|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Volks propõe pacote para demitir no ABC
Sob pressão do governo, empresa propõe plano de demissão voluntária para cortar 3.600 dos 12,4 mil empregados de fábrica
Primeiras adesões terão mais benefícios; operários fazem assembléia na quinta para avaliar acordo entre montadora e sindicato
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Após 55 horas de negociação,
a Volkswagen e o Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC (filiado à
CUT) chegaram a um acordo
que prevê um pacote de incentivos para demitir 3.600 dos
12,4 mil trabalhadores da fábrica de São Bernardo do Campo.
O desligamento dos funcionários seria feito em um PDV
(Programa de Demissões Voluntárias) em 11 etapas, a partir
deste mês até 2008. O pagamento de benefícios seria
maior para os primeiros inscritos no plano de demissão.
O acordo, negociado desde
quarta-feira passada, foi apresentado ontem aos funcionários. Mas só será votado quinta-feira, em assembléia às 15h.
Sindicalistas e representantes da comissão de fábrica informaram que, ao ser apresentado, o acordo não foi "nem
aplaudido nem vaiado".
"A proposta é muito diferente do plano inicial anunciado
pela Volks. A empresa garante
novos produtos e o futuro da fábrica aqui no ABC. Agora, os
trabalhadores vão ter de decidir", disse Wagner Santana, vice-presidente do Comitê Mundial dos Trabalhadores da VW.
De acordo com o sindicato, se
a proposta for aprovada, dois
novos carros serão fabricados
no ABC a partir de 2008 -um
modelo popular e uma picape.
A partir de fevereiro, a produção do Fox Europa seria transferida do ABC para o Paraná.
A Volks não confirma as informações. Mas a empresa condiciona investimentos da matriz alemã no ABC ao enxugamento de pessoal. A montadora
diz que só se pronunciará sobre
o assunto após a decisão final
dos trabalhadores.
Na semana passada, sob
pressão do governo, a Volks recuou e suspendeu 1.800 cartas
de demissão que já havia enviado a funcionários da produção.
Em contrapartida, os trabalhadores encerraram greve no
ABC, que já atingia outras três
fábricas do grupo (Taubaté, São
José dos Pinhais e São Carlos),
e retomaram as negociações.
Se a proposta for aprovada,
colocará fim a um impasse que
começou em 3 de maio, quando
a Volks disse que precisava redimensionar suas atividades no
país -falou-se em até 6.000 demissões e ameaça de fechamento da fábrica do ABC.
A pressão do governo petista
para pôr fim à crise na VW
ocorreu ao menos três vezes
nos últimos dias. A ministra
Dilma Rousseff (Casa Civil) enviou um recado à empresa, há
duas semanas, dizendo que a
ameaça de demissão e a greve
eram usadas pela oposição na
campanha eleitoral.
No início deste mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
criticou a montadora durante
visita à Fiat, em Betim (MG). E,
no final de agosto, o BNDES
suspendeu financiamento de
R$ 497,1 milhões à montadora.
O acordo proposto pela Volks
prevê o pagamento de 1,4 salário por ano trabalhado para
adesões ao PDV entre 25 de setembro e 21 de novembro,
quando acaba a estabilidade
dos empregados do ABC.
Um operário da produção
com 22 anos de casa e salário de
R$ 3.500 receberia, por exemplo, cerca de R$ 85 mil, além
das verbas rescisórias.
O incentivo seria de um salário por ano trabalhado para
adesões entre 22 de novembro
e 31 de janeiro. Até essa data, a
empresa espera a inscrição de
1.300 pessoas. Caso a meta não
seja atingida, indicará quem vai
deixar a empresa, mas o incentivo será reduzido em 0,6 salário extra por ano trabalhado.
Em Taubaté, acordo feito há
cerca de dois meses com os trabalhadores prevê desligamento
de 700 pessoas até 2008, com
incentivo de 0,6 salário para cada ano trabalhado. Mas nesse
caso a Volks indica quem sai.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Acordo favorece financiamento, afirma BNDES Índice
|