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LUÍS NASSIF
Quem manda é o gerente
Há setores no governo
empenhados em pensar a
chamada agenda positiva para
o próximo ano. Mas qualquer
discussão tem que partir da definição da chamada missão de
governo ou da política econômica. No caso, a missão consiste em melhorar o nível de vida
da população, por meio de medidas que criem um clima propício ao desenvolvimento com
pleno emprego.
Para atingir esse objetivo, há
que reduzir vulnerabilidades
que possam colocar o crescimento em xeque. Uma delas é
a vulnerabilidade externa. Outra, a dívida interna -que
consome recursos públicos e
privados que deveriam se destinar ao desenvolvimento. Postas essas premissas -que são
pontos básicos de qualquer política econômica em qualquer
tempo-, todas as ações de governo devem convergir nessa
direção.
Como não existe essa definição -nem no governo FHC
nem agora-, cada ministério
ou secretaria define a sua prioridade, a sua tarefa, sem se
preocupar com as implicações
de seus atos para o conjunto total da economia.
Por exemplo, a dinâmica de
crescimento da dívida interna
é explosiva. Deveria ser variável fundamental de análise para cada decisão de política monetária.
No entanto a tarefa que o
Banco Central se outorgou foi
exclusivamente o monitoramento da inflação. Nos tempos
dos Gustavos Loyola e Franco
no Banco Central, quando indagados sobre as consequências da política monetária sobre o ajuste fiscal, a resposta
era que dívida interna era problema do Tesouro.
De sua parte, a Receita Federal toma uma série de medidas
que massacram a economia,
aumentam a carga fiscal, provocam recessão. Mas sua "missão" é meramente aumentar a
arrecadação.
Cria-se um círculo infernal
em que o destino de cada área
da economia fica sob a responsabilidade de pessoas, muitas
em nível de gerência ou com
cabeça de gerente, sem visão de
conjunto, sem estatura para
promover mudanças.
O Copom (Comitê de Política
Monetária do Banco Central) é
um exemplo típico desse pensamento burocrático. São cinco
pessoas incumbidas de definir
um indicador que mexe com a
vida de todo o país. Não apenas interfere na atividade econômica como em variáveis-chave para a estabilidade -a
dívida interna e a vulnerabilidade externa. São pessoas com
formação de mercado, escassa
informação sobre o mundo
real, nenhum senso de responsabilidade em relação a qualquer tema que não seja o controle da inflação.
No domingo, "O Globo" publicou uma obra-prima sobre o
pensamento "cabeça de planilha". Segundo a reportagem,
Lula e o próprio ministro da
Fazenda, Antonio Palocci Filho, perceberam o excesso de
conservadorismo do Copom
para reduzir os juros e indagaram do presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles, se
não seria possível reduzir os juros para 19%. Com a segurança
de um presidente do BC alemão, Meirelles teria respondido que em 19% a ata seria
subscrita por todos os membros
do Copom. Se fosse para 18,5%,
não haveria unanimidade, o
que poderia inquietar o mercado. E o argumento colou!
É como se todo o planejamento estratégico de uma empresa fosse subordinado à visão do gerente financeiro.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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