|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PIB sobe, mas investimento não reage
Alta de 1,9% no 2º trimestre é puxada pelo consumo das famílias e encerra recessão iniciada no fim de 2008
Governo comemora fim da recessão no país, mas nível de investimento fica estagnado no mesmo patamar do 1º trimestre
GUSTAVO PATU
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO
O Brasil parou de empobrecer, embora continue mais pobre do que no ano passado. Como se esperava no governo e no
mercado, o país deixou para
trás a recessão, mas os investimentos, necessários para a expansão mais duradoura da produção e da renda, ainda não se
recuperaram da crise global.
Pela primeira vez neste ano,
o IBGE divulgou ontem resultado positivo para o PIB. De
abril a junho, a economia brasileira cresceu 1,9% na comparação com o período de janeiro a
março, graças à recuperação da
indústria e a mais um aumento
das compras à vista e a prazo.
Os dois anúncios anteriores
de resultados trimestrais haviam mostrado queda do PIB, o
que, por uma convenção adotada informalmente em todo o
mundo, significa recessão.
Em circunstâncias normais,
a taxa do segundo trimestre significaria um crescimento vigoroso: no segundo mandato do
presidente Lula, ela só foi igualada uma vez, no final de 2007.
A diferença é que, na época, vivia-se o nono trimestre seguido
de expansão; agora, a alta se dá
sobre momento de estagnação.
Se comparado com o mesmo
período do ano passado, o segundo trimestre mostra uma
queda de 1,2% na renda nacional. É, exatamente, a projeção
captada pelo Banco Central na
semana passada, em pesquisa
com analistas de mercado, bem
melhor que a queda de 1,7% estimada há apenas três meses
-o que ajuda a explicar a comemoração do governo ontem.
Os novos números do IBGE
encorajam o discurso e a esperança governista de que o país
fechará o ano com um resultado acima de zero, embora não
muito.
Pelas expectativas gerais, há
boas chances de a economia do
país ter um segundo semestre
1,4% melhor que o de 2008, o
mínimo necessário para evitar
o sinal de negativo nas estatísticas anuais. Conforme a Folha
noticiou ontem, os resultados
do terceiro trimestre são considerados favoráveis por economistas e entidades da indústria
e do comércio.
Mais difícil será chegar ao
crescimento anual de 1% prometido pelo ministro Guido
Mantega (Fazenda), que demandaria uma expansão de pelo menos 3,4% no segundo semestre. Mesmo nessa mais otimista das previsões apresentadas até agora, o resultado seria
o pior da década.
De pé, por ora, está a tese governista de que o país seria um
dos primeiros a sair da crise
-embora não "o primeiro", como chegou a constar da propaganda presidencial. Potências
como Japão, Alemanha e França tiveram crescimento no segundo trimestre; emergentes
como China e Índia não tiveram recessão.
Crise nos investimentos
Mas Brasil, emergentes e potências ainda não recuperaram,
ao menos nos indicadores disponíveis, o ritmo e o vigor econômico de um ano atrás, quando a quebra do banco Lehman
Brothers precipitou o colapso
global do crédito bancário e do
comércio. No caso brasileiro, a
memória da crise persiste justamente na prioridade escolhida para o segundo governo petista: os investimentos.
Das fatias mais importantes
e estratégicas do PIB, os investimentos -obras de infraestrutura e compras de máquinas e
equipamentos- foram os únicos excluídos da recuperação.
Permaneceram no volume
do primeiro trimestre, quando
haviam sofrido a maior queda
medida desde 1996, ano em que
os dados passaram a ser apurados pela atual metodologia.
A parcela da renda nacional
destinada aos investimentos
caiu abaixo até dos percentuais
que vigoravam antes do PAC
(Programa de Aceleração do
Crescimento), lançado em
2007 justamente para elevar
essas despesas.
No trimestre, a taxa ficou em
15,7%, a menor desde 2003; no
lançamento do PAC, calculava-se que o país precisaria investir
algo entre 20% e 25% do PIB
para sustentar o crescimento a
longo prazo.
Historicamente, o país convive com um descompasso entre o consumo, sempre crescente, e as providências necessárias para suprir a demanda
por bens e serviços. As consequências são pressões inflacionárias, alta de juros e crescimento interrompido.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Indústria queima estoques e ajuda a puxar alta do PIB Índice
|