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VINICIUS TORRES FREIRE
Alckmin não leu o seu programa
Ao criticar seu economista
principal, tucano desmente
seu plano de governo; cortar
gastos é bom senso mínimo
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"A REGRA BÁSICA que norteará a política fiscal do governo Geraldo Alckmin é
bastante simples: "O governo não
pode gastar mais do que arrecada"."
A citação é de um trecho do programa econômico de Alckmin. O
texto continua: "Esse programa visa
a criar condições para zerar o déficit
nominal, com corte de despesas correntes dos governos, incluindo juros, da ordem de 4,4% do PIB no decorrer do próximo mandato".
Em entrevista, Alckmin disse o seguinte sobre o corte de gasto público
proposto pelo economista Yoshiaki
Nakano, um dos principais autores
do programa alckmista: "Não vai
cortar. Isso não consta do meu programa. Não tem nada disso".
Quais as hipóteses para a contradição? Primeira, o programa é de
mentira. Segunda, Alckmin não leu
seu programa. Terceira, Alckmin
mentiu. Quarta, Alckmin não sabia
do que falava. Quinta, Alckmin sentiu vagamente que a idéia de corte de
gastos, debatida em público, poderia
afetar negativamente sua campanha
e, por via das dúvidas, negou o plano.
A resposta é "uma mistura adúltera de tudo" isso, "une mélange adultère de tout", para fazer uma mistura extravagante de Tristan Corbière
(o poeta) com a política brasileira.
No programa de Alckmin, nada se
diz sobre como fazer os cortes de
gastos além de "choque de gestão".
Sobre Previdência, salários, assistência social, subsídios etc., a desconversa é total: é meio cascata.
Alckmin não sabe o que está no
programa nem do que está falando,
pois diz que vai investir mais, cortar
imposto, e o Estado não vai gastar
mais do que arrecada. Não faz lé com
cré: são providências incompatíveis,
a não ser que o tucano queira dar um
calote na dívida pública. Quer?
De mais certo, Alckmin quis enrolar o público, negando cortes, pois
tem em mente a propaganda petista
de que um governo tucano "destruiria tudo, cortaria tudo etc.".
O que significa "déficit nominal do
setor público"? Que os governos
municipais, estaduais e o federal
gastam mais do que arrecadam, incluindo a despesa com juros (que é
de uns 7,9% do PIB). O déficit nominal anda na casa de 3,4% do PIB, uns
R$ 69 bilhões. Como zerá-lo?
Primeiro, é preciso convencer Estados e municípios a zerar seu déficit. Ou cortar mais no governo federal, para compensar. A despesa federal, afora juros, foi de 18,2% do PIB
em 2005: Do total, 41,5% foram para
a Previdência, 26% para servidores
(na ativa e aposentados), 20,5% para
o funcionamento "real" dos ministérios (saúde, educação etc.).
Hipótese: o país cresce uns 4% em
2007; o governo não aumenta salários, nem o mínimo, nem Bolsa Família, nem investe, nem contrata
mais. Com esforço, cortaria uns
0,5% do PIB. Com inflação controlada e menos gasto, talvez baixe a despesa com juros em 1% ou 1,5% do
PIB. Total: menos de 2% do PIB, isso
em um cenário econômico favorável. Outro problema: certas despesas crescem sozinhas, devido a leis
sobre benefícios e gastos sociais. No
ano seguinte, pois, o ajuste desanda.
Por isso tanto se fala em reforma.
Mas, além da Previdência, é preciso
reformar muito mais, do comércio
exterior à política de juros e inflação,
da lei do trabalho às agências reguladoras. De outro modo, a conta vai
cair só na cabeça do povinho.
vinit@uol.com.br
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