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Crise leva a pior desempenho semestral do país desde 1992
Investimentos, exportações e produção industrial registraram queda intensa
Em contrapartida, consumo das famílias e o setor de serviços cresceram, e não houve uma disparada do desemprego ou dos juros
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO
DA SUCURSAL DO RIO
Ainda que com impacto
amortecido no cotidiano da
maior parte da população, a crise econômica custou ao país o
pior semestre desde 1992,
quando o então presidente Fernando Collor perdeu sustentação política e sofreu um processo de impeachment.
De janeiro a junho, a renda
nacional encolheu 1,5% na
comparação com o mesmo período do ano passado. Foi interrompido o mais longo e intenso
dos efêmeros ciclos de crescimento econômico desde a redemocratização.
A interrupção foi brusca: o
PIB crescia na casa dos 6,5%
até setembro do ano passado,
quando o Brasil, mesmo longe
do epicentro do terremoto financeiro internacional, foi
atingido pela parada do crédito,
pela queda dos preços dos produtos primários e da demanda
geral por exportações.
Não por acaso, investimentos, indústria, exportações, importações e, em menor escala,
agricultura -mais dependentes de crédito e do comércio exterior- arrastaram o país à recessão, boa parte deles com as
piores taxas apuradas desde
que a atual metodologia foi
adotada, em 1996.
Os investimentos caíram
15,6%; as exportações, 13,1%; a
indústria, 8,6%. Tais quedas
não tiveram paralelo nas recessões de 1998, quando a moratória russa provocou um ataque
especulativo ao real; de 2001,
quando o colapso da Argentina
coincidia com os atentados terroristas de 11 de Setembro; e de
2003, na ressaca das turbulências após a eleição de Lula.
Em compensação, o consumo das famílias teve expansão
de 2,3%, e o setor de serviços,
de 2,1%. Não é pouco como pode parecer: o consumo privado
responde por 60% da demanda,
e o setor de serviços -que vai
da escola dos filhos à informática- tem participação semelhante na oferta.
Não houve disparada do desemprego nem queda geral de
salários. O governo não precisou elevar os juros nem cortar
gastos; pelo contrário, atuou
para estimular a economia. A
saída aparentemente indolor
da recessão estimula, novamente, a retórica de Lula, que,
no ano passado, chamou de
"marolinha" os efeitos da crise.
O próprio governo, porém,
ainda experimenta as consequências da recessão já formalmente encerrada: a arrecadação de impostos, ao menos até
julho, ainda permanecia inferior à de 2008, o que ameaça o
cumprimento das metas fiscais
neste ano e, salvo uma recuperação recorde, de 2010.
Mesmo o crescimento do
consumo e dos serviços não ficou exatamente a salvo da crise. As taxas de expansão permanecem muito abaixo das do
ano passado, quando os percentuais ficavam em torno dos
6,5%, no primeiro caso, e de
5,5%, no segundo.
(GUSTAVO PATU e DENISE MENCHEN)
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