São Paulo, sábado, 12 de setembro de 2009

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Crise leva a pior desempenho semestral do país desde 1992

Investimentos, exportações e produção industrial registraram queda intensa

Em contrapartida, consumo das famílias e o setor de serviços cresceram, e não houve uma disparada do desemprego ou dos juros


DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO
DA SUCURSAL DO RIO

Ainda que com impacto amortecido no cotidiano da maior parte da população, a crise econômica custou ao país o pior semestre desde 1992, quando o então presidente Fernando Collor perdeu sustentação política e sofreu um processo de impeachment.
De janeiro a junho, a renda nacional encolheu 1,5% na comparação com o mesmo período do ano passado. Foi interrompido o mais longo e intenso dos efêmeros ciclos de crescimento econômico desde a redemocratização.
A interrupção foi brusca: o PIB crescia na casa dos 6,5% até setembro do ano passado, quando o Brasil, mesmo longe do epicentro do terremoto financeiro internacional, foi atingido pela parada do crédito, pela queda dos preços dos produtos primários e da demanda geral por exportações.
Não por acaso, investimentos, indústria, exportações, importações e, em menor escala, agricultura -mais dependentes de crédito e do comércio exterior- arrastaram o país à recessão, boa parte deles com as piores taxas apuradas desde que a atual metodologia foi adotada, em 1996.
Os investimentos caíram 15,6%; as exportações, 13,1%; a indústria, 8,6%. Tais quedas não tiveram paralelo nas recessões de 1998, quando a moratória russa provocou um ataque especulativo ao real; de 2001, quando o colapso da Argentina coincidia com os atentados terroristas de 11 de Setembro; e de 2003, na ressaca das turbulências após a eleição de Lula.
Em compensação, o consumo das famílias teve expansão de 2,3%, e o setor de serviços, de 2,1%. Não é pouco como pode parecer: o consumo privado responde por 60% da demanda, e o setor de serviços -que vai da escola dos filhos à informática- tem participação semelhante na oferta.
Não houve disparada do desemprego nem queda geral de salários. O governo não precisou elevar os juros nem cortar gastos; pelo contrário, atuou para estimular a economia. A saída aparentemente indolor da recessão estimula, novamente, a retórica de Lula, que, no ano passado, chamou de "marolinha" os efeitos da crise.
O próprio governo, porém, ainda experimenta as consequências da recessão já formalmente encerrada: a arrecadação de impostos, ao menos até julho, ainda permanecia inferior à de 2008, o que ameaça o cumprimento das metas fiscais neste ano e, salvo uma recuperação recorde, de 2010.
Mesmo o crescimento do consumo e dos serviços não ficou exatamente a salvo da crise. As taxas de expansão permanecem muito abaixo das do ano passado, quando os percentuais ficavam em torno dos 6,5%, no primeiro caso, e de 5,5%, no segundo.
(GUSTAVO PATU e DENISE MENCHEN)


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