São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 2006

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Telecom Italia já admite a venda da TIM e da BrT

Presidente da empresa diz que examinará ofertas pela operadora de celulares

Tronchetti Provera anuncia reestruturação do grupo e afirma que prioridade será dada para a banda larga e produtos de mídia


JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Telecom Italia, quinta maior operadora da Europa, anunciou ontem a reestruturação de suas operações e admitiu a venda da TIM Brasil. A empresa, a partir de agora, funcionará a partir de duas unidades distintas - uma de redes e outra de telefonia celular.
No Brasil, a Telecom Italia é dona da TIM Brasil, concessionária vice-líder na telefonia celular do país. Os italianos também participam da BrT (Brasil Telecom, operadora de telefonia fixa das regiões Norte, Centro-Oeste e Sul).
Durante teleconferência com analistas financeiros, o presidente da Telecom Italia, Marco Tronchetti Provera, admitiu que pode vender a TIM Brasil e, conforme a Folha adiantou em julho, confirmou a intenção de se desfazer das ações que sua empresa possui na BrT.
"Não temos nenhuma oferta [pela TIM], não estamos no mercado", disse Provera, ao ser questionado sobre a TIM Brasil. Mas o presidente da Telecom Italia observou que há "flexibilidade". "Se houver oferta, vinda de qualquer um, nós a olharemos. No caso de ser considerada interessante, o Conselho irá considerá-la", afirmou.

Oferta
Conforme a Folha apurou, os fundos de pensão brasileiros (sócios majoritários da Brasil Telecom) fizeram nas últimas semanas uma oferta pelas ações da Telecom Italia na BrT. O lance foi rechaçado.
Há expectativa entre os italianos de que outra proposta seja apresentada até meados deste mês, prazo final determinado pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para a Telecom Italia escolher a BrT ou a TIM Brasil. Embora o governo tenha sinalizado a possibilidade de alterações a partir de 2007, por enquanto a legislação brasileira não tolera sobreposição de licenças para as concessionárias de telefonia.
Embora Provera não tenha confirmado a venda de ativos, especialistas ouvidos pela Folha crêem que o novo modelo de gestão é apenas o primeiro passo para uma reestruturação maior, abarcando a venda de toda a telefonia celular da empresa.
Essas fontes apontam outros gigantes da telefonia -a espanhola Telefónica e a anglo-americana Vodafone, por exemplo- como possíveis compradores. Outros interessados seriam grandes fundos de ações. Caso se confirme a intenção de venda, a transação pode alcançar até US$ 35 bilhões, dizem os especialistas.
Na avaliação deles, o dinheiro seria usado para abater as dívidas da Telecom Italia, que já viveu situação mais confortável: a companhia amargou uma diminuição de 15,7% no lucro líquido do primeiro semestre, que caiu para US$ 1,9 bilhão.
Tronchetti Provera negou peremptoriamente essa versão. Aos analistas, disse que pretendia esclarecer "de uma vez por todas" os rumores sobre as dívidas da Telecom Italia.
Segundo ele, o redesenho administrativo objetiva tornar a companhia mais competitiva no território italiano e dar maior flexibilidade para a tele crescer no mercado internacional. Além disso, serviria para a Telecom Italia driblar problemas com os órgão reguladores europeus.
Provera informou ainda que a Telecom Italia irá priorizar negócios relativos à mídia e à banda larga. Assim, a empresa fechou acordo para a transmissão via banda larga de conteúdo produzido pela News Corp, de Rupert Murdoch.

Conflito no Brasil
A confirmação de que os italianos mandaram um negociador para vender o quinhão da Telecom Italia na BrT não é suficiente para antever o que acontecerá com a operadora, cujo controle motivou confronto entre os quatro maiores sócios: Citigroup, fundos de pensão, Opportunity e a própria Telecom Italia.
A disputa pelo controle da tele tornou-se uma das maiores rixas empresariais do país e se desenrola desde 2000, envolvendo políticos e espionagem de membros do governo.
O mais recente capítulo foi escrito pela imprensa italiana. Em 31 de agosto, a revista "Panorama" informou que promotores de Milão desconfiam que organizações usadas para o "Laziogate" -esquema de propinas a políticos italianos por empresários- podem ter sido usados para repasses da Telecom Italia a consultores, inclusive brasileiros. Os italianos desmentiram a reportagem.


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