluntárias) em 11 etapas, a partir deste mês até 2008. O pagamento de benefícios seria maior para os primeiros inscritos no plano de demissão.
O acordo, negociado desde quarta-feira passada, foi apresentado ontem aos funcionários. Mas só será votado quinta-feira, em assembléia às 15h.
Sindicalistas e representantes da comissão de fábrica informaram que, ao ser apresentado, o acordo não foi "nem aplaudido nem vaiado".
"A proposta é muito diferente do plano inicial anunciado pela Volks. A empresa garante novos produtos e o futuro da fábrica aqui no ABC. Agora, os trabalhadores vão ter de decidir", disse Wagner Santana, vice-presidente do Comitê Mundial dos Trabalhadores da VW.
De acordo com o sindicato, se a proposta for aprovada, dois novos carros serão fabricados no ABC a partir de 2008 -um modelo popular e uma picape. A partir de fevereiro, a produção do Fox Europa seria transferida do ABC para o Paraná.
A Volks não confirma as informações. Mas a empresa condiciona investimentos da matriz alemã no ABC ao enxugamento de pessoal. A montadora diz que só se pronunciará sobre o assunto após a decisão final dos trabalhadores.
Na semana passada, sob pressão do governo, a Volks recuou e suspendeu 1.800 cartas de demissão que já havia enviado a funcionários da produção. Em contrapartida, os trabalhadores encerraram greve no ABC, que já atingia outras três fábricas do grupo (Taubaté, São José dos Pinhais e São Carlos), e retomaram as negociações.
Se a proposta for aprovada, colocará fim a um impasse que começou em 3 de maio, quando a Volks disse que precisava redimensionar suas atividades no país -falou-se em até 6.000 demissões e ameaça de fechamento da fábrica do ABC.
A pressão do governo petista para pôr fim à crise na VW ocorreu ao menos três vezes nos últimos dias. A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) enviou um recado à empresa, há duas semanas, dizendo que a ameaça de demissão e a greve eram usadas pela oposição na campanha eleitoral.
No início deste mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a montadora durante visita à Fiat, em Betim (MG). E, no final de agosto, o BNDES suspendeu financiamento de R$ 497,1 milhões à montadora.
O acordo proposto pela Volks prevê o pagamento de 1,4 salário por ano trabalhado para adesões ao PDV entre 25 de setembro e 21 de novembro, quando acaba a estabilidade dos empregados do ABC.
Um operário da produção com 22 anos de casa e salário de R$ 3.500 receberia, por exemplo, cerca de R$ 85 mil, além das verbas rescisórias.
O incentivo seria de um salário por ano trabalhado para adesões entre 22 de novembro e 31 de janeiro. Até essa data, a empresa espera a inscrição de 1.300 pessoas. Caso a meta não seja atingida, indicará quem vai deixar a empresa, mas o incentivo será reduzido em 0,6 salário extra por ano trabalhado.
Em Taubaté, acordo feito há cerca de dois meses com os trabalhadores prevê desligamento de 700 pessoas até 2008, com incentivo de 0,6 salário para cada ano trabalhado. Mas nesse caso a Volks indica quem sai.


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