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São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2003

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DÓLAR ADORMECIDO

Estabilidade da moeda faz procura por hedge cair de US$ 359 mi para US$ 147 mi entre junho e outubro

Cai busca de proteção cambial por empresas

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A procura por hedge (proteção contra a variação cambial) caiu 59% de junho a outubro, segundo dados da BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros).
O total de contratos de hedge das empresas, que no final de junho somava US$ 359 milhões, chegou a US$ 147,2 milhões no final de outubro.
Com a maior estabilidade do câmbio, as empresas estão preferindo abrir mão da proteção para se livrar do alto custo dessas operações -15% ao ano sobre o valor contratado.
Hedge cambial é uma operação pela qual se compra a moeda americana no mercado futuro a uma taxa definida. Esse tipo de proteção é usado por quem tem dívidas a pagar ou créditos a receber em moeda estrangeira, por importadores e por exportadores.
Eles normalmente temem uma forte oscilação do dólar, que pode afetar suas receitas ou despesas. Por isso vão à BM&F e fazem um contrato em que fica definido que pagarão pelo dólar uma cotação numa determinada data.
Uma empresa que, por exemplo, tenha importado um lote de mercadorias no ano passado com o dólar a R$ 2,30 e só tenha quitado a importação três meses depois, quando o dólar estava a R$ 3,45, amargou um prejuízo de 50%. Se ela tivesse feito uma operação de hedge para seus contratos em moeda estrangeira, teria evitado ou reduzido tal perda.
Já os exportadores atuam na posição contrária. Temem que o dólar recue ante o real e eles recebam menos pelos produtos exportados. Portanto vendem um contrato de câmbio a uma taxa determinada para "travar" (proteger) a taxa de câmbio em que fecharam seus contratos de exportação.
Se o dólar vier a cair, estarão protegidos; se subir, terão de cobrir a diferença na BM&F. Mas, como receberão mais em reais por suas exportações do que o valor contratado, zerarão as contas.
Nos últimos meses, exportadores aumentaram suas operações na BM&F. Suas posições no mercado futuro de câmbio subiram 32% entre junho e outubro.

"Comprados"
Já a posição dos importadores e devedores em dólar encolheu substancialmente nos últimos meses, superando o movimento contrário dos exportadores. Isso indica que essas empresas não temem uma subida do dólar.
Os contratos de compra de dólar futuro caíram 45,7% de junho a outubro na BM&F. De US$ 419,8 milhões em junho, o movimento encolheu para US$ 227,8 milhões no final de outubro. O número de contratos caiu 54%
"Com a menor volatilidade [oscilação] do câmbio, as empresas alegam que não vale a pena carregar os altos custos dessas operações", diz Wolfgang Walter, da corretora Souza Barros.
Segundo ele, atualmente esse custo é de 15% ao ano sobre o valor da operação. Walter afirma que é possível reduzir essa taxa a 6% ao ano com operações que usam instrumentos mais baratos, como as opções de dólar futuro.
Na taxa de 15% estão incluídos os custos da BM&F e o "spread", cobrado por bancos e corretoras para montar uma operação de hedge. No ano passado, o "spread" cobrado pelos bancos (diferencial acima da taxa da BM&F) chegou a 7% ao ano. Hoje varia de 4% a 5% para empresas de porte médio e de 1% a 2% para as grandes. Nas corretoras, as taxas oferecidas podem ser a metade desse percentual.
Na opinião de Jorge Knauer, gerente de câmbio do banco Prosper, as empresas com dívidas em dólar deveriam aproveitar o atual momento de calmaria e recuo do "spread" para se proteger de futuras oscilações.
O problema, segundo Walter, é que as empresas brasileiras não têm uma cultura de proteção cambial. "Elas desmontam as operações quando a volatilidade cai -e o o custo da operação fica mais barato- e correm atrás do hedge nos momentos de turbulência, quando acabam pagando mais pela proteção", observa.
No mercado internacional, o hedge é um hábito. Segundo pesquisa do International Swaps and Derivatives Association, 92% das 500 maiores empresas do mundo usam derivativos para proteger-se de riscos e, dessas, 85% os utilizam para administrar o risco de variação cambial.


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