São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2008

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Analistas financeiros dão dicas para proteger o bolso na turbulência

Conselho é redobrar cuidados no planejamento e evitar decisões por impulso

DENYSE GODOY
FABRICIO VIEIRA
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O desequilíbrio que começou no setor imobiliário americano e acabou contaminando o mercado financeiro internacional já se faz sentir no Brasil.
Foi primeiro afetado, no país, quem tem dinheiro aplicado na Bolsa de Valores ou em fundos de investimento -as turbulências têm tirado a tranqüilidade de quem comprou ações. A Bovespa recuou 44,26% neste ano e o dólar disparou 30,22%.
Há algumas semanas, as empresas nacionais começaram a sofrer dificuldades para conseguir crédito, e essa falta de financiamento para projetos levará a crise a se espalhar, atingindo empregos e a renda da população.
Para atravessar um período complicado como este, os especialistas recomendam que os orçamentos familiares sejam mais austeros, com decisões de consumo e de investimento bem pensadas. Segundo eles, é difícil prever por quanto tempo as incertezas vão se estender, mas com um bom planejamento será possível enfrentá-las com menos danos.

MUNDO REAL
Nos últimos anos, o Brasil aprimorou sua economia, efetuando diversos ajustes, como a redução da sua dívida e a acumulação de US$ 208 bilhões nas chamadas reservas internacionais.

Mesmo assim, não está imune à crise. Segundo os especialistas, o país deve sofrer um pouco menos que outros.

As empresas vão cortar investimentos e projetos, o que deve levar a um desaquecimento do mercado de trabalho, com menos contratações e eventuais demissões.

Por ora, não há motivo para pânico. De cerca de 5,5% em 2008, a economia brasileira deve desacelerar para entre 2% e 3% no próximo ano.

PREÇOS
Os efeitos da crise sobre os preços são controversos.

Produtos importados, como bebidas, alimentos, roupas e eletroeletrônicos provavelmente sofrerão reajustes.

Já as mercadorias de fabricação nacional devem ter pouco ou nenhum aumento, porque o crédito ao consumidor está escasseando e a desaceleração da economia reduzirá a demanda.

Segundo estudo da Arsenal Investimentos, o efeito de contaminação da inflação pela valorização do dólar será pequeno devido ao desaquecimento, ao ambiente macroeconômico estável, à política monetária previsível e à administração das expectativas pelo governo e pelo Banco Central.

BOLSA DE VALORES
A forte depreciação do mercado acionário tornou muitas ações baratas, na avaliação dos analistas. Dessa forma, o mercado de ações pode ter boas oportunidades para serem garimpadas. O problema é que ninguém pode afirmar até quando a crise internacional seguirá afetando a Bolsa.

Mais do que nunca, o investidor deve lembrar que investir em ações é arriscado. E que o retorno do investimento pode levar um tempo mais longo para se concretizar. "Para quem tem propensão ao risco, pode ser um momento para entrar, desde que seja um percentual não significativo do patrimônio e um dinheiro reservado para investimento de risco. Bolsa é investimento de longo prazo", diz a consultora Sandra Blanco.

FGTS EM AÇÕES
Quem aplicou parte do FGTS nas ações da Petrobras ou da Vale pode estar bem assustado com as últimas perdas. A recomendação dos analistas é não mexer no dinheiro aplicado nos fundos de ações criados com capital do FGTS. Além de o retorno das contas do FGTS ser muito baixo, não há por que as ações de Petrobras e Vale se manterem em níveis tão baixos quanto os atuais. A ação ordinária da Vale está com desvalorização de 51,94% no ano; já a da Petrobras tem queda um pouco menos intensa, de 42,36%.

INVESTIMENTOS
Para quem tem dinheiro novo e quer se manter distante do risco da Bolsa, procurar aplicações que rendem juros pode ser uma boa opção. Os CDBs têm se mostrado bastante atraentes, pois os bancos têm elevado os juros pagos. Além disso, os CDBs não cobram taxa de administração. Os títulos públicos, que podem ser comprados via Tesouro Direto, são outra opção.

Os fundos DI também têm sido apontados como uma escolha interessante, pois os juros ainda podem subir e melhorar o retorno da categoria. Para o administrador de investimentos Fábio Colombo, "os fundos DI não correm o risco da oscilação das taxas e seguem a política de juros do Banco Central".

CÂMBIO E VIAGENS
Neste momento de turbulência, ninguém se arrisca a fazer previsões para o dólar.

Por isso, consultores aconselham o turista que estava planejando viagens internacionais a reavaliar a decisão.

Quem ainda não comprou a passagem deve fazê-lo. Os preços de pacotes tendem a subir.

Já a moeda para gastos no destino pode ser comprada em pelo menos três parcelas, o que aumenta as chances de conseguir um preço mais razoável. Outra opção é colocar o dinheiro em um fundo cambial, sem se importar com o rendimento, afinal a intenção é apenas acompanhar a flutuação das cotações. Dívidas no cartão de crédito devem ser evitadas.

NOVAS DÍVIDAS
Em época de crise, as prestações de qualquer financiamento costumam subir. Os juros agora estão em seu maior patamar do ano. Para Marcos Crivelaro, professor da Fiap, quem esperar um pouco pode conseguir taxas melhores.

O maior risco na hora de entrar em uma dívida é depois não ter como pagá-la. Quem assume uma dívida tem de medir o risco de perder o emprego ou uma parte considerável da sua renda. Para Jurandir Sell Macedo, da UFSC, é melhor economizar em momentos de crise. "É melhor evitar dívidas e aproveitar a crise para economizar o valor das prestações. Aplique o dinheiro, aproveitando os ótimos juros do momento. Após a crise, terá como comprar à vista."

PAGAR DÍVIDAS
Os juros do cartão de crédito e do cheque especial sobem em épocas de crise, acompanhando o aumento das taxas do Banco Central. De acordo com o consultor Marcos Crivelaro, da Fiap, são essas dívidas que devem ser priorizadas no orçamento. "Até porque o cartão e o cheque especial têm as maiores taxas do mercado."

Para Crivelaro, a pessoa que tem dinheiro na mão só não deve pagar uma dívida que tenha um juro menor do que aquele que consiga em uma aplicação financeira, o que quase nunca acontece. Por exemplo, não faz sentido colocar o dinheiro na poupança rendendo 0,6% ao mês se a dívida corre a 2%. "Livrar-se de dívida é a melhor coisa para fazer com o 13º salário", afirma o consultor.

IMÓVEIS
Quem pretende comprar um imóvel deve ficar atento à evolução dos preços e das condições de financiamento. Os juros estão em seu maior nível no ano e podem voltar a cair em 2009. Já o preço dos imóveis pode, inclusive, subir se a crise estimular a procura por ativos reais. Segundo Jurandir Sell Macedo, da UFSC, é mais provável que os preços caiam. "É melhor esperar. Muitas pessoas podem precisar se desfazer de imóveis rapidamente e você pode aproveitar alguma barbada se tiver dinheiro na mão", disse.


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