|
Texto Anterior | Índice
Analistas financeiros dão dicas para proteger o bolso na turbulência
Conselho é redobrar cuidados no planejamento e evitar decisões por impulso
DENYSE GODOY
FABRICIO VIEIRA
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O desequilíbrio que começou
no setor imobiliário americano
e acabou contaminando o mercado financeiro internacional
já se faz sentir no Brasil.
Foi primeiro afetado, no país,
quem tem dinheiro aplicado na
Bolsa de Valores ou em fundos
de investimento -as turbulências têm tirado a tranqüilidade
de quem comprou ações. A Bovespa recuou 44,26% neste ano
e o dólar disparou 30,22%.
Há algumas semanas, as empresas nacionais começaram a
sofrer dificuldades para conseguir crédito, e essa falta de financiamento para projetos levará a crise a se espalhar, atingindo empregos e a renda da
população.
Para atravessar um período
complicado como este, os especialistas recomendam que os
orçamentos familiares sejam
mais austeros, com decisões de
consumo e de investimento
bem pensadas. Segundo eles, é
difícil prever por quanto tempo
as incertezas vão se estender,
mas com um bom planejamento será possível enfrentá-las
com menos danos.
MUNDO REAL
Nos últimos anos, o Brasil
aprimorou sua economia, efetuando diversos ajustes, como a
redução da sua dívida e a acumulação de US$ 208 bilhões nas
chamadas reservas internacionais.
Mesmo assim, não está imune à crise. Segundo os especialistas, o país deve sofrer um
pouco menos que outros.
As empresas vão cortar investimentos e projetos, o que
deve levar a um desaquecimento do mercado de trabalho, com
menos contratações e eventuais demissões.
Por ora, não há motivo para
pânico. De cerca de 5,5% em
2008, a economia brasileira deve desacelerar para entre 2% e
3% no próximo ano.
PREÇOS
Os efeitos da crise sobre os
preços são controversos.
Produtos importados, como
bebidas, alimentos, roupas e
eletroeletrônicos provavelmente sofrerão reajustes.
Já as mercadorias de fabricação nacional devem ter pouco ou
nenhum aumento, porque o crédito ao consumidor está escasseando e a desaceleração da
economia reduzirá a demanda.
Segundo estudo da Arsenal
Investimentos, o efeito de contaminação da inflação pela valorização do dólar será pequeno
devido ao desaquecimento,
ao ambiente macroeconômico
estável, à política monetária
previsível e à administração
das expectativas pelo governo e pelo Banco Central.
BOLSA DE VALORES
A forte depreciação do mercado acionário tornou muitas
ações baratas, na avaliação dos
analistas. Dessa forma, o mercado de ações pode ter boas
oportunidades para serem garimpadas. O problema é que
ninguém pode afirmar até
quando a crise internacional
seguirá afetando a Bolsa.
Mais do que nunca, o investidor deve lembrar que investir
em ações é arriscado. E que o retorno do investimento pode levar um tempo mais longo para
se concretizar. "Para quem tem
propensão ao risco, pode ser um
momento para entrar, desde
que seja um percentual não significativo do patrimônio e um dinheiro reservado para investimento de risco. Bolsa é investimento de longo prazo", diz a
consultora Sandra Blanco.
FGTS EM AÇÕES
Quem aplicou parte do FGTS
nas ações da Petrobras ou da
Vale pode estar bem assustado com as últimas perdas. A
recomendação dos analistas é
não mexer no dinheiro aplicado nos fundos de ações criados com capital do FGTS.
Além de o retorno das contas
do FGTS ser muito baixo, não
há por que as ações de Petrobras e Vale se manterem em
níveis tão baixos quanto os
atuais. A ação ordinária da
Vale está com desvalorização
de 51,94% no ano; já a da Petrobras tem queda um pouco
menos intensa, de 42,36%.
INVESTIMENTOS
Para quem tem dinheiro novo
e quer se manter distante do
risco da Bolsa, procurar aplicações que rendem juros pode ser
uma boa opção. Os CDBs têm se
mostrado bastante atraentes, pois os bancos têm elevado os juros pagos. Além disso,
os CDBs não cobram taxa de
administração. Os títulos públicos, que podem ser comprados via Tesouro Direto,
são outra opção.
Os fundos DI também têm
sido apontados como uma escolha interessante, pois os juros ainda podem subir e melhorar o retorno da categoria.
Para o administrador de investimentos Fábio Colombo,
"os fundos DI não correm o
risco da oscilação das taxas e
seguem a política de juros do
Banco Central".
CÂMBIO E VIAGENS
Neste momento de turbulência, ninguém se arrisca a fazer
previsões para o dólar.
Por isso, consultores aconselham o turista que estava planejando viagens internacionais a
reavaliar a decisão.
Quem ainda não comprou a
passagem deve fazê-lo. Os preços de pacotes tendem a subir.
Já a moeda para gastos no
destino pode ser comprada em
pelo menos três parcelas, o que
aumenta as chances de conseguir um preço mais razoável.
Outra opção é colocar o dinheiro
em um fundo cambial, sem se
importar com o rendimento, afinal a intenção é apenas acompanhar a flutuação das cotações.
Dívidas no cartão de crédito devem ser evitadas.
NOVAS DÍVIDAS
Em época de crise, as prestações de qualquer financiamento
costumam subir. Os juros agora
estão em seu maior patamar
do ano. Para Marcos Crivelaro, professor da Fiap, quem
esperar um pouco pode conseguir taxas melhores.
O maior risco na hora de entrar em uma dívida é depois não
ter como pagá-la. Quem assume
uma dívida tem de medir o risco
de perder o emprego ou uma
parte considerável da sua
renda. Para Jurandir Sell Macedo, da UFSC, é melhor economizar em momentos de crise. "É melhor evitar dívidas e
aproveitar a crise para economizar o valor das prestações.
Aplique o dinheiro, aproveitando os ótimos juros do momento. Após a crise, terá como comprar à vista."
PAGAR DÍVIDAS
Os juros do cartão de crédito
e do cheque especial sobem em
épocas de crise, acompanhando
o aumento das taxas do Banco
Central. De acordo com o consultor Marcos Crivelaro, da Fiap,
são essas dívidas que devem ser
priorizadas no orçamento. "Até
porque o cartão e o cheque especial têm as maiores taxas do
mercado."
Para Crivelaro, a pessoa que
tem dinheiro na mão só não deve pagar uma dívida que tenha
um juro menor do que aquele
que consiga em uma aplicação
financeira, o que quase nunca
acontece. Por exemplo, não faz
sentido colocar o dinheiro na
poupança rendendo 0,6% ao mês
se a dívida corre a 2%. "Livrar-se
de dívida é a melhor coisa para
fazer com o 13º salário", afirma o consultor.
IMÓVEIS
Quem pretende comprar um
imóvel deve ficar atento à evolução dos preços e das condições
de financiamento. Os juros estão em seu maior nível no ano
e podem voltar a cair em
2009. Já o preço dos imóveis
pode, inclusive, subir se a crise estimular a procura por
ativos reais. Segundo Jurandir Sell Macedo, da UFSC, é
mais provável que os preços
caiam. "É melhor esperar.
Muitas pessoas podem precisar se desfazer de imóveis rapidamente e você pode aproveitar alguma barbada se tiver dinheiro na mão", disse.
Texto Anterior: Roger Agnelli: Proposta contra o desmatamento Índice
|