|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DÓLAR ADORMECIDO
Estabilidade da moeda faz procura por hedge cair de US$ 359 mi para US$ 147 mi entre junho e outubro
Cai busca de proteção cambial por empresas
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A procura por hedge (proteção
contra a variação cambial) caiu
59% de junho a outubro, segundo
dados da BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros).
O total de contratos de hedge
das empresas, que no final de junho somava US$ 359 milhões,
chegou a US$ 147,2 milhões no final de outubro.
Com a maior estabilidade do
câmbio, as empresas estão preferindo abrir mão da proteção para
se livrar do alto custo dessas operações -15% ao ano sobre o valor contratado.
Hedge cambial é uma operação
pela qual se compra a moeda
americana no mercado futuro a
uma taxa definida. Esse tipo de
proteção é usado por quem tem
dívidas a pagar ou créditos a receber em moeda estrangeira, por
importadores e por exportadores.
Eles normalmente temem uma
forte oscilação do dólar, que pode
afetar suas receitas ou despesas.
Por isso vão à BM&F e fazem um
contrato em que fica definido que
pagarão pelo dólar uma cotação
numa determinada data.
Uma empresa que, por exemplo, tenha importado um lote de
mercadorias no ano passado com
o dólar a R$ 2,30 e só tenha quitado a importação três meses depois, quando o dólar estava a R$
3,45, amargou um prejuízo de
50%. Se ela tivesse feito uma operação de hedge para seus contratos em moeda estrangeira, teria
evitado ou reduzido tal perda.
Já os exportadores atuam na posição contrária. Temem que o dólar recue ante o real e eles recebam
menos pelos produtos exportados. Portanto vendem um contrato de câmbio a uma taxa determinada para "travar" (proteger) a
taxa de câmbio em que fecharam
seus contratos de exportação.
Se o dólar vier a cair, estarão
protegidos; se subir, terão de cobrir a diferença na BM&F. Mas,
como receberão mais em reais
por suas exportações do que o valor contratado, zerarão as contas.
Nos últimos meses, exportadores aumentaram suas operações
na BM&F. Suas posições no mercado futuro de câmbio subiram
32% entre junho e outubro.
"Comprados"
Já a posição dos importadores e
devedores em dólar encolheu
substancialmente nos últimos
meses, superando o movimento
contrário dos exportadores. Isso
indica que essas empresas não temem uma subida do dólar.
Os contratos de compra de dólar futuro caíram 45,7% de junho
a outubro na BM&F. De US$
419,8 milhões em junho, o movimento encolheu para US$ 227,8
milhões no final de outubro. O
número de contratos caiu 54%
"Com a menor volatilidade [oscilação] do câmbio, as empresas
alegam que não vale a pena carregar os altos custos dessas operações", diz Wolfgang Walter, da
corretora Souza Barros.
Segundo ele, atualmente esse
custo é de 15% ao ano sobre o valor da operação. Walter afirma
que é possível reduzir essa taxa a
6% ao ano com operações que
usam instrumentos mais baratos,
como as opções de dólar futuro.
Na taxa de 15% estão incluídos
os custos da BM&F e o "spread",
cobrado por bancos e corretoras
para montar uma operação de
hedge. No ano passado, o
"spread" cobrado pelos bancos
(diferencial acima da taxa da
BM&F) chegou a 7% ao ano. Hoje
varia de 4% a 5% para empresas
de porte médio e de 1% a 2% para
as grandes. Nas corretoras, as taxas oferecidas podem ser a metade desse percentual.
Na opinião de Jorge Knauer, gerente de câmbio do banco Prosper, as empresas com dívidas em
dólar deveriam aproveitar o atual
momento de calmaria e recuo do
"spread" para se proteger de futuras oscilações.
O problema, segundo Walter, é
que as empresas brasileiras não
têm uma cultura de proteção
cambial. "Elas desmontam as
operações quando a volatilidade
cai -e o o custo da operação fica
mais barato- e correm atrás do
hedge nos momentos de turbulência, quando acabam pagando
mais pela proteção", observa.
No mercado internacional, o
hedge é um hábito. Segundo pesquisa do International Swaps and
Derivatives Association, 92% das
500 maiores empresas do mundo
usam derivativos para proteger-se de riscos e, dessas, 85% os utilizam para administrar o risco de
variação cambial.
Texto Anterior: Painel S.A. Próximo Texto: Opinião econômica: Passando do limite Índice
|