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Justiça de MT decidirá destino de área que vale mais de R$ 1 bi
Americano e produtores brasileiros disputam área total do tamanho da cidade de São Paulo, com dezenas de fazendas
Edmund Zanini afirma que foi falsificada procuração em seu nome para vender terras agricultáveis em Sorriso (MT) no ano de 1978
RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ
A Justiça de Mato Grosso
tentará na próxima semana pôr
fim a uma disputa que se arrasta há 30 anos e envolve cerca de
150 mil hectares de terras agricultáveis no município que é
um dos maiores produtores de
soja no mundo.
Do tamanho da cidade de São
Paulo, a área em litígio representa 16% do território de Sorriso (420 km de Cuiabá) e vale
mais de R$ 1 bilhão. Ela abriga
dezenas de fazendas de 100
hectares a até 2.000 hectares e
é considerada uma das melhores áreas de cultivo na região.
Na próxima quinta-feira,
uma audiência de conciliação
vai reunir a defesa do americano Edmund Augustus Zanini e
representantes de 275 produtores rurais já estabelecidos na
área a partir da década de 1970.
O americano reivindica a
propriedade das terras e tenta
reverter na Justiça o que alega
ter sido uma fraude promovida
ainda no processo de colonização do município. Os fazendeiros dizem que compraram as
terras de "boa-fé" de uma colonizadora e não estão dispostos
a aceitar nenhum acordo.
O processo tramita na Vara
Cível Especializada em Conflitos Agrários e tem sua origem
em 1964, quando Zanini comprou uma grande e então inóspita faixa de terras no médio-norte de Mato Grosso. Em
1978, uma procuração supostamente assinada por ele a terceiros permitiu a venda e o loteamento da maior parte da área.
O americano tem a seu favor
uma decisão de 1991, em um
processo criminal, na qual a
Justiça de Mato Grosso condenou três pessoas pela participação na fraude do documento.
Com base no resultado, ele ingressou com ação cível para
reaver o patrimônio e receber
por danos materiais e morais.
Aos 78 anos, Zanini atualmente vive nos EUA e tem casas nos Estados de Nova York e
da Flórida. Por telefone, ele disse à Folha que "nunca vendeu
nada" em Sorriso e que, embora pretenda reaver seu patrimônio, não deseja "colocar
ninguém fora da terra".
"Não quero prejudicar a vida
de ninguém. Quero apenas um
preço justo. Mas, antes de abrir
a negociação, exijo a terra de
volta. É uma questão de justiça", afirmou Zanini.
O americano disse considerar que o Brasil "vem se aproximando de um status de Primeiro Mundo", mas ainda carece
de "um sistema legal que funcione". "Já se vão 18 anos desde
que o processo criminal foi julgado. Ou seja, desde que o crime foi provado. E, no entanto,
nada aconteceu", disse.
Na lista de fazendeiros convocados para a audiência, estão
alguns dos maiores e mais influentes produtores da região.
Sadi Beledelli, que é diretor do
sindicato rural do município,
afirmou que comprou sua fazenda de terceiros em 1984 e
que ouviu falar do americano
apenas dois anos depois.
"O que posso dizer é que
comprei de boa-fé e que nada
havia nos cartórios que pudesse remeter a qualquer problema", disse o fazendeiro.
Ele afirmou que não acredita
na versão do americano. "Eu
acho que ele [Zanini] deu a procuração para a venda e, depois
que as terras se valorizaram, se
arrependeu", disse.
Beledelli afirmou que ele e
vários outros proprietários irão
à audiência, mas não pretendem abrir negociação.
"Não temos que oferecer nada. Já compramos, pagamos e
estamos produzindo e pagando
impostos há mais de 30 anos.
Queremos que a Justiça nos dê
ganho de causa e encerre essa
história de uma vez", disse.
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