São Paulo, sábado, 12 de setembro de 2009

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PIB sobe, mas investimento não reage

Alta de 1,9% no 2º trimestre é puxada pelo consumo das famílias e encerra recessão iniciada no fim de 2008

Governo comemora fim da recessão no país, mas nível de investimento fica estagnado no mesmo patamar do 1º trimestre


GUSTAVO PATU
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO

O Brasil parou de empobrecer, embora continue mais pobre do que no ano passado. Como se esperava no governo e no mercado, o país deixou para trás a recessão, mas os investimentos, necessários para a expansão mais duradoura da produção e da renda, ainda não se recuperaram da crise global.
Pela primeira vez neste ano, o IBGE divulgou ontem resultado positivo para o PIB. De abril a junho, a economia brasileira cresceu 1,9% na comparação com o período de janeiro a março, graças à recuperação da indústria e a mais um aumento das compras à vista e a prazo.
Os dois anúncios anteriores de resultados trimestrais haviam mostrado queda do PIB, o que, por uma convenção adotada informalmente em todo o mundo, significa recessão.
Em circunstâncias normais, a taxa do segundo trimestre significaria um crescimento vigoroso: no segundo mandato do presidente Lula, ela só foi igualada uma vez, no final de 2007. A diferença é que, na época, vivia-se o nono trimestre seguido de expansão; agora, a alta se dá sobre momento de estagnação.
Se comparado com o mesmo período do ano passado, o segundo trimestre mostra uma queda de 1,2% na renda nacional. É, exatamente, a projeção captada pelo Banco Central na semana passada, em pesquisa com analistas de mercado, bem melhor que a queda de 1,7% estimada há apenas três meses -o que ajuda a explicar a comemoração do governo ontem.
Os novos números do IBGE encorajam o discurso e a esperança governista de que o país fechará o ano com um resultado acima de zero, embora não muito.
Pelas expectativas gerais, há boas chances de a economia do país ter um segundo semestre 1,4% melhor que o de 2008, o mínimo necessário para evitar o sinal de negativo nas estatísticas anuais. Conforme a Folha noticiou ontem, os resultados do terceiro trimestre são considerados favoráveis por economistas e entidades da indústria e do comércio.
Mais difícil será chegar ao crescimento anual de 1% prometido pelo ministro Guido Mantega (Fazenda), que demandaria uma expansão de pelo menos 3,4% no segundo semestre. Mesmo nessa mais otimista das previsões apresentadas até agora, o resultado seria o pior da década.
De pé, por ora, está a tese governista de que o país seria um dos primeiros a sair da crise -embora não "o primeiro", como chegou a constar da propaganda presidencial. Potências como Japão, Alemanha e França tiveram crescimento no segundo trimestre; emergentes como China e Índia não tiveram recessão.

Crise nos investimentos
Mas Brasil, emergentes e potências ainda não recuperaram, ao menos nos indicadores disponíveis, o ritmo e o vigor econômico de um ano atrás, quando a quebra do banco Lehman Brothers precipitou o colapso global do crédito bancário e do comércio. No caso brasileiro, a memória da crise persiste justamente na prioridade escolhida para o segundo governo petista: os investimentos.
Das fatias mais importantes e estratégicas do PIB, os investimentos -obras de infraestrutura e compras de máquinas e equipamentos- foram os únicos excluídos da recuperação.
Permaneceram no volume do primeiro trimestre, quando haviam sofrido a maior queda medida desde 1996, ano em que os dados passaram a ser apurados pela atual metodologia.
A parcela da renda nacional destinada aos investimentos caiu abaixo até dos percentuais que vigoravam antes do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), lançado em 2007 justamente para elevar essas despesas.
No trimestre, a taxa ficou em 15,7%, a menor desde 2003; no lançamento do PAC, calculava-se que o país precisaria investir algo entre 20% e 25% do PIB para sustentar o crescimento a longo prazo.
Historicamente, o país convive com um descompasso entre o consumo, sempre crescente, e as providências necessárias para suprir a demanda por bens e serviços. As consequências são pressões inflacionárias, alta de juros e crescimento interrompido.


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